segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Presentear (continuação texto anterior)




3-Fuja do óbvio




Se você fugir do presente óbvio já vai dar o recado que pensou mais que as outras pessoas para presentear.
Os presentes óbvios são, para mulheres: blusinhas, perfumes, cremes, sabonetes, bijouterias. Para homens: camisetas, gravatas, CDs, vinhos.
Mas nada disso é óbvio se para aquela pessoa em especial O vinho, ou A camiseta do time que ele gosta tiver um sentido pessoal e único. Todo presente ganha ares especiais dependendo da maneira que é escolhido e dado. Você pode dar um vinho e não dizer nada, ou você pode escolher um vinho e se lembrar de uma viagem recente que seu amigo fez à Itália e dizer isso, que é um vinho italiano para que ele se lembre da viagem que fez, você fez um presente banal virar um presente único, mostrando ao seu amigo que se lembra da viagem que ele fez e escolheu um presente pensando na pessoa única que ele é.
Uma maneira muito legal de fugir do presente óbvio e comprar presentes enquanto está viajando!
No mundo globalizado de hoje a gente está encontrando quase tudo em todo lugar igual, o que, na minha opinião, é uma facilidade, mas deixa o mundo um pouco mais chato (e made in China). As coisas que você acha em shoppings por todo o Brasil são praticamente as mesmas e as grandes marcas são as mesmas no mundo inteiro. Mas se você está viajando e vê alguma coisa que acha que uma amiga, sua sogra, primo, marido vai gostar e é algo único daquele lugar, compre! Mesmo que não esteja perto da data do aniversário ou natal, guarde e dê depois! (só não esqueça e compra mais um monte de coisas até lá). Toalhas de feirinhas de Fortaleza, porta-passaporte com imagens do Rio que você só encontra em lojinhas do Rio, objetos decorativos em barraquinhas em Cuzco no Peru, enfim, itens mais artesanais e únicos são especiais e faz a pessoa presenteada saber que você lá longe lembrou dela.

4-Escolha algo que tenha relação com algum interesse único da pessoa. Algum interesse que seja da vida inteira, ou algum recente;

Ao invés de dar um sabonete para uma amiga ou uma camiseta para seu primo, pense no que ele ou ela vem se interessando recentemente. Ela começou um curso de fotografia? Ele está de namorada nova e está animado na cozinha? Não é muito mais delicado e interessante uma panela nova ou uma coleção recém editada de um fotógrafo sobre o qual você leu em alguma revista?

5- Imagine o que poderia ser muito útil e a pessoa nunca compraria;
Esse é o presente “Steve Jobs”: a pessoa não sabe o que precisa até você mostrar pra ela!
A pessoa ganha, na hora ela agradece, mas não dá muita bola, porque ela não sabe, mas você sabe, que vai ser muito, muito útil. E quando ela for usar uma duas, três mil vezes, ela vai ficar te agradecendo.
Esse presente requer extrema sensibilidade para conhecer quem se vai presentear. Exemplo: um namorado vivia perdendo todas as suas coisas mais importantes, carteira, celular, óculos, porque ele tinha três aparelhos celulares, duas caixinhas de óculos, uma carteira e sempre mais alguma coisa na mão que ele ficava carregando de lá pra cá às vezes numa bela sacolinha plástica de supermercado. A namorada observadora, deu de natal uma espécie de bolsa de couro, demorou para ela encontrar algo que ela achasse que ele pudesse usar sem parecer uma bolsa de mulher.




Os melhores presentes que eu já vi (dei ou recebi)

Em tempos de vacas magras + história + muito carinho. Família.
Em um natal uma tia minha fez um livrinho simples, xerocado e encadernado em gráfica comum (nada mandado fazer pela internet com fotos, editado como livro, nada disso), com receitas da Tia Sofia, uma tia velinha que cozinhava muito bem. Nesse livrinho tinham receitas de muitas pessoas da família, bolos, cocadinhas, massas de pão, ao lado de algumas receitas está escrito a ocasião ou da onde ela é conhecida na família: Bolo do casamento da Tia Mô, “Bolo de nada” etc...
Dá trabalho. $

Melhor amiga
No meu aniversário de 18 anos minha amiga mais próxima desde que tínhamos 9 anos fez um livro, pintado à mão por ela, com fotos nossas desde excursões da escola, passando por bilhetes que trocávamos na aula, cartões postais de viagens, letras de músicas, até fotos da formatura do terceiro colegial.
Esse dá um trabalhão, são anos de vida e não existe jóia mais preciosa que essa.
Dá muito trabalho. $

Para toda pessoa
Livro. Dar um livro que a pessoa goste de ler é SEMPRE um presente especial. Se a pessoa gosta de ler e você tem a sensibilidade de apresentar à ela um ator que ela não conhece, é um acontecimento! Esse não é apenas um presente, é como se você apresentasse pessoas que podem se tornar grandes amigos. Eu sou uma leitora voraz, mas acredito que isso valha da mesma maneira para a música.
Não dá trabalho. $$

Presente extreme makeover
Fazer uma “reforminha”. Eu e meu irmão em um natal passado demos a sala de TV de presente para a nossa mãe. Não! Nós não refizemos paredes, nem compramos TV. Compramos uma colcha e almofadas. A sala de TV era uma bagunça estética, colcha dos colchões que faziam as vezes de sofá de uma cor, almofadas de outra, parede de outra. Escolhemos uma colha que combinava com a parede e almofadas em tons semelhantes, trocamos o tapete com outra sala e o quadro de outro ambiente. A sala, um dos ambientes favoritos da casa, ficou mais aconchegante, em tons de azul acinzentado, calmo e fresco. O + legal é arrumar o ambiente e não dar apenas a colcha e as almofadas!!
Dá trabalho. $$$$

Clássico de amor
Uma jóia em um jantar de reconciliação de amor.
Não dá trabalho pra escolher. Mas esse momento pode ter dado todo o trabalho de um coração. $$$$

Ps. Todo presente ganha um upgrade para a primeira classe quando acompanhado de um cartão! Receita rápida para o cartão: relacione a data em questão, sua relação com a pessoa e o presente.
Ex: aniversário. Amiga. Livro.
“É um alegria para mim estar em mais um aniver seu! Que as palavras da Clarice te acompanhem nesse ano e que seja um ano de muito amor!!”
Tudo tem que ser de verdade, do coração, e de novo, fuja do óbvio! Nada de "sucesso, tudo de bom, felicidades", se não, você vai parecer uma tia distante qualquer.


É dessa maneira que dar presentes se torna algo divertido e acaba aproximando as pessoas. O natal na minha família é sempre esse momento em que, mesmo que durante o ano os primos não se falem muito, é o momento da troca através dos presentes. Como está o curso? Você leu o livro? Gostou? Me empresta? Mas atenção! Presente não é obrigação. No momento em que você deu, a pessoa é livre para fazer dele o que bem entender, não a obrigue a usar, nem a cobre por isso, isso é extremamente indelicado. Quando encontrar da próxima vez o amigo a quem presenteou com um livro, não pergunte se ele já leu, aguarde que ele venha comentar com você, caso contrário, vai parecer que você está cobrando o “feedback” do presente.

Dica de quem ganha o presente: SEMPRE abra-o na hora e comente o que achou. Nada mais indelicado do que deixar o pacote embrulhado e a pessoa que teve todo esse trabalho aqui (acima descrito) sem saber se te agradou.

Presentear é elegante, demonstra cuidado, gentileza e preocupação da sua parte para com quem está sendo presenteado.
Acho que sempre devemos levar algo na casa de quem estamos indo conhecer pela primeira vez, algo para a decoração ou uma flor, mas nada ostensivo.
Deve-se sempre dar presentes em aniversários, mesmo quando a ocasião for informal e quando se vai conhecer o bebê de uma amiga ou amigo.



Mas assim como é deselegante a falta, o excesso também o é, por isso é importante saber medir o valor do presente, para que não se pareça esnobe.
E ATENÇÃO, CUIDADO!! Mesmo que você tenha aprendido a ser uma pessoa educada e elegante, observe as suas relações e lembre-se da máxima popular: não dê pérolas aos porcos, existem pessoas no nosso convívio, amigos ou familiares que não merecem presentes especiais, bem pensados como esse manual indica, caso a etiqueta sugira que você tenha que presentear mesmo assim essa pessoa, reserve uma lembrancinha, que presentear com carinho e cuidado não é fazer caridade por quem não se tem apreço, se você fizer isso por obrigação, vai se sentir mal.


Bom Natal!!



Por Cocobelle

domingo, 18 de dezembro de 2011

Presentear

Então é Nataaaallllll

Você com certeza já ouviu, se já passou pela adolescência ou tem algum amigo que ficou preso no discurso João Gordo/ curso de humanas, IFICH (filosofia Unicamp) ou fefeleche (humanas USP) que o Natal é uma invenção capitalista, que o papai Noel é uma figura criada com as cores da Coca Cola e blá blá blá... essas pessoas ou estão treinando os discursos panfletários recém aprendidos ou elas os utilizam porque não conhecem o gosto de PRESENTEAR.

