quarta-feira, 11 de maio de 2011

Mãe




Já passou, tudo quanto é coisa faz propaganda do dia das mães, mas fazer o que? Nem sempre se é original e um assunto que dá o que falar é esse: MÃE.

O shopping do dias das mãe vem com todas aquelas imagens de carinho e devoção das mães com seus filhos, são imagens bonitas, mas senti vontade de falar do “negativo” da maternidade, não no sentido moral de ruim, mas o oposto do positivo que é coisa que se faz e mostra. O negativo, aquilo que não se faz, aquilo que não se diz, o que se guarda.

Se eu pudesse escolher uma característica de maternidade singular, fundamental e sutil seria essa capacidade de não dizer.
Como nos envergonharíamos se nossas mães nos contássemos tudo o que elas vem da gente. Porque muita coisa a mãe enxerga antes, bem antes de acontecer. Não porque mãe é mágica ou leu “O Segredo”, mas porque mãe conhece o filho de dentro e desde sempre.
Não são todas as mães que tem esse talento do não dizer. Aliás, mãe quando dá pra ser ruim é uma desgraça na vida de uma pessoa.

Mas senti vontade de falar da minha mãe, e das mães que tem esse dom sutil e delicado de olhar, saber e não dizer.

Como sou grata por tudo o que a minha mãe ficou em silêncio e pôde guardar para outra hora, como a mãe cuida quando pode conter em si uma opinião, uma sugestão e deixar a gente ser para então, em outro momento conversar e mostrar. Ou não.
Por isso que casa de mãe tem que ter armário grande. Um amigo arquiteto construiu no quintal da casa dos pais um galpão cheio de prateleiras... uma cara de pau sem tamanho para guardar tudo o que ele e o irmão não queriam mais.
Por que tem muita coisa que a gente não quer mais e acha que não quer mais pra sempre, mas se se tem uma mãe assim, no negativo, uma mãe baú, armário, a mãe guarda e depois a gente pode se reencontrar quando ela diz como quem não quer nada:
- Filho, olha isso aqui, você lembra?
E aquele quadrinho, urso, camiseta faz você ficar mais inteiro.
A mãe no negativo é aquela que não fala pra você ficar quando está difícil de ir embora. Porque mãe muito boazinha, daquelas que insiste que você fique e faz comida e te cobre no sofá, não ajuda a crescer.
E tenho aqui uma desconfiança que essa mãe sutil, que tem uma sabedoria antiga e natural já ficou bem triste em vezes que ela sentiu que estava difícil para você ir (para a sua casa, cidade), mas ficou quietinha, guardou a vontade de falar: “Filho, fica, eu cuido de você!” Porque ela sabe que você precisa crescer, e ficar em silêncio nessa hora te fortalece a ir.
Á essa mãe que vê, mas não diz. Á mãe que olha e deixa ir. Á mãe onde se pode guardar e voltar pra buscar, quadrinhos, lembranças, abraços.
Minha mais imensa gratidão.
Por Mirabelle