terça-feira, 28 de setembro de 2010

O UAU e o UÓ (do borogodó) dos anos 2000


O fim de 99 foi marcado pelo medo do BUG do milênio, uma pane que supostamente daria um tiuti (para usar o termo técnico apropriado) nas redes de tecnologia que contavam com o sistema binário de dados (li isso em algum lugar, não sei o que significa assim, de verdade).
Acho que isso não aconteceu, aconteceu?

Se em 1990 era legal parecer viciado em heroína, tal qual Kurt Cobain e Kate Moss (eles não só pareciam) com aquele estética deprê-pálida-infeliz, o ano 2000 saiu da noite, da boite e veio para o dia, para o colorido, para o mar e no Brasil, para a zabumba.

UAU eram as Raves, festas que resgataram uma estética lisérgica e uma concepção de comportamento dos anos 60 e 70 com a tecnologia na música e os corpos talhados pelas academias e suplementos alimentares dos anos 2000.
Uma lenda urbana conta que o inventor do Atari (empresa responsável pela popularização dos vídeo-games especialmente na década de 80) profetizou que as gerações que jogaram vídeo-games iriam fazer festas em florestas coloridas ao som de música eletrônica... ou ele acertou ou alguém inventou isso para dizer das influências que a geração-vídeo-game sofreu, vale pelas duas hipóteses, a profética e a antropológica.

UAU era ir pra pista (dance floor) usando calças jeans de cintura baixíssima, o que nos ofereceu 10 anos de calcinha, pneu e cofrinho aparecendo.

A moda da década foi uma visão grupal de mulheres puxando calças pra cima e blusas para baixo, dando um pulinho na hora da puxada antes de sentar, uma beleza!

Como os espartilhos modelaram cinturinhas anos a fio, a calça de cintura baixa fez um novo corpo em 10 anos, dividiu a mulher brasileira em 3 partes. A de baixo- pernas até metade do quadril, na altura dos ossinhos, a do meio- dos ossinhos da bacia até a cintura verdadeiramente dita (e completamente negligenciada), e a de cima- umbigo pra cima, tronco, braços e cabeça.

A parte 2 foi o trunfo conquistado por uma geração de mocinhas que apertaram suas barrigas bem no meio por um cós jeans, o que lhes rendeu uma curiosa silhueta de boneco Michelin reduzido (na melhor das hipóteses) com a pochete natural provinda desde a altura da marca da cesárea (algumas calças apelaram) até o umbigo.

A moda surf fincou estacas de mãos dadas com um monte de bandas de reggae e de forró. Foi-se o tempo em que meu irmão brincava comigo: “O que que tá tocando?” a resposta era sempre Jack Johnson (ou Ben Harper), e os sonhos pairaram sobre ganhar na mega sena e virar amigo do Kelly Slater (eneacampeão mundial de surfe) para tocar violão na varanda da casa dele em O`ahu (se eu fosse inventar um nome de cidade no Havaí eu inventaria esse mesmo!).

UÓ foi a revista Forbes eleger a Britney como a celebridade mais poderosa do mundo, sem imaginar as magistrais enfiadas de pé na jaca que a mocinha que se dizia virgem (aos 19 years old) daria nos anos posteriores.

UAU era celular com foto! UAU era a internet, MSN, Orkut.
UÓ (e UAU também vai, porque foi divertido!) era definir a si mesmo por comunidades do Orkut, tipo:

“Odeio acordar cedo”
“Porto Seguro semana do saco cheio 99- Eu fui!”
“Ou me pega de jeito ou não pega”
“Eu não sei você, mas eu arraso!”
UAU era La Bündchen mostrando para o mundo o que que a baiana tem.
UAU foram filmes brasileiros ganhando prêmios internacionais (Central do Brasil, Cidade de Deus),UÓ era falar que não gosta de filme brasileiro.

UAU na cozinha eram homens fazendo risotos de coisas estranhas, côco, tintura de polvo e tamarindo e como sobremesa, a grande estrela do milênio: o petit gateau, presente em todo e qualquer cardápio (graças aos céus).

UÓ era falar que não sabe nem fritar um ovo- benhé, essa moda passou lá nos anos 70, isso não pega bem em grupo algum, independente da religião, ideologia ou direcionamento político.

Mas o UÓ mesmo foi o início da série contagiosa e irrefreável dos BIG BROTHER e as desculpas imperdoáveis que milhões de brasileiros se deram para poderem ficar um pouco menos interessantes, menos informados ou menos descansados (porque dormir já é melhor que votar no Ban Ban)!

(to be continued)
Por Cocobelle
Foto do Universo Paralelo- festival de 5 dias que acontece no final do ano- reveillon- na praia de Pratigi, BA- Brasil

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O UAU e o UÒ (do borogodó) dos 90


Já pensaram que faz 20 anos que aconteceu o ano de 1990?
E 10 anos desde que a esperada chegada do ano 2000 se foi?