Presentear alguém não é mera invenção capitalista (me desculpem Marxistas de plantão), dar um presente exige muito mais que dinheiro e shopping. Muito, Muito mais.

Dar um presente exige tempo, espaço mental para o outro dentro de si, da cabeça, do coração muito mais do que no bolso.

Dar um presente começa antes de ir às compras, se esse for o caso. Começa-se pensando, começa aí também a razão para tanta gente odiar dar presente!
Quando os enfeites de natal aparecem, acendem dentro de mim luzinhas de idéias de presentes.

Parece coisa antiga e démodé, mas a verdade é que estão ressurgindo por aí muitos manuais, nos tempos da pós-modernidade, em que se diz que o que há de UAU é não haverem regras pra nada, a verdade é que estão voltando os manuais de etiqueta, de moda, de comportamento, e eu estou achando divertido!
Vamos então ao Manual dos Presentes, porque não???

Dar presente dá um qüiproquó danado, um mal-estar que dura muitos natais, dar um presente caro e ganhar uma lembrancinha... dar uma bolsa luxuosa pra sua mãe e ver sua empregada no ano seguinte com a dita-cuja...

Existem várias formas de presentear:

-Com orçamento ilimitado- Fácil de agradar, não exige imaginação. Raro de acontecer. (Quem não amaria uma jóia da Tiffany ou um carro? Vai falar que não??)

- Com orçamento limitado- Mais interessante. Exige imaginação.

1- Pensar no que a pessoa gostaria de receber- Presente ideal. Exige se colocar no lugar do outro, pensar em que momento da vida a pessoa está- Requer maturidade emocional, empatia, gentileza, tempo, tranqüilidade. Ou anos luz de psicoterapia.

2- Pensar o que EU quero dar- costuma acontecer quando o presenteador quer “arrumar” o presenteado. Relação mãe-filho, namorada -namorado, esposa-marido (às vezes se faz necessário). Ou na pior das hipóteses, quando o presenteador só gosta de dar o que gosta sem pensar no outro (Famoso: “Narciso acha feio o que não é espelho”).

3- Presente feito pelo presenteador- muito especial- requer talentos pessoais. (Ganhar um bolo, um livro de fotos, um quadro pode valer mais que uma jóia)

Vamos às receitas:


1- Imaginar ou investigar o que a pessoa quer e gosta; (NUNCA o que ela PRECISA)

Para isso é importante conhecer bem quem se presenteia ou perguntar à alguém próximo da família, um amigo a quem se tenha acesso à mãe ou marido por exemplo.
NUNCA dê de presente o que a pessoa PRECISA, isso é CHATO de ganhar.
O que a gente PRECISA, a gente COMPRA!
Imagina ganhar a persiana que impeça o sol de bater no seu computador... nada mais importante... e mais chato! Ganhei uma velinha perfumada de uma marca francesa que adoro, ficou linda no lavabo, nada mais desimportante... eu nunca compraria. Amei!

2- Observe as lojas que a pessoa frequenta, ou melhor, as que ela adora e nas quais não costuma comprar;


Ganhar presente serve para a gente ganhar aquilo que, no geral, não compraria.
Se a pessoa a quem você vai presentear é caprichosa e tem marcas favoritas ou algumas lojas pelas quais tem preferência, mas não costuma comprar, vai ser MUITO fácil agradar.
Não precisa comprar um item que custe caro, por exemplo, se é uma loja de sapatos, e você não pretende dispender esse valor, escolha um item mais em conta, um cinto por exemplo. As pessoas que tem preferência pela marca não se importam com o item, mas com a qualidade, com a cores, pelo que a idéia daquela loja representa. A pessoa que segue tendências de moda e acompanha as coleções, se sentirá agraciada e conquistada pela sua delicadeza em compreender isso, não importa quão simples seja o item que você escolheu, essa escolha vale muito mais do que dar, por exemplo, um vestido de qualidade duvidosa que a pessoa pode não usar.
Isso vale também para os homens, muitos homens tem suas lojas preferidas, o que não significa que você precisa presentear com um blaser ou uma camisa, peça que extrapola o orçamento que você reservou para o presente, mas pode escolher uma carteira da loja que sabe que a pessoa gosta. Novamente esse presente é melhor do que dar uma peça de roupa de preço igual e qualidade inferior.


(continua...)


Por Cocobelle

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A gata e o homem-barco



A gata era gata não por atributo de beleza, mas porque se enroscava, e miava. Tinha uma casa colorida, com bolinhos que cresciam no forno de boneca deixando tudo com cheiro de açúcar.
O homem-barco tinha um sofá coberto com uma manta, coisas que sempre estavam no mesmo lugar em cima da mesa e um quadro, não pendurado na parede, com uma camisa de time de futebol dentro.

A gata era mulher-lugar, o homem navegava e se encostou ao lado dela.

Ela não sabe se era porque ele a chamava de gatinha que se enroscava daquele jeito no pescoço dele. E enroscava que nem gato se enrosca, passando por baixo da perna e esticando pra encostar, fazendo carinho em si mesma. De noite era bom de acordar só pra tocar qualquer parte nele, o lado do pé, o ombro.

E ele era grande como um barco, homem-lugar onde ela queria ficar, suspirava pra si mesma, para sempre. Achava que nunca ia cansar (ele tinha medo que ela enjoasse) daquela conversa silenciosa entre as peles deles.

E que nem gata que acorda e se aconchega girando no mesmo lugar, ela fazia no peito dele, como se coubesse inteira, encolhida ali. Ali onde dava vontade de sorrir, e ele vivia perguntando o porquê ela ria, pensando que ela escondia algum segredo, mas nada era secreto no sorriso, era um sorriso de contente de quem acha um lugar que tem um cheiro tão bom que dá vontade de rir.

“Coisa de bicho mesmo isso parece”, pensava ela, quando fazia os bolinhos matutando que ele nem devia achá-la bonita assim, perto das outras mulheres, que ela bem sabia, ele também chamava de gatinhas.

A gata tinha montado sua casinha com fotos e tapetes, almofadas de borboleta e lixeiras de rosa, abtjours e velas. Era um lugar pronto para se chegar, visitar, e quem sabe ficar. O homem-barco atracou ali na casa-da-manta-no-sofá por acaso, veio navegando sem saber a direção, ele diz que perdeu sua bússola numas tempestades por onde passou. Nessas tempestades ele deixou outras coisas também, que ele não sabe direito, mas lhe fazem grande falta.

A gata mudou e trouxe sua casa dentro dela, ela chegou e a casa foi saindo e se ajeitando pelas paredes e pela varanda do lugar novo. Ela sabe que casa não é lugar fora, parede de tijolo, madeira e tinta, mas lugar dentro que se leva aonde se vai.

O homem-barco não trouxe a casa dele dentro, deixou n´outro lugar, ele ainda não sabe (ou tem medo de) ir buscar. A casa dele é que faz falta, porque sem casa-dentro não se tem lugar onde acomodar as visitas quando elas chegam. Mas a gata encontra uma almofada no peito dele, e fica ali, quentinha.

A gata queria falar pra ele que o que ela gostaria, o que ela deseja mesmo é que ele possa ir buscar o coração e trazer pra perto, e assim quem sabe encontrar o caminho pra casa no sorriso dela.



Por Mirabelle


(Post re-postado, original de 10/fev/2010)


segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Uma Velha Nova história



O Rafinha Bastos já disse que:
- Mulher feia que reclama que foi estuprada devia agradecer e que isso não é crime, é oportunidade;
-Mulher não devia amamentar em público... blá blá blá alguma barbaridade acerca dos mamilos maternos,
- Ele, no meio de uma piada falou que a mulher do dono da Rede TV (Daniela Albuquerque) era cadela e se desculpou depois, porque “não era uma mulher qualquer”. Vejam só, se fosse, podia ser cadela;
- A última bestialidade do moçoilo foi dar o último tiro no pé: “Eu comia ela e o bebê”, sobre a Wanessa (ex Camargo), grávida de 5 meses.

Acabo de ler que ele foi afastado definitivamente do CQC depois de seu colega de bancada Marco Luque ter apoiado a revolta expressa pelo marido de Wanessa (Marcus Buaiz- não que esses nomes importem tá? Só pra acompanhar as news) e de Ronaldo, este que sempre se mostrou parceiro do CQC.

A conversa entre homens foi mais ou menos essa: “eu, como pai, entendo e apóio a revolta e a indignação do Marcus Buaiz, um homem que conheço e respeito. Se fizessem uma piada com esse contexto sobre a minha família, certamente ficaria ofendido.”
Alguém notou algo de estranho?
Alguém percebeu que nada foi falado acerca do desrespeito à Wanessa? À mulher? À mãe?
Homem. Família. Pai.
O Rafinha Bastos ofendeu aos homens e agora sim os homens fizeram alguma coisa para nos poupar de mais absurdos que esse cara viesse a falar.

