segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O Mundo e os seus 2 únicos problemas


Tenho uma amiga psiquiatra que, de verdade, resolveu meus problemas, não em consultas e de jaleco, mas numa mesa de bar. Resolveu não, reduziu, dissolveu, minimizou e separou o mundo de forma simples e didática.

Quero compartilhar com vocês a TEORIA DOS 2 TIPOS DE PROBLEMA.

Eu sei que quando a gente fala assim já vem as amigas da USP, psicólogas falando: iiii não vai falar que você leu O Segredo??
Não! Não é do Segredo, não é auto-ajuda barata de botequim.
Abram seus coraçõezinhos.

Existem 2 tipos de problemas No Mundo:

- O problema do TIPO 1 e
- o problema do TIPO 2

O problema do TIPO 1: MEU PROBLEMA.
O problema do TIPO 2: SEU PROBLEMA.

Eu sei, eu sei, parece bocó, parece simplório, parece besta. Mas venham comigo aos exemplos e façam após essa leitura o exercício besta de tentar pensar nos 2 tipos de problemas nas + diversas situações que te acometerem com um vendedor de loja, com seu namorado/a, com uma amiga, com a sua mãe e com seu chefe.

Vendedor das Casas Bahia- Você discute o preço do fogão e o cara acha que você tem cara de otário e fala que o preço deles é bom pra caramba, você fala que leva o fogão se ele fizer o preço a vista em 10 vezes. “Aaaah aí eu vou ter que falar com o meu gerente.” “Então fala”. O cara fala, volta e claro que diz que pode fazer isso, com aquela discursinho que ta te fazendo o maior favor do mundo. Você agradece, fala que ta dando uma olhada e diz que se decidir volta para procurá-lo, pede um cartão com o nome dele e se prepara para sair.
Vendedor- Mas você volta em uns 15, 20 minutos?
PLIM
Ou você se vê obrigado, pelo vendedor das casas Bahia (Meu Deus, pelo ven-de-dor-das-ca-sas-Ba-hi-a), voltar no tempo que ele estipulou;
Ou, caso você não tenha uma natureza tão boazinha ou submissa, você sente um mal estar do cara tentar te impor um limite de tempo para um desejo DELE.
OU... você pensa nos 2 TIPOS DE PROBLEMA.
Ele quer que você volte- Vamos lá tiurma! Chamada oral: Qual tipo de problema é esse? Tipo 1 ou tipo 2? Tipo 2, problema dele! Então, com isso em mente você pode ser educada, elegante e não se irritar e responder:
Eu não sei em quanto tempo eu volto!
Legenda: esse problema é seu!

Se com o vendedor das Casas Bahia esse tipo de coisa acontece, com as relações + próximas e importantes esse tipo de confusão entre o que é meu e o que é do outro acontece com + força, + potência e causa grandes furdúncios.

Entre amigos, amantes, família, as pessoas fazem o tempo inteiro o jogo (sempre inconsciente) de enfiar no outro a responsabilidade de cuidar do que não lhe cabe.

Quando se fala em 2 tipos de problema, em "cada 1 no seu quadrado", pode se dar a impressão de certa frieza e egoísmo nas relações. Pelo contrário.
Só se pode estar junto quando se está separado.
Não existe estar-junto quando se está misturado com o outro/ no outro.

As mulheres, culturalmente criadas para serem boazinhas, submissas ao desejo do outro, são as rainhas de confundir tudo.

Uma amiga: não vou sair com ele porque ele quer alguma coisa a mais e eu não.
O cara quer alguma coisa com você.
De novo tiurma: Que tipo de problema é esse?
Problema do tipo 2. Problema dele.
Pensando assim ela pode sair com o cara, leve, livre de ter que se encarregar em dar conta do que ela imagina que ele quer. No fim da noite o problema do tipo 2 pode se tornar do tipo 1, se o cara for interessante e souber levar a conversa, se não, na “pior” das hipóteses, os 2 podem ter ganhado um novo amigo/a.

Parece bobagem, mas saber onde acaba o eu, e onde começa o outro é trabalho para uma vida.

Não é não, cara pálida???