Pode não parecer muito nas nossas lembranças (se você nasceu em 1989 parece sim, muito!), mas não só nas passarelas, como nos restaurantes, festinhas, e rodinhas por aí as coisas mudaram muito.

Ah que refrescante uma reflexão dessa, bem estereotipada, politicamente incorreta, daquelas que inspiram as carolas do bom comportamento a dizerem:
“Não se pode estereotipar as coisas, tem que se respeitar os gostos individuais, é um absurdo que continuem a nos dizer que é certo e errado, o que é bonito ou feio!”... me desculpem meigas guardiãs da liberdade e da não-massificação, não é pelos seus brados retumbandes que o feio deixará de ser feio e o que é elegante, luxuoso e chique deixará de ser incrível.
Então vamos lá, mãos a obra:

Os anos 90 trouxeram para a moda um minimalismo clean, em contraposição à exuberância (assustadora) dos anos 80 com seus cabelões com permanente, repicados, batons cor-de-rosa, colãs e ombreiras.

A Kate Moss chegou desbancando as super tops Claudia Schiffer e Cindy Crawford, se antes o legal era fazer aeróbica com a Jane Fonda, o Nirvana, a Kate Moss e a Calvin Klein fincaram uma nova estética, modelos magérrimas, pálidas, sem maquiagem, o Kurt Cobain com aquele ar melancólico e high de heroína, coisa que levou mesmo a sério, quando se suicidou (há controvérsias) em 1994, em decorrência do vício.

Algumas campanhas publicitárias da Calvin Klein foram proibidas por terem sido consideradas como incentivadoras do uso de drogas, uma delas foi uma na qual aparecia a Kate Moss desacordada no chão de um banheiro.

UAU era usar calça fuseaux ou camisa xadrez, seguindo a moda grunge vinda das bandas de Seatle, ouvindo Nirvana e sofrendo com a voz doída do Kurt: “My girl, my girl, don't lie to me Tell me where did you sleep last night”,
borrifar-se com CK One e se deliciar com as novas sorveterias por quilo, tinha acabado a dor de ter que se contentar só com a cobertura que o sorveteiro colocava no Sunday, ou no Colegial!!!

Em 1991 o clipe do Michael Jackson, Black or White, foi transmitido simultaneamente para 27 países para uma audiência estimada em 500 milhões de pessoas. O vídeo também ficou famoso por mostrar na televisão uma das primeiras metamorfoses geradas em computador. Macaulay Culkin participou e era o queridinho do cinema por “Esqueceram de mim”.

Foi lançado o Nintendo e todo mundo se rendeu ao Super Mario- quem foi o figura que inventou um encanador como astro de Vídeo-Game? Com o plano real a inflação baixou e por algum tempo o real equiparou-se ao dólar, haja brasileiro indo pra Miami e era um tanto de calça Levis 501 que não acabava mais.
E a overdose de rúcula com tomate seco...deu tempo de se recuperar?
(to be continued)
Por Cocobelle

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Criança tem cada uma!


Era uma vez uma criança corinthiana (CçCor), filho de um pai corinthiano.
Estava ele uma tarde acompanhando a mãe na academia quando avista um jovem fazendo movimentos de subida e descida com o tronco.
A criança- cientista como toda criança- pára e observa.
Não tendo encontrado em sua extensa memória de 4 anos de idade o significado de tal coisa, recorre à sua mãe (chip de memória externo).
CçCor- Mãe, o que aquele moço está fazendo?
Mãe- abdominal
CçCor- O que é abdo...nimal?
Mãe- (rs) é um exercício para não ficar barrigudo, para perder a barriga.
A CçCor olha, olha, pensa.
CçCor- Mas mãe, ele não é barrigudo, porque ele tá fazendo isso?
Mãe- (rs) é para não ficar barrigudo.
A criança corinthiana fica lá olhando, refletindo seriamente enquanto a mãe se distrai conversando com um professor que passava.
Depois de árdua reflexão o corinthiano mirim lança:
CçCor- Mãe, porque o Ronaldo não faz isso? Ele devia!
Ai ai, o Ronaldo fazer abdominal?
Criança tem cada uma.
(em homenagem ao centenário do Timão)
Por Mirabelle versão Gaviões da Fiel

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Coming home


Sempre considerei frases do tipo:

- Nasci na época errada;
- Eu morei não-sei-onde na minha outra vida;
- Eu deveria ter nascido na...(China, França, Austrália etc)

Uma grande babaquice.
Babaquice proveniente de sentimentos esnobes de pessoas que se consideram dignas de pertencer àquele lugar que segundo seu modismo do momento, é LEGAL.

O lugar da moda difere segundo o grupo, idade e ambiente de convívio do sujeito.
Os da yÔga (tem que falar o Ô como em vovÔ para ser da turma) têm a Índia como ambientação de suas vidas passadas, os do surf juram que deveriam ter nascido no Havaí, ou na Austrália, adolescentes que acabaram de descobrir a maconha e o Jimi Hendrix choram por não terem ido ao Woodstock e todos os adeptos dos cristais-gnomos-Alto Paraíso- terapia de vidas passadas- e- afins declaram que foram guerreiros nas cruzadas ou uma princesa que morreu jovem a espera do seu amor (ou alguém já viu alguém fazer regressão e voltar contando que foi um açougueiro em sua mais recente encarnação-antes-dessa?).