E mais um estranhamento. Ou só eu estranhei? Porque o marido dela falou alguma coisa? Ligou para o amigo que ligou para o jornalista? Uma mulher adulta, independente, profissional, que é ofendida e desrespeitada dessa maneira, não diz nada?

Que homens como Rafinha Bastos corram pelo mundo, como macacos soltos em uma plantação de bananas, eu até entendo. Foi muito tempo (não tenho certeza do tempo verbal) do homem livre e soberano no seu poder. Mas me pego pensando no outro lado, em um preocupante, obscuro, fugidio e escondido. O meu, o nosso.

As minorias violentadas nos seus direitos, ofendidas, agredidas nunca tiveram seu espaço oferecido pelos seus agressores, elas sempre tiveram que brigar por ele. Me pergunto de que maneira a mulher brasileira não faz isso.
E não faz isso bem de mansinho, bem disfarçadinho, sendo agredida sempre, de leve e de perto. Silenciosa e recolhida na falsa mini saia, no biquíni fio-dental mostrando tudo e velando a passividade e o sorriso de moça boazinha.

O Rafinha Bastos é um exemplo aumentado do que acontece em toda e qualquer rodinha de amigos, e quase nenhuma mulher se posiciona, assim como a Wanessa não disse nada.

Sou uma mulher que tem amigOs e amigos de longuíssima data, o que me permite um acesso ao mundo masculino que me diverte e me oferece a chance de ouvir histórias e experiências quase como um deles, um “Joh” (como diz um amigo de mais de 20 anos), e eu me pego escutando causos de mulheres, de pegadas, de amantes, de namoradas, de motel, de bagunças, de brochadas, de desilusões, de alegrias. E escuto entre curiosa, divertida e quase orgulhosa, de saber que não são todas as mulheres que tem a cadeirinha do camarote para olhar esse mundo assim, pela fresta da fechadura da confiança de tantos anos de amizade. Me divirto com as imagens das bundas e bocas e paixões e reclamações de cremes da Victoria Secret... mas algo acontece se eu cometo o erro fatal de achar que posso contar alguma coisa minha, simplesmente se cometo a gafe imperdoável de supor, de sequer imaginar que eu, mulher, tenho o direito de, no meio de homens, dividir alguma experiência...

-Ah Fulana... não acredito que você vai falar isso pra mim... não quero escutar ah não...

Aqueles homens, que tão confortavelmente me contavam suas histórias sentem-se ameaçados (ela vai falar de outro homem... buuuuu óóó- aahh amigos, homens, como vocês de ameninam com suas vaidades agigantadas, medindo com suas réguas imaginárias rivais que nem são seus) ressentidos, me olham com uma mistura de medo que logo tratam de transformar em julgamento, em condenação e PLAU lançam mão de alguma agressãozinho gratuita e incômoda... como fez Rafinha Bastos.

A melhor defesa é o ataque.



Mas as mulheres não se defendem, se calam, são agredidas sempre, em rodinhas em que leves toques de machismo aparentemente inofensivos são misturados na cerveja e em sorrisos amistosos.

“Ahhhh porque mulher gosta mesmo de dinheiro né?”

Nós meninas, brasileiras, crescemos ouvindo que temos que nos dar ao respeito, e não aprendemos que respeito a gente oferece a todo mundo, independente do comprimento da saia.

Não vou ser mais amiga de quem não respeita gente, de quem ofende, de quem agride. Não gosto de quem violenta gratuitamente, em especial minorias historicamente agredidas.

E cansei desse jeitinho brasileiro de fazer pizza com o que importa, com o que é sério, a clássica cordialidade dos panos quentes.
Rafinhas Bastos não são mais meus amigos, porque dignidade a gente não negocia mais.

Por Mirabelle




Leiam o Post no Escreva Lola Escreva


"Rafinha suspenso do CQC por ofender gente que importa"



segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O Mundo e os seus 2 únicos problemas


Tenho uma amiga psiquiatra que, de verdade, resolveu meus problemas, não em consultas e de jaleco, mas numa mesa de bar. Resolveu não, reduziu, dissolveu, minimizou e separou o mundo de forma simples e didática.

Quero compartilhar com vocês a TEORIA DOS 2 TIPOS DE PROBLEMA.

Eu sei que quando a gente fala assim já vem as amigas da USP, psicólogas falando: iiii não vai falar que você leu O Segredo??
Não! Não é do Segredo, não é auto-ajuda barata de botequim.
Abram seus coraçõezinhos.

Existem 2 tipos de problemas No Mundo:

- O problema do TIPO 1 e
- o problema do TIPO 2

O problema do TIPO 1: MEU PROBLEMA.
O problema do TIPO 2: SEU PROBLEMA.

Eu sei, eu sei, parece bocó, parece simplório, parece besta. Mas venham comigo aos exemplos e façam após essa leitura o exercício besta de tentar pensar nos 2 tipos de problemas nas + diversas situações que te acometerem com um vendedor de loja, com seu namorado/a, com uma amiga, com a sua mãe e com seu chefe.

Vendedor das Casas Bahia- Você discute o preço do fogão e o cara acha que você tem cara de otário e fala que o preço deles é bom pra caramba, você fala que leva o fogão se ele fizer o preço a vista em 10 vezes. “Aaaah aí eu vou ter que falar com o meu gerente.” “Então fala”. O cara fala, volta e claro que diz que pode fazer isso, com aquela discursinho que ta te fazendo o maior favor do mundo. Você agradece, fala que ta dando uma olhada e diz que se decidir volta para procurá-lo, pede um cartão com o nome dele e se prepara para sair.
Vendedor- Mas você volta em uns 15, 20 minutos?
PLIM
Ou você se vê obrigado, pelo vendedor das casas Bahia (Meu Deus, pelo ven-de-dor-das-ca-sas-Ba-hi-a), voltar no tempo que ele estipulou;
Ou, caso você não tenha uma natureza tão boazinha ou submissa, você sente um mal estar do cara tentar te impor um limite de tempo para um desejo DELE.
OU... você pensa nos 2 TIPOS DE PROBLEMA.
Ele quer que você volte- Vamos lá tiurma! Chamada oral: Qual tipo de problema é esse? Tipo 1 ou tipo 2? Tipo 2, problema dele! Então, com isso em mente você pode ser educada, elegante e não se irritar e responder:
Eu não sei em quanto tempo eu volto!
Legenda: esse problema é seu!

Se com o vendedor das Casas Bahia esse tipo de coisa acontece, com as relações + próximas e importantes esse tipo de confusão entre o que é meu e o que é do outro acontece com + força, + potência e causa grandes furdúncios.

Entre amigos, amantes, família, as pessoas fazem o tempo inteiro o jogo (sempre inconsciente) de enfiar no outro a responsabilidade de cuidar do que não lhe cabe.

Quando se fala em 2 tipos de problema, em "cada 1 no seu quadrado", pode se dar a impressão de certa frieza e egoísmo nas relações. Pelo contrário.
Só se pode estar junto quando se está separado.
Não existe estar-junto quando se está misturado com o outro/ no outro.

As mulheres, culturalmente criadas para serem boazinhas, submissas ao desejo do outro, são as rainhas de confundir tudo.

Uma amiga: não vou sair com ele porque ele quer alguma coisa a mais e eu não.
O cara quer alguma coisa com você.
De novo tiurma: Que tipo de problema é esse?
Problema do tipo 2. Problema dele.
Pensando assim ela pode sair com o cara, leve, livre de ter que se encarregar em dar conta do que ela imagina que ele quer. No fim da noite o problema do tipo 2 pode se tornar do tipo 1, se o cara for interessante e souber levar a conversa, se não, na “pior” das hipóteses, os 2 podem ter ganhado um novo amigo/a.

Parece bobagem, mas saber onde acaba o eu, e onde começa o outro é trabalho para uma vida.

Não é não, cara pálida???

Por Mirabelle

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Sobre o Dom Capoeira e a Miss Universo



Ir ao Poupatempo refazer RG pode ser tudo, menos uma economia de tempo. Ainda bem que, como alienígena recém-chegada, ainda consigo achar alguma graça nos aprendizados antropológicos do dia a dia. Por exemplo, observar o ir e vir dos senhores que ainda usam chapéu, um prazer secreto. Nas quatro horas que passei lá (uma e meia das quais em pé numa fila, esperando que chegasse minha bendita vez), pude dedicar-me a outro de meus passatempos favoritos: roubar histórias para saboreá-las e recontá-las depois.

