quarta-feira, 8 de setembro de 2010

The sound of silence


Sabe-se que quem tem enxaqueca precisa de silêncio e de ficar no escuro.

No mínimo isso parece uma necessidade de uma pessoa chatinha, frescurenta, daquelas que tem dor de cabeça com música alta e muita luz (péssima companhia para uma boate).

Uma experiência de dor tão estranhamente caprichosa que exige o silêncio e pouca luz para fora ficar parecido com dentro.

Não sei se toda dor tem o mecanismo de apagar a luz de dentro, dos olhos, da fome, da voz, da vontade. Essa dor tem. Como se um simples dia de sol se tornasse uma Rave em Las Vegas. Luzes e sons em intensidades ofuscantes.

Como disse Freud, toda filosofia sucumbe no buraco de um molar que dói.

Doer por alguma razão é sacrifício- sacro- ofício, pelo menos assim imagino a dor do parto, de uma ferida de guerra, da recuperação de uma cirurgia, que salva a vida. E até, fazendo um esforço, daquelas pessoas que se penduram em ganchos, elas devem ver algum sentido naquela dor (espero que vejam).

E a dor só? Só dor, sem nenhuma razão, sem objetivo maior ou mais nobre se não escurecer? Porque a enxaqueca dói no negativo, no vazio, no escuro. Não é dor de gritar, dor que sai pra fora, que esparrama, que desbrava, anuncia.
É dor que encolhe, que escurece, e se se dorme, não é para um sono com sonho, um sono positivo que contém coisas, cores, histórias. É um sono negativo, só o contrário de estar acordado, sem nenhuma qualidade especial, só o fundo de algo que, visto do outro lado, é abaulado.

Acho que Simon and Garfunkel não falaram sobre isso na música deles, mas bem que parece uma boa metáfora pra essa dor:

Hello darkness, my old friend,
I've come to talk with you again
Por Mirabelle