Por Mirabelle

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Sobre o Dom Capoeira e a Miss Universo



Ir ao Poupatempo refazer RG pode ser tudo, menos uma economia de tempo. Ainda bem que, como alienígena recém-chegada, ainda consigo achar alguma graça nos aprendizados antropológicos do dia a dia. Por exemplo, observar o ir e vir dos senhores que ainda usam chapéu, um prazer secreto. Nas quatro horas que passei lá (uma e meia das quais em pé numa fila, esperando que chegasse minha bendita vez), pude dedicar-me a outro de meus passatempos favoritos: roubar histórias para saboreá-las e recontá-las depois.

Estou lá sentadinha no meu banco (e no de outros mais de dez neguinhos) quando se instala a meu lado um senhor bem apessoado, moreno, charmoso até, com seus 50 e tantos anos e cabelo grisalho. O senhor começa a falar no celular e eu, discretmente (que feio!), espichei a orelha e fiquei ouvindo. Eu e a torcida do Flamengo, diriam alguns, naquela densidade de umas 10 pessoas por metro quadrado. Mas confesso que coloquei mais atenção no telefonema do que mandaria a cortesia.

- Então, Leonardo. Mede o ângulo, dispara o temporizador e guarda a medição pra mim. Isso vai dar umas 17 estacas.

- ...

- Não, não. Tô meio aperreado aqui no Poupatempo, acho que daqui a umas três horas eu consigo sair. Mas olha, daqui uns dois meses vou ligar pra você que vai ter trabalho lá na construtora. Estão precisando de topógrafo e assistente de topógrafo. É. Vão fazer um condomínio, compraram uma área de 500 mil metros. Vai ter trabalho para uns dois anos.

- ...

- Você não sabe da última. Sabe que o patrão queria me mandar pro Amapá? É, Amapá. Disse que ia me pagar seis contos. Limpos. Mas pra que eu vou querer ir pra lá se não está ruim aqui? Tá louco que eu vou deixar a minha mulher? Só tenho uma só, a única que Deus me deu, como é que eu vou largar ela assim! É ruim, hein?
- ...
- O Tiago? O Tiago ganha quatro mil. Ele tá lá, fazendo as coisas dele em Autocad. Eu? Hmmm. Eu ganho três e quatrocentos. Mas é que eu não sei Autocad, só sei de terreno. Mas você fica tranquilo que lá na construtora vai ter trabalho pra você, você é minha primeira opção. Quanto você tá ganhando aí? Novecentos contos? Tá louco! Eu consigo subir você pra mil e seiscentos. Como assistente de topógrafo. Lá eu mando em tudo, mando em todo mundo, até no patrão!

- ...

- Hein? Não, claro que eu não mando no patrão. Mas ele tem muita confiança em mim. É muito bom de trabalhar lá.

O sujeito desliga, olha pra mim, faz aqueles comentários básicos sobre os trocentos números que ainda temos na frente (eu, uns trinta; ele, uns sessenta), se sente à vontade e como gostei da eloquência dele vou dando corda. Ele morde a isca:

- Faz três dias que tô enfiado aqui tentando renovar o RG. Fiquei nessa fila toda [uma filha de 1h só para chegar na triagem], aí eu tinha esquecido o xerox, fui fazer a cópia e tive que entrar na fila de novo. Agora ainda por cima vou ter que responder um processo criminal, acho que vai demorar mais.

Eu arqueio as sobrancelhas. Puxa, é mesmo?

- É, faz três meses dois sujeitos chegaram assim para me roubar, um deles enfiou a mão no meu bolso, pegou a carteira com vinte e cinco reais e o RG e saiu correndo. O outro estava com uma arma. Eu sou capoeirista. Bom, era. Mas no que ele se distraiu assim um pouco para ver o outro correr, eu girei e ataquei ele, quebrei costela, quebrei braço, enchi o cara de porrada, peguei a arma dele e rendi ele, aí comecei a chamar um policial que estava ali perto e não tinha visto nada.

Ou fingindo que não tinha visto, acrescento. E ainda digo: O senhor viu que bonito, ontem no concurso da Miss Universo saíram uns capoeiristas na abertura, apesar de ser tudo coreografado, estava bonito.