Enfim, eu pensava que essa identificação com qualquer outro lugar que não o seu, era somente uma fuga alucinada e maníaca de pessoas descontentes por residirem em lugares tão cheios de glamour e história quanto Sorocaba, Pato Branco ou Louveira.

Pode ser que muitas dessas frases venham de modismos.
Mas existem mesmo lugares nos quais a gente chega e tem a impressão de pertencer mais àquilo do que à casa onde crescemos. Lugares novos, até então desconhecidos que conversam com partes nossas tão intimamente como se fossem amigos desde a segunda série (ou será de outra encarnação?).

Pode ser um país, uma poltrona, um sotaque, uma certa luz que dá a sensação de ter voltado pra casa.

Conheço uma pessoa que se sente em casa em todos os lugares onde têm onda, surfar é estar em casa. Essa mesma pessoa se sente em casa em um castelo medieval e num seringal (é, essa pessoa é meio estranha!).
Outra pessoa se sente em casa no Ceará e em todo lugar onde o sol escancara e colore tudo de amarelo-luz ou onde tenha um bom Milk-shake de chocolate (o bom é aquele no qual o canudo não afunda).

Era fim da tarde de fim de agosto, chovia uma chuva fina e fazia mais frio que os dias anteriores, uns 9 ou 10 graus. A moça da recepção de certo hotel em Praga, baixinha e ruiva, com um inglês formal e cheio de arestas apresenta uma biblioteca, dizendo que fica aberta 24 horas.

Uma sala de tamanho médio, toda aconchegada em carpete, estantes, papel de parede e cortinas. Janelas que começam no quadril e acabam no teto, paredes grossas como um armário. Presos nas laterais das estantes, pequenos abatjours estendem ao redor de si uma auréola mais clara, mas permitem que carpete, estofado e cortina guarde um tanto de luz para si, deixando o ambiente âmbar e gentil.
Nas prateleiras, livros recheados de palavras formadas por letras unidas de forma surpreendente: százszor, szükség, különbözö.

Tudo é verde e vermelho, verde e vermelho sérios, senhores, não aquele verde jovem, aberto, tagarela, um verde que lê, sentado, fumando cachimbo. A cortina pesa pra baixo. Algumas poltronas em xadrez.

Nessa biblioteca que era toda idosa (o hotel era de 1897), toda em uma língua absolutamente estranha, me senti em casa.

Pensei nos ambientes claros e abertos, clean, minimalistas, brancos, com pés direito de 3 metros presentes em todas as revistas de decoração no Brasil e fiquei com frio.

Quando criança, eu pedi em alguns natais uma biblioteca, como a que a Bela ganha da Fera (no desenho da Disney). Eu não fui uma princesa tcheca na minha outra vida. Mas conheci a biblioteca que mais se parece com a que morava dentro de mim e eu nem sabia.

Por Mirabelle

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

The sound of silence


Sabe-se que quem tem enxaqueca precisa de silêncio e de ficar no escuro.

No mínimo isso parece uma necessidade de uma pessoa chatinha, frescurenta, daquelas que tem dor de cabeça com música alta e muita luz (péssima companhia para uma boate).

Uma experiência de dor tão estranhamente caprichosa que exige o silêncio e pouca luz para fora ficar parecido com dentro.

Não sei se toda dor tem o mecanismo de apagar a luz de dentro, dos olhos, da fome, da voz, da vontade. Essa dor tem. Como se um simples dia de sol se tornasse uma Rave em Las Vegas. Luzes e sons em intensidades ofuscantes.

Como disse Freud, toda filosofia sucumbe no buraco de um molar que dói.

Doer por alguma razão é sacrifício- sacro- ofício, pelo menos assim imagino a dor do parto, de uma ferida de guerra, da recuperação de uma cirurgia, que salva a vida. E até, fazendo um esforço, daquelas pessoas que se penduram em ganchos, elas devem ver algum sentido naquela dor (espero que vejam).

E a dor só? Só dor, sem nenhuma razão, sem objetivo maior ou mais nobre se não escurecer? Porque a enxaqueca dói no negativo, no vazio, no escuro. Não é dor de gritar, dor que sai pra fora, que esparrama, que desbrava, anuncia.
É dor que encolhe, que escurece, e se se dorme, não é para um sono com sonho, um sono positivo que contém coisas, cores, histórias. É um sono negativo, só o contrário de estar acordado, sem nenhuma qualidade especial, só o fundo de algo que, visto do outro lado, é abaulado.

Acho que Simon and Garfunkel não falaram sobre isso na música deles, mas bem que parece uma boa metáfora pra essa dor:

Hello darkness, my old friend,
I've come to talk with you again
Por Mirabelle