Estou lá sentadinha no meu banco (e no de outros mais de dez neguinhos) quando se instala a meu lado um senhor bem apessoado, moreno, charmoso até, com seus 50 e tantos anos e cabelo grisalho. O senhor começa a falar no celular e eu, discretmente (que feio!), espichei a orelha e fiquei ouvindo. Eu e a torcida do Flamengo, diriam alguns, naquela densidade de umas 10 pessoas por metro quadrado. Mas confesso que coloquei mais atenção no telefonema do que mandaria a cortesia.

- Então, Leonardo. Mede o ângulo, dispara o temporizador e guarda a medição pra mim. Isso vai dar umas 17 estacas.

- ...

- Não, não. Tô meio aperreado aqui no Poupatempo, acho que daqui a umas três horas eu consigo sair. Mas olha, daqui uns dois meses vou ligar pra você que vai ter trabalho lá na construtora. Estão precisando de topógrafo e assistente de topógrafo. É. Vão fazer um condomínio, compraram uma área de 500 mil metros. Vai ter trabalho para uns dois anos.

- ...

- Você não sabe da última. Sabe que o patrão queria me mandar pro Amapá? É, Amapá. Disse que ia me pagar seis contos. Limpos. Mas pra que eu vou querer ir pra lá se não está ruim aqui? Tá louco que eu vou deixar a minha mulher? Só tenho uma só, a única que Deus me deu, como é que eu vou largar ela assim! É ruim, hein?
- ...
- O Tiago? O Tiago ganha quatro mil. Ele tá lá, fazendo as coisas dele em Autocad. Eu? Hmmm. Eu ganho três e quatrocentos. Mas é que eu não sei Autocad, só sei de terreno. Mas você fica tranquilo que lá na construtora vai ter trabalho pra você, você é minha primeira opção. Quanto você tá ganhando aí? Novecentos contos? Tá louco! Eu consigo subir você pra mil e seiscentos. Como assistente de topógrafo. Lá eu mando em tudo, mando em todo mundo, até no patrão!

- ...

- Hein? Não, claro que eu não mando no patrão. Mas ele tem muita confiança em mim. É muito bom de trabalhar lá.

O sujeito desliga, olha pra mim, faz aqueles comentários básicos sobre os trocentos números que ainda temos na frente (eu, uns trinta; ele, uns sessenta), se sente à vontade e como gostei da eloquência dele vou dando corda. Ele morde a isca:

- Faz três dias que tô enfiado aqui tentando renovar o RG. Fiquei nessa fila toda [uma filha de 1h só para chegar na triagem], aí eu tinha esquecido o xerox, fui fazer a cópia e tive que entrar na fila de novo. Agora ainda por cima vou ter que responder um processo criminal, acho que vai demorar mais.

Eu arqueio as sobrancelhas. Puxa, é mesmo?

- É, faz três meses dois sujeitos chegaram assim para me roubar, um deles enfiou a mão no meu bolso, pegou a carteira com vinte e cinco reais e o RG e saiu correndo. O outro estava com uma arma. Eu sou capoeirista. Bom, era. Mas no que ele se distraiu assim um pouco para ver o outro correr, eu girei e ataquei ele, quebrei costela, quebrei braço, enchi o cara de porrada, peguei a arma dele e rendi ele, aí comecei a chamar um policial que estava ali perto e não tinha visto nada.

Ou fingindo que não tinha visto, acrescento. E ainda digo: O senhor viu que bonito, ontem no concurso da Miss Universo saíram uns capoeiristas na abertura, apesar de ser tudo coreografado, estava bonito.

- É. Faz muitos anos que eu jogava capoeira, agora não luto mais, mas a gente não esquece, não, continua sabendo. Então tive que fazer BO e agora estou sendo processado. Porque quando você sabe caratê, kung fu ou alguma arte marcial, eles consideram como se você tivesse uma arma. Mas não vou pegar cadeia nem nada, não. Só vou ter que ir lá dar explicação.
Aí ele me conta algumas façanhas de sua vida de macho capoeirista anterior, uma briga no forró mais de quinze anos atrás quando foi jurado de morte por três figuras, outra em que a parentela de Marília ficou com ciúmes porque ele paquerou uma moça bonita e quis partir pra porrada.

- É que eu sou um cearense arretado. Eu sei dar uns dois, três golpes letais. Mas está proibido usar em roda de capoeira. Senão, você mata o amigo. Hoje eu sou da paz, não quero confusão, sou um servo de Deus.

E assim tive minha aula de geopolítica popular particular e pude atualizar o sistema operativo para (re)encontrar algumas conclusões. De que o país realmente tá bombando no setor da construção civil (profissionais, aproveitem antes de que a bolha estoure). E a lentidão das burocracias e da máquina pública, aumentando. De que a vítima do assalto acaba processada pela incompetência da polícia e o malandro continua solto. E de que as igrejas evangélicas continuam arrebanhando fiéis. Tudo isso regado a forró e capoeira, mais verde-e-amarelo, impossível.

Conclusões muito fáceis e superficiais, eu sei, eu sei, mas que de alguma forma têm um pé na nossa realidade.

São perfeitas, isso sim, para você continuar a conversa com aquele pai do seu amigo que veio reclamar da corrupção no governo. Agora tenho lamúrias fresquinhas e atualizadas, vivenciadas em primeira mão.

Darling Darling, happy to be back to Brazil.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Ninguém + vê TV

(e outras Revoluções)



Nas últimas 10 conversas, com 15 amigos diferentes, no almoço de família. Falamos sobre O Facebook. Eu sonhei com o Marck Zuckerberg semana passada tal a Ica que eu tava do Face.

Se você estava achando que o problema era só seu, que as séries estavam ficando sem graça, que você tava preferindo comer qualquer coisa rapidinha e que sua cabeça passou a funcionar com a introdução:


“No que você está pensando agora?”, não se preocupe, você não está sozinho.


Todo mundo se condena no começo, critica os outros, tem a turma dos “não tenho tempo pra isso” (esses são os que não tem Iphone ou Blackberry), a turma das psicólogas bionergéticas: “eu prefiro o contato humano autêntico e verdadeiro” (essas são as que não tem Iphone ou Blackberry) e tem o resto do mundo que entendeu que ou usa. Ou usa.
Piadinha infame sobre o uso da ferramenta da tecnologia nas redes sociais- Sabe como se faz sexo com um urso? Do jeito que ele quiser!



E assim a gente vai, updating nosso jeito de se relacionar há 2 minutos, há 4 horas, há 16 horas... e se você ainda acha que isso aqui não é pra valer, amiga, amigo, é porque ainda não chegou a sua vez de querer escrever em letras garrafais aquelas mensaginhas estranhas: "Pague minhas contas e ganhe o direito de cuidar da minha vida..."
Você ainda não teve vontade de gritar isso no Mural de alguém?
Espere, aguarde a sua vez.


Frase célebre (e pouco elegante, como não poderia deixar de ser) dos tempos áureos da facul, “Quem tem cú tem medo”, update 2011- Quem tem Face tem medo.


Ou você ainda não terminou um relacionamento com alguém que tenha um Perfil? Ou começou um? Pense bem, logo mais isso não vai ser a exceção. Aguarde, e veja se vai resistir a ver TODOS OS DIAS o que a pessoa postou, as fotos das viagens e dos finais de semana dela, e o mais ardido, instigante e dolorido, o que as outras postam no Mural dele.
E a ex louca que acha que você está escrevendo em mensagens cifradas só pra ela entender?


Não mencionando todos os contatos profissionais e blábláblá, não tem o que discutir os ganhos e proveitos de um espaço onde tem email, vídeo, foto, aliás, andei notando um acontecimento interessante, os emails na minha caixa de entrada se reduziram aos do meu avô, da minha tia e aos do DVDs de aprenda a dançar com Carlinhos de Jesus (fora os de trabalho).

Ah Zuckerberg, guardasse essa idéia pra você e seus amigos nerds, o que você fez com a gente?


Ninguém + vê TV (nem manda email).


Ou tem alguma série que consegue ganhar do Big Brother em tempo real das pessoas da sua própria vida? Que revolucionário deixarmos de ser expectadores sentados no sofá para nos tornarmos anfitriões, personagens e autores da mídia virtual.

Não existe + solidão no trânsito, você encontra um amigo que não vê há 6 anos numa festa de aniversário e: “Eu vi as suas fotos em Barcelona, como foi a viagem?”.



A intimidade e a privacidade terão que ser revistas em novos termos.


E eu não vou acabar escrevendo que a voz e a pele são os contatos que realmente importam porque Jesus, já tem gente sem Iphone e Blackberry o suficiente pra falar isso!

Aliás, uma pesquisa com certeza paga por essas duas empresas garante que quem tem esses dois aparelhinhos faz X % + sexo que as pessoas que não tem, então amigos nostálgicos, se a questão é de voz e de pele, se adiantem!

Mas anyway, aproveitando a onda das atualidades, estou lançando, com minhas sócias Paris Hilton e Lindsay Lohan a mais nova casa de Rehab e Detox do momento.