- É. Faz muitos anos que eu jogava capoeira, agora não luto mais, mas a gente não esquece, não, continua sabendo. Então tive que fazer BO e agora estou sendo processado. Porque quando você sabe caratê, kung fu ou alguma arte marcial, eles consideram como se você tivesse uma arma. Mas não vou pegar cadeia nem nada, não. Só vou ter que ir lá dar explicação.
Aí ele me conta algumas façanhas de sua vida de macho capoeirista anterior, uma briga no forró mais de quinze anos atrás quando foi jurado de morte por três figuras, outra em que a parentela de Marília ficou com ciúmes porque ele paquerou uma moça bonita e quis partir pra porrada.

- É que eu sou um cearense arretado. Eu sei dar uns dois, três golpes letais. Mas está proibido usar em roda de capoeira. Senão, você mata o amigo. Hoje eu sou da paz, não quero confusão, sou um servo de Deus.

E assim tive minha aula de geopolítica popular particular e pude atualizar o sistema operativo para (re)encontrar algumas conclusões. De que o país realmente tá bombando no setor da construção civil (profissionais, aproveitem antes de que a bolha estoure). E a lentidão das burocracias e da máquina pública, aumentando. De que a vítima do assalto acaba processada pela incompetência da polícia e o malandro continua solto. E de que as igrejas evangélicas continuam arrebanhando fiéis. Tudo isso regado a forró e capoeira, mais verde-e-amarelo, impossível.

Conclusões muito fáceis e superficiais, eu sei, eu sei, mas que de alguma forma têm um pé na nossa realidade.

São perfeitas, isso sim, para você continuar a conversa com aquele pai do seu amigo que veio reclamar da corrupção no governo. Agora tenho lamúrias fresquinhas e atualizadas, vivenciadas em primeira mão.

Darling Darling, happy to be back to Brazil.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Ninguém + vê TV

(e outras Revoluções)



Nas últimas 10 conversas, com 15 amigos diferentes, no almoço de família. Falamos sobre O Facebook. Eu sonhei com o Marck Zuckerberg semana passada tal a Ica que eu tava do Face.

Se você estava achando que o problema era só seu, que as séries estavam ficando sem graça, que você tava preferindo comer qualquer coisa rapidinha e que sua cabeça passou a funcionar com a introdução:


“No que você está pensando agora?”, não se preocupe, você não está sozinho.


Todo mundo se condena no começo, critica os outros, tem a turma dos “não tenho tempo pra isso” (esses são os que não tem Iphone ou Blackberry), a turma das psicólogas bionergéticas: “eu prefiro o contato humano autêntico e verdadeiro” (essas são as que não tem Iphone ou Blackberry) e tem o resto do mundo que entendeu que ou usa. Ou usa.
Piadinha infame sobre o uso da ferramenta da tecnologia nas redes sociais- Sabe como se faz sexo com um urso? Do jeito que ele quiser!



E assim a gente vai, updating nosso jeito de se relacionar há 2 minutos, há 4 horas, há 16 horas... e se você ainda acha que isso aqui não é pra valer, amiga, amigo, é porque ainda não chegou a sua vez de querer escrever em letras garrafais aquelas mensaginhas estranhas: "Pague minhas contas e ganhe o direito de cuidar da minha vida..."
Você ainda não teve vontade de gritar isso no Mural de alguém?
Espere, aguarde a sua vez.


Frase célebre (e pouco elegante, como não poderia deixar de ser) dos tempos áureos da facul, “Quem tem cú tem medo”, update 2011- Quem tem Face tem medo.


Ou você ainda não terminou um relacionamento com alguém que tenha um Perfil? Ou começou um? Pense bem, logo mais isso não vai ser a exceção. Aguarde, e veja se vai resistir a ver TODOS OS DIAS o que a pessoa postou, as fotos das viagens e dos finais de semana dela, e o mais ardido, instigante e dolorido, o que as outras postam no Mural dele.
E a ex louca que acha que você está escrevendo em mensagens cifradas só pra ela entender?


Não mencionando todos os contatos profissionais e blábláblá, não tem o que discutir os ganhos e proveitos de um espaço onde tem email, vídeo, foto, aliás, andei notando um acontecimento interessante, os emails na minha caixa de entrada se reduziram aos do meu avô, da minha tia e aos do DVDs de aprenda a dançar com Carlinhos de Jesus (fora os de trabalho).

