segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Tarde lilás


Era quinta feira, quase final do dia de trabalho. A cabeça andava na velocidade usual de dia-de-semana. Pensamentos em pistas de alta velocidade. Flashes intensos de todas as atividades a serem feitas, algumas das já riscadas da lista.
Me preparava para sair correndo como sempre, fazer xixi rápido, pegar tudo de uma vez, fazer agenda, chave e celular cair quando fecho a porta, afobada.
E de repente, não mais que de repente a música do Gil chegou, por baixo da porta e estranhei um sentimento novo, quase com cara de desconhecido. Mas era bom, muito bom.

Aqui dentro a água aplainou, os movimentos, pré-prontos para disparar foram desligados da tomada e percebi, bem dentro, que eu tinha todo o tempo, todo o tempo para fazer o que eu quisesse.

Reguei as plantas, arrumei revistas e saí devagar. No carro ouvi Miles Davis e o jazz acalmou o trânsito e o calor do fim da tarde.
Os planos da noite mudaram, mas não teve problema, ele demorou, mas esperei, fomos para outro lugar e comemos, de surpresa comida japonesa com o tempero especial da fome das 10horas da noite. Tomei banho devagar e fiquei mais limpa que antes. Camiseta e cheiro de sabonete, choveu.

E de repente, não mais que de repente descobri o nome do sentimento novo com a ajuda do Gil.

A paz
Invadiu o meu coração
De repente me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

Eu vim
Vim parar na beira do cais
Onde a estrada chegou ao fim
Onde o fim da tarde é lilás
Onde o mar arrebenta em mim
O lamento de tantos "ais"

Que coisa é essa, a paz ser um sentimento assim, quase irreconhecido, quando chega sem avisar.
Por Mirabelle