Facebook Rehabilitation, para os que já reduziram as horas de sono em mais de 4 horas por causa da ferramenta, os que passaram a comer só comida requentada no microondas (pirigando estar estragada), os que aumentaram a dose de ansiolítico porque não sabem não responder aos amigos que pululam online para conversar, aos que saíram pra beber por ter sido excluído do perfil de alguém. Os que postaram + de 3 vezes na semana frases com sentidos homônimos aos "Caralho, vai cuidar da sua vida!"


Deixe seu Iphone/Ipad e seu Blackberry na entrada, pegue sua dose de Rivotril e venha para as sessões de terapia em grupo falar:


“No que você está pensando agora”.

Por Mirabelle
Funciono por Facebook/ SMS/ bbm/ WhatsApp Messenger

sábado, 3 de setembro de 2011

Dançar com você


De manhã minha vontade de calor não é suficiente pra apressar o quente a chegar antes.

Acordo depois de lanche de madrugada com ainda mais fome, porque é fome de outra coisa, que não se mata com comida, no matter quanto x-burger com batata frita, Milk shake e pizza requentada.

Fome de volta de balada. É aquela fome que a gente vê criaturas devorando lanches na madrugada, uma fome que mistura chapa de padaria, vodka, queijo, cimento, cerveja e fumaça (mas na hora nem parece ruim). A fome-de-outra-coisa, fome de algo que se foi procurar e não achou e voltou com menos nome, no negativo, dando fome. A barriga voltou mais vazia do que foi, roncando, exigente, nervosa. Estranho que come-se isso, cheio de maionese, e vai se emagrecendo. Provavelmente pelo poder desnutritivo calórico que vai consumindo outras coisas por dentro.


A voz da Vanessa da Mata, que é tão de manhã, que dá vontade de andar descalça e amarrar o cabelo (aquele cabelo) com uma flor de chita, e fazer suco de manga, e lavar a louça que ficou na pia. Ainda bem que tem ela pra explicar essa fome que continua a roncar a barriga depois de um lanche que você nunca comeria na sua dieta normal.

“Fico desejando nós gastando o mar”

E esse frio que não vai embora?


It feels like years since it's been here.

A voz dela alaranja o ar, e vai dando palavra para a fome que silencia um pouco o barulho que a barriga faz, revolta e exigente por algo (que agora você sabe que não se trata de comida, e talvez que não seja a barriga).

Não é fome não, é outro espaço vazio, desocupado. É vontade de dançar, mas vontade de dançar que não se mata dançando em qualquer lanchonete, vontade de dançar caprichosa, seleta, exclusiva, esfomeada.


“Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você”


(Amado- Vanessa da Mata)


+ um pouquinho de Vanessa da Mata
"Vem
Que eu sei que você tem vontade
Que eu sei que você tem saudade de mim
Antes que haja enfermidade, que eu não me recupere mais
"


Por Mirabelle




(Foto de Dane Shitagui, fotógrafa havaiana que fotografa bailarinas em NY)

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Poderosa

A maioria dos que já estiveram em feiras hippies, em raves e os viajantes viajeiros que passaram por qualquer Chapada (dos Veadeiros, Diamantina, Guimarães), ou por Arraial, Caraíva, Maromba, Itaúnas, enfim, muitos dos lugares lindos do Brasil se depararam com o que restou dos hippies, movimento que virou o pessoal da Nova Era na década de 90, uns poucos participaram das raves no começo. Esse pessoal fala a mesma coisa, sobre o calendário Maia, o dia fora do tempo, e todo aquele papo de conexão com a natureza e tal e blá e pá. Junto com os intelectuais do calendário Maia tem os que mostram os “trampo” sempre iniciando a conversa com o famoso “Olá que tal?”

Pra ser sincera sempre morri de preguiça dessa gente toda, apesar de respeitar as crenças de toda e qualquer pessoa, um amigo querido dizia que acredita e respeita até a crença no monstro do lago Ness. Não duvido que minha especial preguiça com esse pessoal provenha de umas lembranças infantis da minha mãe levando a mim e ao meu irmão para ver disco voador e nada, nada, falando que a gente tinha que mastigar o tal do arroz integral com gersal 30 vezes.

Dizem que por causa do solo rico em cristal a Chapada dos Veadeiros em especial concentra um certo tipo de energia, aí vem todas as histórias de discos voadores e todas as idéias esvoaçantes a esse respeito. Mas enfim...procurando um lugar para comer em Alto Paraíso eu e um amigo em tom jocoso brincávamos com os nomes dos estabelecimentos comerciais batizados pelos proprietários com os pronomes reveladores das crenças locais, tais como: Aquarius, Cristal Lilás, Alquimia e por aí vai.

Mas, você acorda e pela manhã vai por estradinhas que fariam Van Gogh trocar a Provence pela Chapada, tais as cores daquele lugar, a poeira de talco é de um marrom rosa que sobe no carro, na boca, nas árvores retorcidas do cerrado e em uma quebra da estrada um ipê amarelo florido brilha as florzinhas que parecem que vão sair voando no azul mais profundo que o céu já fez.

Caminhando por um canyon alto você mergulha e a pele quente arrepia na água fria, vai boiando na corrente que te leva por vezes mais rápido, em outras curvas mais devagar até uma prainha de areia e a brincadeira de criança grande de água gelada com sol quente deixa a gente alegrinha com esse brinquedo que Deus inventou e deixou ali, vazio, sem ninguém, só pra você e pra ele. E sem perceber você se sente grata.

Só porque é sábado depois da pizza tem lua cheia e você sobe em um morrinho e acaba pensando que a lua nunca esteve tão perto e sem nenhuma religiosidade especial dá vontade de rezar e de chorar, e dá pra entender o que antes parecia uma brincadeira, dá vontade de ter uma filha e chamá-la de Lua Lilás (ou Morena). E esses pensamentos não parecem seus, parecem só se manifestarem em você porque você está ali, entre a lua e o chão.
A Chapada não te faz sair se preparando para o que o calendário Maia diz sobre o fim do mundo em 2012, te faz pensar na poderosa mudança.

Contra todas as suas crenças, quando você se vê de ponta cabeça, trocando aquele filme que todo mundo fala que “tem que ver” por uma cerveja, quando troca dormir bem por dormir mal, quando fala o que antes não ousava dizer, quando acha um porre aquele filme alemão em preto e branco e se percebe achando as pessoas criaturas interessantíssimas e pára para conversar, por causa da lua e da água não dá pra negar uma Poderosa Presença.


Quando você entende o que desgostava e vai se tornando um pouco do que criticava, pensa na

Poderosa Chapada.

E só para não sair do clima... eu prefiro seer essa metamorfose ambulante...

Por Mirabelle

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Goodbye

Há alguns anos, na faculdade, uma pergunta surgiu como uma questão importante diante de mim: porque sinto prazer com uma obra de arte? Porque a humanidade ouve música, vai ao teatro e lê?
Porque pessoas vão ver a Monalisa há centenas de anos? E nós de vez em quando precisamos ouvir aquela música (muitas vezes)?
O que uma música conversa com a gente a revelia da nossa razão e consciência? O que um quadro fala com nossos olhos que nós mesmos não vemos? E outra pergunta, que vinha junto com essa: O que faz uma obra de arte ser duradoura e outra passar desapercebida de um carnaval para o outro?
Fui fuçar em quem já se perguntou isso e na psicanálise encontrei mais ou menos assim (Segal 1952/1982):




A obra de arte, seja a música, a poesia, a imagem da fotografia ou o cinema, faz um eco dentro de mim, espontâneo, natural, como se eu passasse diante dela e me visse ali, refletido em um espelho. Assim se daria a identificação de cada um com certo tipo de arte e de artista, guardadas as especificidades de cada indivíduo, uma pessoa é mais tocada pela música, outro pela linguagem da poesia, ou pelo teatro.



Olho pela lente daquela música (ou poesia, cinema) e ali eu me enxergo, vejo a minha dor (a minha história). A minha questão pessoal, ali, ganha contornos, melodia e palavras, ou cores e texturas. Aquele artista tem um mundo destruído e caótico assim como eu o tenho, mas tem a condição- que eu não tenho- de criar algo a partir desse sofrimento e desse caos, a com isso ele faz som, imagem e letra e entrega à mim. Ouvindo essa música minha dor toma forma, ganha palavras, timbres e à medida em que a ouço repetidas vezes, saio da minha sensação confusa e obscura mais enriquecido e inteiro (as crianças precisam assistir desenhos que tratam das suas questões emocionais diveeeersas vezes).


"É tentador sugerir que isto ocorre porque em uma grande obra de arte o nível da negação do instinto de morte é menor do que em qualquer outra atividade humana, que o instinto de morte é reconhecido, tão plenamente como pode ser suportado. É expresso e aprisionado para as necessidades do instinto de vida e da criação" (Segal, 1952/1982, p. 270).

