segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Uma Velha Nova história



O Rafinha Bastos já disse que:
- Mulher feia que reclama que foi estuprada devia agradecer e que isso não é crime, é oportunidade;
-Mulher não devia amamentar em público... blá blá blá alguma barbaridade acerca dos mamilos maternos,
- Ele, no meio de uma piada falou que a mulher do dono da Rede TV (Daniela Albuquerque) era cadela e se desculpou depois, porque “não era uma mulher qualquer”. Vejam só, se fosse, podia ser cadela;
- A última bestialidade do moçoilo foi dar o último tiro no pé: “Eu comia ela e o bebê”, sobre a Wanessa (ex Camargo), grávida de 5 meses.

Acabo de ler que ele foi afastado definitivamente do CQC depois de seu colega de bancada Marco Luque ter apoiado a revolta expressa pelo marido de Wanessa (Marcus Buaiz- não que esses nomes importem tá? Só pra acompanhar as news) e de Ronaldo, este que sempre se mostrou parceiro do CQC.

A conversa entre homens foi mais ou menos essa: “eu, como pai, entendo e apóio a revolta e a indignação do Marcus Buaiz, um homem que conheço e respeito. Se fizessem uma piada com esse contexto sobre a minha família, certamente ficaria ofendido.”
Alguém notou algo de estranho?
Alguém percebeu que nada foi falado acerca do desrespeito à Wanessa? À mulher? À mãe?
Homem. Família. Pai.
O Rafinha Bastos ofendeu aos homens e agora sim os homens fizeram alguma coisa para nos poupar de mais absurdos que esse cara viesse a falar.

E mais um estranhamento. Ou só eu estranhei? Porque o marido dela falou alguma coisa? Ligou para o amigo que ligou para o jornalista? Uma mulher adulta, independente, profissional, que é ofendida e desrespeitada dessa maneira, não diz nada?

Que homens como Rafinha Bastos corram pelo mundo, como macacos soltos em uma plantação de bananas, eu até entendo. Foi muito tempo (não tenho certeza do tempo verbal) do homem livre e soberano no seu poder. Mas me pego pensando no outro lado, em um preocupante, obscuro, fugidio e escondido. O meu, o nosso.

As minorias violentadas nos seus direitos, ofendidas, agredidas nunca tiveram seu espaço oferecido pelos seus agressores, elas sempre tiveram que brigar por ele. Me pergunto de que maneira a mulher brasileira não faz isso.
E não faz isso bem de mansinho, bem disfarçadinho, sendo agredida sempre, de leve e de perto. Silenciosa e recolhida na falsa mini saia, no biquíni fio-dental mostrando tudo e velando a passividade e o sorriso de moça boazinha.

O Rafinha Bastos é um exemplo aumentado do que acontece em toda e qualquer rodinha de amigos, e quase nenhuma mulher se posiciona, assim como a Wanessa não disse nada.

Sou uma mulher que tem amigOs e amigos de longuíssima data, o que me permite um acesso ao mundo masculino que me diverte e me oferece a chance de ouvir histórias e experiências quase como um deles, um “Joh” (como diz um amigo de mais de 20 anos), e eu me pego escutando causos de mulheres, de pegadas, de amantes, de namoradas, de motel, de bagunças, de brochadas, de desilusões, de alegrias. E escuto entre curiosa, divertida e quase orgulhosa, de saber que não são todas as mulheres que tem a cadeirinha do camarote para olhar esse mundo assim, pela fresta da fechadura da confiança de tantos anos de amizade. Me divirto com as imagens das bundas e bocas e paixões e reclamações de cremes da Victoria Secret... mas algo acontece se eu cometo o erro fatal de achar que posso contar alguma coisa minha, simplesmente se cometo a gafe imperdoável de supor, de sequer imaginar que eu, mulher, tenho o direito de, no meio de homens, dividir alguma experiência...

-Ah Fulana... não acredito que você vai falar isso pra mim... não quero escutar ah não...

Aqueles homens, que tão confortavelmente me contavam suas histórias sentem-se ameaçados (ela vai falar de outro homem... buuuuu óóó- aahh amigos, homens, como vocês de ameninam com suas vaidades agigantadas, medindo com suas réguas imaginárias rivais que nem são seus) ressentidos, me olham com uma mistura de medo que logo tratam de transformar em julgamento, em condenação e PLAU lançam mão de alguma agressãozinho gratuita e incômoda... como fez Rafinha Bastos.

A melhor defesa é o ataque.



Mas as mulheres não se defendem, se calam, são agredidas sempre, em rodinhas em que leves toques de machismo aparentemente inofensivos são misturados na cerveja e em sorrisos amistosos.

“Ahhhh porque mulher gosta mesmo de dinheiro né?”

Nós meninas, brasileiras, crescemos ouvindo que temos que nos dar ao respeito, e não aprendemos que respeito a gente oferece a todo mundo, independente do comprimento da saia.

Não vou ser mais amiga de quem não respeita gente, de quem ofende, de quem agride. Não gosto de quem violenta gratuitamente, em especial minorias historicamente agredidas.

E cansei desse jeitinho brasileiro de fazer pizza com o que importa, com o que é sério, a clássica cordialidade dos panos quentes.
Rafinhas Bastos não são mais meus amigos, porque dignidade a gente não negocia mais.

Por Mirabelle




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"Rafinha suspenso do CQC por ofender gente que importa"