terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Volta pra casa



Estou naquela que chamei de minha casa por mais de década e meia. As pessoas que moraram comigo continuam aqui e, como que instintivamente, quando penso em voltar pra casa, penso em chegar aqui. Algo em meu peito relaxa aliviado ao ser acolhido pelo barulho da chuva, os sons de terra molhada, o cheiro de jardim ao abrir amplas janelas. Uma minúscula aranha me observa no banheiro.

Mas esta já não é a minha casa. Meus dedos encontraram a pele daquele que é perfeita ao meu tato, o denso cabelo onde gostam de se perder, paragens ao redor da nuca que me invadem de aromas. Esse pedaço de matéria humana no espaço-tempo com quem troquei palavras em outra língua, receitas secretas, as obscenidades mais íntimas e ao redor de quem aprendi a orbitar descobrindo que é possível ser anã-marrom, estar no céu e no chão como estrela e planeta.

Minha casa é ao lado dele, onde ele estiver, e ele não está aqui. Faço do título deste texto um chamado – a ele, a mim mesma, a uma fuga: vem.

[Foto de Ana Lira. Título: Boa Vista. Muitas outras ainda mais lindas aqui: http://www.flickr.com/photos/ana_lira]

Darling Darling