Dá pra dizer, pelos artistas que tiveram vidas perturbadas, enlouquecidas, prematuramente interrompidas, que talvez eles tenham coragem (condição/ única alternativa?) maior que outras pessoas de se ater, de sentar na calçada de suas dores até dali nascer música, quadro e poesia.


Dos poucos momentos de grandes dores (para mim foram as minhas grandes) que tive, eu só quis que elas passassem, só quis me livrar e de preferência que ninguém ficasse sabendo. Ela ganhou 5 Grammys com as dela. Em uma obra de arte a negação do instinto de morte é menor do que em qualquer outra atividade humana...



Ter coragem de negar o instinto de morte menos que qualquer um. Não vejo ninguém mais generoso que um artista que nos presenteia com sua obra, a revelia da própria vida, não que isso seja consciente ou caridoso, provavelmente ela não poderia fazer nada diferente do que fez.

Alguém que senta perto da morte e nos ajuda ao dizer que quando “you go back to her/ I go back to black” e que “love is a loosing hand” (quem joga pôquer há de entender isso de uma maneira + interessante), dá nome á um sentimento à revelia da norma vigente dizer que todo mundo pode sair com todo mundo, o que a gente sente quando ele vai embora (He walks away) é que “the sun goes down/ He takes the day, but I´m grown/ And in your way/ in this blue shade/ My tears dry on their own”.


A artista que não apenas pela poesia da letra, mas pela autenticidade da interpretação, pela pegada nova do jazz, teve o talento para capturar e transformar em experiência comunicável toda uma dimensão apaixonada dos relacionamentos e das dores desses, atual, livre, louca, independente, sofrida, carente, compulsiva e solitária.


Ela podia não ter morrido? Ela podia ter feito a música que fez se não tivesse essa proximidade com o sofrimento? Esse enamoramento com o trágico?

Deixo meus sentimentos de gratidão. Sem ela, muitas lágrimas teriam ficado sem nome.
I say my goodbye in words...



Missis Amy Winehouse



Por Mirabelle



Segal, H. (1982). Uma abordagem psicanalítica da estética. In H. Segal, A obra de Hanna Segal. P. 245-272. Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1952).

domingo, 17 de julho de 2011

Etiqueta modernets

Hoje em dia quando você conhece alguém, acabou o romantismo, as flores, o mistério, a expectativa do universo aguardar se vocês vão se encontrar de novo, se um amigo tem o contato dela e tal, a pessoa nem pergunta mais o telefone, os mais rápidos e modenets te adicionam na hora ali na sua cara via Iphone no Facebook, ai da sua foto estar uma droga ou que merda é essa configuração que o nosso querido Zuckerberg inventou de aparecer bem ali na frente as fotos nas quais você foi marcado??????? E se a foto estiver horrível?


Minha tia colocou lá no álbum dela uma foto na qual me marcou em que estou em minhas 7 ou 8 primaveras (parafraseando meu avô) nos requintados anos 80, década em que a moda era, não sei se por pura maldade dos estilistas gays da época, não sei se por eu morar em Campinas city: o corte de cabelo Chitãozinho...

Aí você conhece o seu futuro pretendente a jogar o cabelo e fazer beicinho e na hora, sem você poder se defender nem nada, ele já vê você com o seu irmão, prima, tio e tal todos exibindo o corte do momento: eis que o momento é 1989.

Se as intenções forem mais sérias e o sujeito quiser um contato via voice... porque FALAR VIA VOZ com um ser humano se tornou o contato mais íntimo que se possa imaginar do momento. O indivíduo te manda uma mensagem (desculpem, me recuso a falar torpedo, acho esse termo cafona), exatos 1 segundos se passm e você liga/telefona/disca (haha) para o número... eis que a pessoa não atende.



Você pensa, ela está ocupada, tipo “em uma reunião”!! Acho chique as pessoas que estão em reunião, e aquelas que atendem e falam baixo: eu tô numa reuniãozinha, posso te ligar depois? (a-do-ro imaginar essas pessoas atendendo embaixo da mesa). Essas são as que gostam de se fazer de importante. O + incrível é que tenho uma amiga cirurgiã que sempre atende, outro amigo juiz que também sempre atende e um amigo vendedor que sempre "está em reunião"...


Mas continuando a cena mais comum do século estranho em que nos encontramos, você pensa que a pessoa não pode FALAR, por isso ela ESCREVE. Logo em seguida à sua chamada, o indivíduo "text you" novamente, “falando” (os termos precisam ser revistos pelo Aurélio) qualquer coisa, aí você compreende (se é que isso dá pra entender) que a pessoa prefere não falar. Aí você, que é um ser que nasceu no século retrasado, entende que FALAR se tornou algo assim muito carnal, muito próximo, muito íntimo. Ah a voz, a melodia, o som...

Outra pergunta importante quando se chegou à intimidade de se perguntar o número do celular. Atenção o telefone de casa é proibido, só as mães e as avós têm telefone em casa, se alguém perguntar é porque o cara deve: 1- ou querer casar com você ou 2- ter um amigo na prisão, pode chamar a polícia porque a pessoa pode estar tramando ligar para simular um seqüestro, cuidado!

Ok, sua relação chegou ao ponto da intimidade da relação vocal. Parabéns o sujeito tem sérias pretensões com você (ou um amigo preso). Pergunte sem medo se o celular da pessoa é TIM e anote na sua agenda do celular, porque gente, vamos combinar que não dá mais pra ligar pra celular que não é da TIM né? E atenção, isso não é questão de muquiranagem ou falta de dinheiro na sua conta bancária, é uma questão de protesto do cliente, não vamos mais telefonar para pessoas que tem Vivo, Claro, pessoas que tem TIM ganham uma estrelinha na sua agenda e podem ser chamadas a qualquer hora do dia, da noite (hummm) e de qualquer lugar do Brasil. Essa é outra estranheza da sociedade atual, mas tem que ser atualizada na sua lista de etiqueta de interação social.

Repassando:
Não pega bem adicionar a pessoa assim na frente dela, anota o nome e adiciona depois, vai que a foto tá feia, um pouco de elegância né gente!

Não tem problema perguntar se o celular da pessoa é TIM e não, não é porque você não tem dinheiro, é porque os preços das operadoras são abusivos!

Etiqueta em tempos modernos!!

Joga o echarpe via SMS ;)

Por Cocobelle

terça-feira, 12 de julho de 2011

It is still so fun

Eu sou aquela que acordou a cada pequeno choro ou suspiro contido por noites a fio sempre que eles precisaram. Sou aquela que emprestou o corpo para gerar vida e alimentá-la, exausta ou insone, os bíceps tarimbados por sempre ter estado ali quando os pequenos braços se estendiam a mim.

Também sou aquela que postergou projetos por não existir projeto maior que um ser humano menor que você capaz de proporcionar tamanha ilusão de posse: meu filho, minha filha. Tão incoerente que você se dedica a ensinar-lhes, inexaurível, a fazer o que querem, e não o que você manda.

Eu sou tudo isso. Mas sou também aquela que aprende a gritos internos – com a generosidade e disponibilidade do parceiro – a ser egoísta o suficiente para afastar-me por três horas de voo e sete dias até viver outra vida talvez menos desejada, mas não menos merecida.

Eu fui aquela que o encanto dos DJs obrigou a dançar na areia diante do azul mediterrâneo, sereia serena, até o sol se por ou raiar, cinco anos mais jovem segundo os olhares alheios que, como eu, podem não me imaginar ali. Mas fui e cumpri e fiquei morena para mergulhar até as profundezas de meus mares mais cristalinos, permitir-me aproveitar a condição de mulher brasileira bela e jovem e tão exotiquinha numa ilha exclusiva como self-gentileza por tudo o que custou chegar ali. Que pouco espaço existe entre ser turista e imigrante.

Também encantei e bebi grátis na piscina com vista cinematográfica, entrei como convidada nos templos da música eletrônica sentindo-me sagrada, até emprestar as costas sob céu estrelado para quatro mãos macedônias estudarem massagens recém-aprendidas eu emprestei. Merecidamente.

Sou tudo isso, sim. Queria ter sido todas as mulheres do mundo para que elas pudessem ser um pouco de mim. Como gesto de gratidão por toda a inveja que já tive daquelas que não eram eu algum dia, essa coisa tão feminina. Parodiando uma leitora, eu digo: “eu tenho dó de quem não é a gente”.

Volto mais plena, não com menos saudades dos meus. Que o mundo abrace minha pele morena, não tenho medo, quem irá devorá-lo sou eu.


Para Mirabelle, Cri e Asdrúbal, que fizeram esta aventura possível.

Womber Woman, Mykonos, verão europeu de 2011.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Calda-de-Chocolate-IV (Intravenosa)



Sabe aquele mau humor que escurece o dia as 4 da tarde e que você considera a hipótese de uma nova carreira à la Amy Winehouse no quesito abuso de entorpecentes já que essa seria a única solução para que você descansasse de si mesma pelo menos por algumas horas?



