Cerca de três anos atrás, antes de o Júnior, o primogênito, nascer, comprei com meses de antecedência entradas para ver o Baryshnikov. Depois de ter sido matriculada no balé clássico aos seis anos de idade (provavelmente antes de ter uso da razão) e ter feito dança por mais de dez anos, ele era um ícone. Referência máxima do clássico naquele momento, esse homem russo e distante que bailava em outros continentes e às vezes ao vivo e tarde da noite na TV (eu ficava acordada morrendo de sono pra assistir aquelas formigas pulando na tela e só sabia que era ele porque era o único homem solista) poderia estar ali, ao alcance dos meus olhos, só ele no palco. E vê-lo dançar foi uma das experiências artísticas que mais me impactou até hoje.
Quando fui comprar as entradas, convidei o Asdrúbal (o queridão) para vir comigo. As sessões eram de quinta a domingo, e acabei escolhendo as entradas para domingo pois era o dia em que havia melhores lugares.
Acontece que esse domingo, descobri depois de comprar as entradas, era o dia da final da Copa do Mundo da Alemanha. E o jogo era bem na hora do Barysh. Resultado: o Asdrúbal pediu desculpas mas não, não ia me acompanhar para ver aquele deus da dança e perder o duelo de titãs do futebol (a Itália ganhou da França). Ofereci a entrada dele a um querido amigo artista plástico e gay que topou na hora me acompanhar.
Quando fui comprar as entradas, convidei o Asdrúbal (o queridão) para vir comigo. As sessões eram de quinta a domingo, e acabei escolhendo as entradas para domingo pois era o dia em que havia melhores lugares.
Acontece que esse domingo, descobri depois de comprar as entradas, era o dia da final da Copa do Mundo da Alemanha. E o jogo era bem na hora do Barysh. Resultado: o Asdrúbal pediu desculpas mas não, não ia me acompanhar para ver aquele deus da dança e perder o duelo de titãs do futebol (a Itália ganhou da França). Ofereci a entrada dele a um querido amigo artista plástico e gay que topou na hora me acompanhar.
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Clichês, clichês. Meninas gostam de balé, meninos de futebol. Você se esforça por ser uma mulher evoluída, livre de preconceitos, mas a realidade é essa que acabei de contar. Aí você tem filhos e se promete que vai educá-los sem esses estereótipos. Por isso comprei o Zezinho, um boneco mulato, pro Júnior no segundo Natal dele, porque achei que ele tinha que ter também uma boneca pra brincar além daquele monte de carrinhos e bolas. Mas a gente não deixa de levar um susto de vez em quando.
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Lançaram por aqui o álbum de figurinhas da Liga Española de Fútbol (o Brasileirão local). O álbum veio de presente com o jornal num domingo já com 12 figurinhas. O Júnior viu, se interessou e lá foi o Asdrúbal explicar o que era aquilo e ajudar a colá-las. Coisas de pai e filho, coisas de meninos. Não tenho certeza de quem gostou mais da brincadeira, mas o fato é que o Asdrúbal começou a comprar as figurinhas pro Júnior. Isso há coisa de três semanas. Como eu morro de tédio com futebol, observava de longe.
Hoje o Asdrúbal está fora de casa e, para fazer um mimo pro Júnior, decidi comprar alguns pacotinhos de figurinhas pra ele na saída da escola e me empenhar na causa. Abrimos um, ele logo viu o escudo do Mallorca e disse: “Esse a gente já tem”. Eu duvidei, achei que ele estava dizendo qualquer coisa, afinal ele ainda não tem nem três anos. Mas ele tinha razão: era repetida.
Na hora de colar as figurinhas, eu sentada na mesa de jantar solenemente com ele ao lado e o álbum aberto, antes que eu conseguisse ler no verso da figurinha de que raio de time era aquele jogador com camiseta amarela, vermelha ou listrada, ele já tinha soltado: “Do Valladolid! Do Sporting! Do Osasuna!”. E, para minha perplexidade, sempre acertava.
Hoje o Asdrúbal está fora de casa e, para fazer um mimo pro Júnior, decidi comprar alguns pacotinhos de figurinhas pra ele na saída da escola e me empenhar na causa. Abrimos um, ele logo viu o escudo do Mallorca e disse: “Esse a gente já tem”. Eu duvidei, achei que ele estava dizendo qualquer coisa, afinal ele ainda não tem nem três anos. Mas ele tinha razão: era repetida.
Na hora de colar as figurinhas, eu sentada na mesa de jantar solenemente com ele ao lado e o álbum aberto, antes que eu conseguisse ler no verso da figurinha de que raio de time era aquele jogador com camiseta amarela, vermelha ou listrada, ele já tinha soltado: “Do Valladolid! Do Sporting! Do Osasuna!”. E, para minha perplexidade, sempre acertava.
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De modo que não sei o que acontece, se é parte do DNA masculino ou o quê. Mas que o Júnior já está com o software Liga Española de Fútbol 2009-2010 instalado, assim de pequenininho, ele está. E logo começará a recitar o breviário da escalação de cada time (cuidado, pois o álbum informa ano e local de nascimento, estatura, posição e times em que jogou). Enquanto isso, resta preparar-me para ensinar a Zilminha a soletrar Baryshnikov e declamar “tombé-pas de bourré-relevé-plié-pirueta e fechou” e esperar pra ver se com a onda nostálgica dos anos 80 ela vai querer brincar de Flashdance.
Nota: Consultei dois artigos da Wikipédia pra escrever este post: Baryshnikov (pra comprovar a grafia) e Copa do Mundo de 2006 (pra ter certeza de onde foi e de quem tinha jogado a final, pois é claro que meu hard disk não grava esse tipo de informação). Fica o convite para eles e elas conhecerem um pouco mais sobre o assunto pra desmontar os clichês.por WOMBER WOMAN