sexta-feira, 11 de junho de 2010

Presente de Dia dos Namorados

Reparo há muitos anos um acontecimento que nunca deixa de me encantar.
Os ipês cor-de-rosa florescem sempre perto do dia dos namorados.
Eles são os primeiros a florir, bem antes dos amarelos, roxos e brancos.
São as mesmas árvores, pelas quais você passa diversas vezes, indo para o trabalho, voltando do supermercado, silenciosas elas repousam, oferecendo uma sombra ou outra só percebida em dias de muito calor.

Vai chegando junho e essas árvores, que sempre estiveram ali, passam a te oferecer de graça, sem mais nem menos, um imenso bouquet cor-de-rosa em algumas calçadas e canteiros.
Drummond escreveu que:

“Quem nao tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si
mesmo. Namorado é a mais difícil das conquistas. Difícil porque namorado
de verdade é muito raro. Necessita de adivinhação, de pele, de saliva,
lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.

Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.

Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho
escondido na hora que passa o filme; de flor catada no muro e entregue
de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico
Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre a
meia rasgada; de ânsia de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô,
bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, fazer sesta
abraçado, fazer compra junto. Não tem namorado quem não gosta de falar
do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro
dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor. Não
tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai
com ela para parques, fliperamas, beira d'água, show do Milton
Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical na Metrô.

Se você não tem namorado é porque não descobriu que o amor é alegre e você
vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve,
aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar.

Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções
de esperança. De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de
si mesmo e descubra o próprio jardim.

Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua
janela.

Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de
fada. Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu
descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante
a dizer frases sutis e palavras de galanteria.

Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho
necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido.”

Ou Drummond tinha namorada, ou ele via ipês cor-de-rosa floridos por onde passava.

Vejo nos ipês floridos grandes bouquets oferecidos à todas as namoradas...
Namoradas de alguém ou só namoradas do próprio jardim da cidade.
Por Mirabelle