Mau humor não é um sentimento que mereça ser levado a sério, por isso nunca achei muito digno de nota as famosas TPMs femininas, os bicos, os descontroles. Cresci com minha mãe dizendo aquelas frases de culpa que te tiram a licença poética do xilique. Quando não se queria comer alguma coisa, ouvia-se que tem criança que passa fome, quando a gente fazia cara feia ouvia um discurso meio católico misturado com algo de luta de classes que pretendia criar um sentimento de gratidão com pitadas de culpa por pertencer a uma classe exploradora e beneficiada. Enfim, aprendi que mau-humor era coisa de criança mimada e TPM coisa de moça mau-criada.



Mas eis que o mau-humor, esse mesmo, safado, que não se pretende valoroso e importante te pega pela orelha, pelo ombro, faz o sapato ficar saindo do pé o dia inteiro, e dá vontade de xingar a mãe da moça da Claro que te liga pelo quinto dia seguido, aliás quando toca seu celular dá vontade de jogar na privada e esse mau-humor cretino, raivoso, espumante te dá um brevê de raiva, como se você ganhasse o direito divino de ser intragável... o problema é que você se torna intragável também para si mesmo e a solução legal acessível mais próxima (se a idéia de seguir os passos da Amy forem te dar muito trabalho) é uma lojinha de posto com barras de chocolate.



Mas tem dia que o chocolate (não importa a quantidade) V.O. (Via Oral) não é suficiente, sua taxa de MH (Mau-Humor) está subindo rápido demais, você pode entrar em choque, arremessar o celular pela janela, atropelar o flanelinha no semáforo, cortar a garganta do porteito com o alicate que tem na sua bolsa, falar para aquela amiga querida que adora se gabar que ela estava gorda no vestido de noiva. Rápido, essa é a hora da Calda-de-Chocolate-Intravenosa. Pronto. A administração IV é rápida, eficaz e segura, te manterá capaz de continuar respondendo ao eletricista como um ser humano civilizado:



“Não, eu não sei se o conduite passa por aí, eu nem sei o que é conduite.”
“Não, eu não quero retomar o meu plano com a Claro, não, nem pela metade nem pelo um décimo do preço, obrigada.”
“Não precisa lavar o vidro do carro não, não, não, não! Obrigada, não.”



Ah o mal-estar da civilização... já dizia o senhor Freud, o que seria da civilização sem drinks e chocolate?


Por Mirabelle
Foto de Maria Elena em Vicky Cristina Barcelona (Woody Allen), personagem de Penelope Cruz, uma mulher enlouquecida como todas nós ficamos de vez em quando.

terça-feira, 31 de maio de 2011

Pé de cachimbo



Hoje é domingo pé de cachimbo
O cachimbo é de ouro bate no touro
O touro é valente
Bate na gente
A gente é fraco cai no buraco
O buraco é fundo
Acabou-se o mundo

Não sei se é esse belo versinho que meu avô recitava que amaldiçoou para sempre meus domingos ou se foram os domingos mesmos que inspiraram os versos, mas sejam uns inspiradores dos outros ou vice-versa, eles tem muito em comum.
A sensação apocalíptica, o fundo, o fim.
E não é por causa do Fantástico ou do Faustão, aboli esses requintados programas televisivos há mais de dez anos, ingênua eu, pensando que o problema era sanfonado como o Fauto Silva ou como as singelas notícias do fim do dia que a Globo delicadamente oferta ao país: merenda escolar apodrecida, velhinhos espancados em asilos... foge à minha compreensão o motivo pelo qual as pessoas assistem, mas não vamos entrar no mérito do masoquismo popular.

A questão dominical há muito me aflige porque não é pelos motivos que ouço falar que as pessoas dizem não gostar do domingo. Não é porque está chegando a segunda. Adoro a segunda, quando a segunda chega minha cabeça volta a funcionar, tudo aquilo que eu não conseguia pensar no domingo volta a fazer parte natural da minha agenda mental, também não é porque “não tem nada pra fazer”. Tem coisa melhor do que “não ter nada pra fazer” quando se está de férias?
E porque então que domingo parece ser composto de minutos moles que escorrem de um relógio de mingau sem gosto do Salvador Dali?
Tem algo melhor do que um dia no meio da semana no qual por um motivo qualquer a gente tem uma folga? Lembra quando a gente acordava para ir à aula e... não ía? Lembra a sensação de voltar pra cama? Lembro do quentinho do cobertor no sol da manhã, de tomar café mais tarde e ver aquela claridade amarela fora da sala de aula.
Um dia desses, tirei um dia do trabalho para arrumar a casa porque tinha acabado de me mudar, em um dia no qual não se trabalha a gente lava a louça, faz uma comidinha nova, coloca uma gaveta em ordem, leva uma roupa na costureira, assiste algo na TV, paga uma conta, manda um email, lê algo nem um blog, faz a unha, põe um creme no cabelo e liga pra sua avó... enfim, nada que te faça ganhar o prêmio Nobel, mas um dia bom, imensamente bom, que dá aquela sensação de pequenos deveres bem cumpridos.
Porque que no domingo você acorda com 14, 15 promissoras horas pela frente e não faz NADA?????
NADA???
Eu sento na frente do computador e pulo do Facebook, para um email e outro e não consigo lembrar de uma conta que eu tenho que pagar ou um Blog que eu queira ler e é só chegar segunda-feira que eles pulam na minha cabeça que nem um amigo no MSN falando “OI”.
PORQUE QUE EU NÃO LEMBREI NO DOMINGO?
Porque eu lembro do texto que eu queria ler, da conta pra pagar na segunda, quando eu tenho 30 minutos pra almoçar e chego em casa 21:30h da noite?
Será que no domingo o sistema cai?
Sei lá qual sistema, o Google do mundo?




Por Mirabelle

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Supernanny Me

A- DO-RO esse programa, apesar de no geral eu achar ideologicamente triste a idéia de mudar o comportamento de maneira ortopédica. Me arrepia só de passar na seção de auto-ajuda com todas as dicas de emagrecimento, sucesso e felicidade instantâneas. Como se abraçar uma árvore e chamar as pessoas pelo nome fosse capaz de fazer de você um líder conectado à natureza.
Se essas coisas funcionassem não haveria neguinho infeliz, desempregado ou gordo, mas infelizmente para os psicólogos do comportamento, somos bem mais que ratos mal treinados.
Mas Supernanny eu gosto! Não sei se é porque é incrível ver crianças tão mal-educadas ou se é bom demais ver qualquer transformação, mesmo daquelas mais toscas nas quais a menina estranha tira os óculos e solta o cabelo e se torna a + pop da escola.
Então, por mais que eu desacredite em mudanças impostas externamente supernanny parece funcionar, não parece? Ela não é nenhuma psicanalista do comportamento infantil ou parental, mas dá umas dicas interessantes e acho que o + importante, restringe comportamentos inaceitáveis, no caso das crianças: morder o irmão, xingar a mãe, não comer...
Aí pensei uma coisa.... e se eu SUPERNANNY ME?
E se eu me impusesse ortopédica e externamente proibições à comportamentos que não quero mais?
O que aconteceria comigo?
Eu me sentiria mais feliz e satisfeito, como as crianças da supernanny, que beijam ela no final, ou desenvolveria um pré-câncer no final da semana?
Pensei em fazer um quadrinho de cartolina na cozinha com as minhas metas e estrelinhas no fim de cada dia (será que funciona a gente se auto-reforçar?).
E se tivéssemos uma supernanny nos proibindo de criticar? De reclamar? De cobrar os outros? De trazer assuntos difíceis à conversa? De ficar mau humorada e chata?
Como ficariam nossas relações?
Se só por uma semana nós fizéssemos a escolha artificial e até certo ponto falsa de sermos LEGAIS, em especial com aquela pessoa mais próxima, aquela quem a gente atormenta com mais dedicação e talento?
E se aquelas atitudes mais irritantes e que trazem mais desentendimento nos nossos relacionamentos forem tão só birras infantis das quais não conseguimos nos livrar, mas que nos fazem muito mal? Como dormir na cama dos pais, brigar com o irmão e não comer?
E se, além das motivações inconscientes que nos levam a reagir de determinada maneira, nós formos adultos mimados?

Por Mirabelle

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mãe




Já passou, tudo quanto é coisa faz propaganda do dia das mães, mas fazer o que? Nem sempre se é original e um assunto que dá o que falar é esse: MÃE.

O shopping do dias das mãe vem com todas aquelas imagens de carinho e devoção das mães com seus filhos, são imagens bonitas, mas senti vontade de falar do “negativo” da maternidade, não no sentido moral de ruim, mas o oposto do positivo que é coisa que se faz e mostra. O negativo, aquilo que não se faz, aquilo que não se diz, o que se guarda.