Ah Zuckerberg, guardasse essa idéia pra você e seus amigos nerds, o que você fez com a gente?


Ninguém + vê TV (nem manda email).


Ou tem alguma série que consegue ganhar do Big Brother em tempo real das pessoas da sua própria vida? Que revolucionário deixarmos de ser expectadores sentados no sofá para nos tornarmos anfitriões, personagens e autores da mídia virtual.

Não existe + solidão no trânsito, você encontra um amigo que não vê há 6 anos numa festa de aniversário e: “Eu vi as suas fotos em Barcelona, como foi a viagem?”.



A intimidade e a privacidade terão que ser revistas em novos termos.


E eu não vou acabar escrevendo que a voz e a pele são os contatos que realmente importam porque Jesus, já tem gente sem Iphone e Blackberry o suficiente pra falar isso!

Aliás, uma pesquisa com certeza paga por essas duas empresas garante que quem tem esses dois aparelhinhos faz X % + sexo que as pessoas que não tem, então amigos nostálgicos, se a questão é de voz e de pele, se adiantem!

Mas anyway, aproveitando a onda das atualidades, estou lançando, com minhas sócias Paris Hilton e Lindsay Lohan a mais nova casa de Rehab e Detox do momento.

Facebook Rehabilitation, para os que já reduziram as horas de sono em mais de 4 horas por causa da ferramenta, os que passaram a comer só comida requentada no microondas (pirigando estar estragada), os que aumentaram a dose de ansiolítico porque não sabem não responder aos amigos que pululam online para conversar, aos que saíram pra beber por ter sido excluído do perfil de alguém. Os que postaram + de 3 vezes na semana frases com sentidos homônimos aos "Caralho, vai cuidar da sua vida!"


Deixe seu Iphone/Ipad e seu Blackberry na entrada, pegue sua dose de Rivotril e venha para as sessões de terapia em grupo falar:


“No que você está pensando agora”.

Por Mirabelle
Funciono por Facebook/ SMS/ bbm/ WhatsApp Messenger

sábado, 3 de setembro de 2011

Dançar com você


De manhã minha vontade de calor não é suficiente pra apressar o quente a chegar antes.

Acordo depois de lanche de madrugada com ainda mais fome, porque é fome de outra coisa, que não se mata com comida, no matter quanto x-burger com batata frita, Milk shake e pizza requentada.

Fome de volta de balada. É aquela fome que a gente vê criaturas devorando lanches na madrugada, uma fome que mistura chapa de padaria, vodka, queijo, cimento, cerveja e fumaça (mas na hora nem parece ruim). A fome-de-outra-coisa, fome de algo que se foi procurar e não achou e voltou com menos nome, no negativo, dando fome. A barriga voltou mais vazia do que foi, roncando, exigente, nervosa. Estranho que come-se isso, cheio de maionese, e vai se emagrecendo. Provavelmente pelo poder desnutritivo calórico que vai consumindo outras coisas por dentro.


A voz da Vanessa da Mata, que é tão de manhã, que dá vontade de andar descalça e amarrar o cabelo (aquele cabelo) com uma flor de chita, e fazer suco de manga, e lavar a louça que ficou na pia. Ainda bem que tem ela pra explicar essa fome que continua a roncar a barriga depois de um lanche que você nunca comeria na sua dieta normal.

“Fico desejando nós gastando o mar”

E esse frio que não vai embora?


It feels like years since it's been here.

A voz dela alaranja o ar, e vai dando palavra para a fome que silencia um pouco o barulho que a barriga faz, revolta e exigente por algo (que agora você sabe que não se trata de comida, e talvez que não seja a barriga).

Não é fome não, é outro espaço vazio, desocupado. É vontade de dançar, mas vontade de dançar que não se mata dançando em qualquer lanchonete, vontade de dançar caprichosa, seleta, exclusiva, esfomeada.


“Quero dançar com você
Dançar com você
Quero dançar com você
Dançar com você”


(Amado- Vanessa da Mata)


+ um pouquinho de Vanessa da Mata
"Vem
Que eu sei que você tem vontade
Que eu sei que você tem saudade de mim
Antes que haja enfermidade, que eu não me recupere mais
"


Por Mirabelle




(Foto de Dane Shitagui, fotógrafa havaiana que fotografa bailarinas em NY)