Ok, nem todas as mulheres querem cortar os pulsos caso a calça jeans não feche, ou se fecha, parece querer te estuprar.
Ficar magra, talvez não pegue pelo pé todas as espécies femininas e nem tire o sono de tantas outras.
Ficar magra, talvez não pegue pelo pé todas as espécies femininas e nem tire o sono de tantas outras.
Mas me pego pensando em momentos de certa insatisfação com a vida que faz despertar ataques súbitos de comparação com outras pessoas.
Esses ataques dependem do nível de infelicidade. Uma pessoa que conheço, bem sucedida, feliz, na maior parte dos dias, quando está mau humorado, deprimido ou com dor de garganta, inveja profundamente o pipoqueiro que fica perto do seu apartamento, imaginando aquela pacata vida entre milhos e óleo, sal e paz.
Capa da Veja dessa semana, uma moça de 32 anos com a chamada: a nova milionária. A revista fala sei lá o quê da exuberante economia brasileira que cria novos milionários a cada não sei quantos minutos.
Num dia bom você olha e pensa:
- Puxa que bom que o Brasil tá melhor e as pessoas estão ficando mais ricas!
Dependendo no que você trabalha pode até passar pensamentos mais que positivos, mas empreendedores a partir da notícia, tipo:
- Posso cobrar mais dos meus clientes, vou ter mais pacientes/alunos, meu chefe é um novo milionário, vou pedir aumento!
E outras esperanças causadas pela boa nova.
Num dia ruim a nova milionária da capa não faz idéia em quantos níveis ela te ofende.
- Eu tenho 45 anos e nunca vou ser milionária
- Minha conta tá negativa, devo ser a única no Brasil a não ter dinheiro.
- Ela deve ser rica e olha a aliança, casada. Eu nunca vou encontrar alguém.
- Ela é rica e ainda tem esse cabelo lindo! Merda de cabelo esse meu.
Uma pessoa querida explicou bem o mecanismo desses ataques. Estava ela tomando um café e pensando no que teria que fazer para organizar suas contas nos próximos meses (organizar é um belo eufemismo para: como-arranjar-dinheiro-para-pagar-o-que-preciso) quando uma voz se destacou na multidão, tudo silenciou e a voz fez um solo gracioso nos ouvidos da dita cuja sem dinheiro. A voz falava sobre uma viagem a Paris, comentava restaurantes e parques, compras e museus. A que ouvia só pensava:
- Eu nunca vou poder ir pra Paris, merda, só eu que nunca vou.
A insatisfação carrega na sacola uma grande dose de comparação-idealização/inveja-desânimo.
Uma amiga comentou sobre a Grande Competição do Dia das Mães.
Mães na porta da escola mostrando, em barraquinhas emocionais, os presentes recebidos. Meu marido é melhor que o SE-E-U meu filho gosta mais de mim do que o seu gosta de VO-CÊ-Ê, porque olha só o que eu GA-NHE-EI!
Quando éramos crianças tínhamos a licença poética necessária para cantar:
“Eu TE-E-NHO, você não TE-EM”
Crescemos (pelo menos em altura) e mudamos a música para:
“Ela TE-EM, eu não TE-E-NHO”
Uma vez, quando criança, olhei no espelho da sala de balé que refletia várias colegas de turma, umas mais magras, outra de olhos verdes lindos, outra muito melhor que eu nas piruetas e pensei:
- Se eu pudesse escolher quem eu queria ser aqui desse espelho, eu escolheria aquela! Aquela era eu.
Mas tem dia que é tão difícil se escolher.
Por Mirabelle
Esses ataques dependem do nível de infelicidade. Uma pessoa que conheço, bem sucedida, feliz, na maior parte dos dias, quando está mau humorado, deprimido ou com dor de garganta, inveja profundamente o pipoqueiro que fica perto do seu apartamento, imaginando aquela pacata vida entre milhos e óleo, sal e paz.
Capa da Veja dessa semana, uma moça de 32 anos com a chamada: a nova milionária. A revista fala sei lá o quê da exuberante economia brasileira que cria novos milionários a cada não sei quantos minutos.
Num dia bom você olha e pensa:
- Puxa que bom que o Brasil tá melhor e as pessoas estão ficando mais ricas!
Dependendo no que você trabalha pode até passar pensamentos mais que positivos, mas empreendedores a partir da notícia, tipo:
- Posso cobrar mais dos meus clientes, vou ter mais pacientes/alunos, meu chefe é um novo milionário, vou pedir aumento!
E outras esperanças causadas pela boa nova.
Num dia ruim a nova milionária da capa não faz idéia em quantos níveis ela te ofende.
- Eu tenho 45 anos e nunca vou ser milionária
- Minha conta tá negativa, devo ser a única no Brasil a não ter dinheiro.
- Ela deve ser rica e olha a aliança, casada. Eu nunca vou encontrar alguém.
- Ela é rica e ainda tem esse cabelo lindo! Merda de cabelo esse meu.
Uma pessoa querida explicou bem o mecanismo desses ataques. Estava ela tomando um café e pensando no que teria que fazer para organizar suas contas nos próximos meses (organizar é um belo eufemismo para: como-arranjar-dinheiro-para-pagar-o-que-preciso) quando uma voz se destacou na multidão, tudo silenciou e a voz fez um solo gracioso nos ouvidos da dita cuja sem dinheiro. A voz falava sobre uma viagem a Paris, comentava restaurantes e parques, compras e museus. A que ouvia só pensava:
- Eu nunca vou poder ir pra Paris, merda, só eu que nunca vou.
A insatisfação carrega na sacola uma grande dose de comparação-idealização/inveja-desânimo.
Uma amiga comentou sobre a Grande Competição do Dia das Mães.
Mães na porta da escola mostrando, em barraquinhas emocionais, os presentes recebidos. Meu marido é melhor que o SE-E-U meu filho gosta mais de mim do que o seu gosta de VO-CÊ-Ê, porque olha só o que eu GA-NHE-EI!
Quando éramos crianças tínhamos a licença poética necessária para cantar:
“Eu TE-E-NHO, você não TE-EM”
Crescemos (pelo menos em altura) e mudamos a música para:
“Ela TE-EM, eu não TE-E-NHO”
Uma vez, quando criança, olhei no espelho da sala de balé que refletia várias colegas de turma, umas mais magras, outra de olhos verdes lindos, outra muito melhor que eu nas piruetas e pensei:
- Se eu pudesse escolher quem eu queria ser aqui desse espelho, eu escolheria aquela! Aquela era eu.
Mas tem dia que é tão difícil se escolher.
Por Mirabelle