Se eu pudesse escolher uma característica de maternidade singular, fundamental e sutil seria essa capacidade de não dizer.
Como nos envergonharíamos se nossas mães nos contássemos tudo o que elas vem da gente. Porque muita coisa a mãe enxerga antes, bem antes de acontecer. Não porque mãe é mágica ou leu “O Segredo”, mas porque mãe conhece o filho de dentro e desde sempre.
Não são todas as mães que tem esse talento do não dizer. Aliás, mãe quando dá pra ser ruim é uma desgraça na vida de uma pessoa.

Mas senti vontade de falar da minha mãe, e das mães que tem esse dom sutil e delicado de olhar, saber e não dizer.

Como sou grata por tudo o que a minha mãe ficou em silêncio e pôde guardar para outra hora, como a mãe cuida quando pode conter em si uma opinião, uma sugestão e deixar a gente ser para então, em outro momento conversar e mostrar. Ou não.
Por isso que casa de mãe tem que ter armário grande. Um amigo arquiteto construiu no quintal da casa dos pais um galpão cheio de prateleiras... uma cara de pau sem tamanho para guardar tudo o que ele e o irmão não queriam mais.
Por que tem muita coisa que a gente não quer mais e acha que não quer mais pra sempre, mas se se tem uma mãe assim, no negativo, uma mãe baú, armário, a mãe guarda e depois a gente pode se reencontrar quando ela diz como quem não quer nada:
- Filho, olha isso aqui, você lembra?
E aquele quadrinho, urso, camiseta faz você ficar mais inteiro.
A mãe no negativo é aquela que não fala pra você ficar quando está difícil de ir embora. Porque mãe muito boazinha, daquelas que insiste que você fique e faz comida e te cobre no sofá, não ajuda a crescer.
E tenho aqui uma desconfiança que essa mãe sutil, que tem uma sabedoria antiga e natural já ficou bem triste em vezes que ela sentiu que estava difícil para você ir (para a sua casa, cidade), mas ficou quietinha, guardou a vontade de falar: “Filho, fica, eu cuido de você!” Porque ela sabe que você precisa crescer, e ficar em silêncio nessa hora te fortalece a ir.
Á essa mãe que vê, mas não diz. Á mãe que olha e deixa ir. Á mãe onde se pode guardar e voltar pra buscar, quadrinhos, lembranças, abraços.
Minha mais imensa gratidão.
Por Mirabelle

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O homem "a nível de" frigobar no banheiro





“Que época mais interessante essa em que vivemos. E por isso mesmo tão complicada. De uma hora para outra a organização familiar que tinha controlado a vida privada e pública das pessoas foi totalmente transformada. Não que o patriarcado fosse a coisa mais legal do mundo, longe disso, mais dentro dele as pessoas sabiam se mover, havia uma experiência ancestral que ensinava, um know how passado de geração em geração. E agora estamos todos um pouco perdidos, as mulheres, os homens, os travestis e até os gatos de estimação.”

Roubei essas frases de um e-mail recebido recentemente de um amigo querido, chamemo-lo aqui carinhosamente de homem-frigobar. Um pouco assim porque o rapaz escreve bem e facilitou minha reflexão, outro tanto por um instinto de vingança ancestral feminina contra todas as palavras que os senhores escritores (gênero masculino, número plural) roubaram de esposas, amantes, mães ou amigas ao longo de muitos séculos sem nunca dar-lhes o crédito. Naqueles tempos não achavam sequer que mulher escrevia. Era algo assim dos machitos, como alfabetização, política ou essas coisas menos importantes que os bordados como votar, exercer cidadania, ter opinião. Por exemplo.

“Talvez os mais inseguros e perdidos sejam os homens”, ele diz, achando complicado ser masculino, impulsivo e viril num mundo em que alguém pode te mandar para cadeia por ter feito sexo sem preservativos, como aconteceu com o cara do Wikileaks. Ele se assusta porque hoje as mulheres “têm também um poder econômico e social muito grande” (tudo isso ele disse porque soube que fui mãe e acredita que temos um “poder de decisão sexual”, de “escolher quem vai passar os genes para a próxima geração” que o homem não tem).

Querido homem-frigobar, veja bem. Bendito seja o Senhor pelo poder econômico e social que nós, mulheres, vamos conquistando à base de migalhas e grãos de areia desde o infinito dos tempos – mas que, como você pode entender, está ainda muito longe de uma condição de igualdade em relação ao sexo oposto. Eu mesma duvido desse critério da igualdade para mensurar coisas tão diferentes, como o feminino e o masculino, o made in Venus ou made in Mars. Mas é o menos piorzinho que existe no momento, então vamos lá. A gente ainda ganha menos economicamente. E estuda mais, está mais bem preparada. E passa incontáveis horas a mais fazendo trabalhos não remunerados (como tudo aquilo que a senhora sua mãe sempre fez pelo seu bem dentro de casa, da comida às cuecas passadas – que cada uma aqui olhe para dentro de si e saiba até onde pode chegar). Veja o Congresso, a Câmara. As prefeituras. Isso é igualdade? Se é um poder social “muito grande”, pode preparar a voltagem que os amperes de pressão ainda precisam aumentar homericamente até nosso motorzinho social funcionar igual ao de vocês, varões.

Depois de dividir as contas com a patroa (muito 80s isso, por sinal! Welcome to the 21st century!), está complicado dividir também as tarefas domésticas? Você agora não é mais um bom partido se não souber cozinhar, se não deixar a cozinha arrumadinha, fizer a lista e a compra do supermercado (sem esquecer dos nossos cosméticos favoritos), colocar a roupa para lavar (tirando as manchas a mão se necessário) e, principalmente, tolerar nossas calcinhas penduradas no box e respeitar o horário sagrado da novela (aquela preocupação de abaixar a tampa da privada era do tempo do meu avô e esse defeito genético já foi corrigido na geração 1979.3.5.6.beta). Caso pense em procriar (e não só nos ensaios gerais para o ato), vá se informando sobre as últimas correntes pedagógicas, montando agenda de visitas para elaborar seu casting de escolinhas e berçários e saiba que você terá que ir nas reuniões bimestrais com as professoras (a desculpa de “papai está trabalhando” está muito, muito fora de moda, tão brega!). Sem falar em se documentar e por a mão no bolso para atender todos os caprichos relacionados ao parto ideal da parceira (cada uma saberá de si).

Difícil, meninos-frigobar? Pois não. Difícil é ter toda a lição de casa das mocinhas do novo milênio em dia, andar de salto alto com passo firme, cabeça erguida e unha feita, linda e cheirosa, educando os pequenos trogloditas que você carregou nas entranhas para que eles dêem um passinho a mais na cadeia evolutiva do Piteco. Ah, claro, e estando com um carinha como você. Que reclama porque a gente quer que você use creminho anti-rugas pra ficar mais inteiro daqui a 30 anos e não tenha barriga de cerveja.

Nesse cenário, diz o meu amigo, o camarada se sente perdido, totalmente fora de lugar, “como se fosse um frigobar no banheiro”. E acaba se sentindo fraco. E broxa. E acha que todo mundo acaba infeliz assim.

O que eu acho? Eu acho que a mina que foi pra cama com o Mr. Wikileaks realmente é um pouco bitch de estar acusando o cara de estupro, abuso sexual ou whatever. Mas também gostaria de lembrar que há não muito tempo (ontem?) muitas denúncias de estupro 1) não eram feitas 2) não eram levadas a sério porque o acusado era o marido 3) eram desconsideradas porque a mulher era acusada de ter seduzido o sujeito porque usava minissaia ou qualquer outra roupa que ela quisesse e o estaria provocando. Isso para não falar numa coisa que se chama Lei Maria da Penha. Então, não, não acho que seja fácil decifrar o manual de instruções dos relacionamentos entre os sexos da Era de Aquário, mas também não acho que exista desculpa para o homem se sentir um fraco. E menos ainda de broxar conosco. Afinal, a beleza e a delicadeza (que pode ser entendida como fragilidade) são a essência da feminilidade, e a isso, ser feminina, desculpe, mas não vamos renunciar (e viva aos terninhos da Marta Suplicy!)

Não lamento nada dizer que só resta aos homens-frigobar se reinventarem. Se quiserem, posso passar o telefone do seu Wilson, o meu técnico do ar-condicionado, que tem um primo que mora no exterior e conhece uns modelos diferentes que às vezes funcionam com nossa voltagem. Se quiserem tentar trocar uma peça para ver o que acontece, ele conhece um arquiteto-engenheiro da FAU que anda testando umas coisas experimentais que parece que estão agradando a mulherada.

Mas, por favor e principalmente, não desanimem, há esperança e o entendimento é possível: eu só posso concordar com meu amigo quando ele diz que “é preciso encontrar um ponto de estabilidade onde todo mundo esteja mais ou menos feliz. Pena que ninguém tenha a mais mínima ideia de onde esse tal ponto pode estar”.

Womber Woman