sexta-feira, 27 de agosto de 2010

No México, DF - Parcele sua cesárea em 6x sem juros no cartão!


Eu não sou ecochata, nem filiada ou militante de nenhum partido político, nem religiosa. A princípio, não tenho nada contra quem seja, desde que respeite minha liberdade de opinião. Com isso, quero dizer que há poucas bandeirinhas que eu levanto. Uma delas é a do parto humanizado.

Caminhava eu pelas ruas do DF quando vi o anúncio acima. Tive que fotografar pra lembrar e continuar a me indignar: “Somos médicos, somos heróis. Pacote cesárea 21.000 pesos (= R$ 2.800)”. Onde já se viu anunciar cesáreas como se fossem roupa, sabão em pó, carro? Como se só dependesse da sua vontade entrar no hospital e pedir uma, e, pior, de modo que você possa comparar preços pra ver qual a mais adequada às suas necessidades e ao seu orçamento?

Me choca e indigna a maneira como, não só no México, mas também no Brasil, as mulheres se vêem obrigadas a passar pela experiência do parto. Tudo muito clínico, muito medicalizado, esterilizado, cheio de profissionais médicos ao seu redor – o que anula a intimidade da mãe, desrespeita o seu corpo e o funcionamento natural do mesmo e afasta para anos-luz o que realmente está acontecendo: você, mulher, está dando vida àquele minúsculo ser que irá amar mais que tudo no mundo. Isso é único, é irrepetível. A mãe deveria ser protagonista, antes de ser paciente. Gravidez não é doença que precisa de cirurgia pra ser eliminada. O nascimento deveria ser um momento belo, antes de um ato cirúrgico onde o herói é um outro cara aí. Acho que é isso o que quero dizer quando defendo um parto humanizado.

Um dos grandes motivos da minha indignação é a altíssima taxa de cesáreas realizadas no Brasil. A Organização Mundial de Saúde recomenda que uma taxa de cesáreas adequada é de 15%. Aqui, em 2008, a taxa nacional foi de 31%, e a dos hospitais particulares, de 84%. OITENTA E QUATRO POR CENTO. Desculpem, mas isso não é normal, e me custa acreditar que justamente a parcela mais esclarecida e abastada da população (precisamente a que pode “comprar” uma cesárea) esteja realmente escolhendo esse tipo de parto. Será que as mães realmente são bem orientadas pelos médicos?

Primeiro, é válido se perguntar quem são esses médicos e de onde vem a epidemia de cesáreas. Não quero generalizar, mas uma vez um conhecido que estudava medicina e era residente em pediatria na Unicamp (e não na Universidade de Pororó do Norte), me contou de um colega que, ao longo de sua residência em obstetrícia, havia realizado um total de 2 (DOIS) partos vaginais. Todos os demais haviam sido cesáreas. Eu me pergunto: que formação esse médico recebeu pra realizar partos normais? Obviamente, nesse caso, doutor, por favor, faça mesmo uma cesárea, pois que conhecimentos o senhor vai ter sobre o mundo de possibilidades de um parto não-cesareano?

Outra coisa importante: quanto ganham os médicos por realizar um parto? Ganham mal. E ganham pior se o parto é natural, pela cesárea eles recebem um pouco mais. Ou a mesma coisa. Com a diferença que o parto normal em geral demora muito mais, pois temos que esperar a mulher ter contrações, dilatar, expulsar e isso leva umas dez ou doze horas ou mais (ai, que tédio, e elas ainda vão reclamar das contrações até alguém colocar a epidural nelas). E a cesárea pode ser feita em 45 minutinhos. Como tempo é dinheiro, aqui há também uma motivação econômica – talvez a que realmente tenha impulsionado a epidemia de cesáreas.

Resultado disso tudo, minha gente, é que hoje em dia a gente não sabe mais o que é parir. Ou você recorre às avós, que vão contar histórias provavelmente um pouco escabrosas sobre o parto (de uma época em que não havia anestesia, que você não tinha a opção de escapar daquelas dores que, sim, são horríveis, e na qual a mortalidade neonatal e materna eram muito maiores), ou você só conhece gente que teve bebês por cesárea. Aqui menciono também minha experiência: morando na Espanha, recebi o telefonema da esposa de meu tio, uma mulher de 35 anos, que mora em São Paulo, grávida do primeiro bebê. Ela queria saber como era ter um parto vaginal, pois todas as suas amigas haviam tido seus bebês por cesárea. Alô, alô, mulherada, vocês acham isso normal?

to be continued...

By Womber Woman