segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Poderosa

A maioria dos que já estiveram em feiras hippies, em raves e os viajantes viajeiros que passaram por qualquer Chapada (dos Veadeiros, Diamantina, Guimarães), ou por Arraial, Caraíva, Maromba, Itaúnas, enfim, muitos dos lugares lindos do Brasil se depararam com o que restou dos hippies, movimento que virou o pessoal da Nova Era na década de 90, uns poucos participaram das raves no começo. Esse pessoal fala a mesma coisa, sobre o calendário Maia, o dia fora do tempo, e todo aquele papo de conexão com a natureza e tal e blá e pá. Junto com os intelectuais do calendário Maia tem os que mostram os “trampo” sempre iniciando a conversa com o famoso “Olá que tal?”

Pra ser sincera sempre morri de preguiça dessa gente toda, apesar de respeitar as crenças de toda e qualquer pessoa, um amigo querido dizia que acredita e respeita até a crença no monstro do lago Ness. Não duvido que minha especial preguiça com esse pessoal provenha de umas lembranças infantis da minha mãe levando a mim e ao meu irmão para ver disco voador e nada, nada, falando que a gente tinha que mastigar o tal do arroz integral com gersal 30 vezes.

Dizem que por causa do solo rico em cristal a Chapada dos Veadeiros em especial concentra um certo tipo de energia, aí vem todas as histórias de discos voadores e todas as idéias esvoaçantes a esse respeito. Mas enfim...procurando um lugar para comer em Alto Paraíso eu e um amigo em tom jocoso brincávamos com os nomes dos estabelecimentos comerciais batizados pelos proprietários com os pronomes reveladores das crenças locais, tais como: Aquarius, Cristal Lilás, Alquimia e por aí vai.

Mas, você acorda e pela manhã vai por estradinhas que fariam Van Gogh trocar a Provence pela Chapada, tais as cores daquele lugar, a poeira de talco é de um marrom rosa que sobe no carro, na boca, nas árvores retorcidas do cerrado e em uma quebra da estrada um ipê amarelo florido brilha as florzinhas que parecem que vão sair voando no azul mais profundo que o céu já fez.

Caminhando por um canyon alto você mergulha e a pele quente arrepia na água fria, vai boiando na corrente que te leva por vezes mais rápido, em outras curvas mais devagar até uma prainha de areia e a brincadeira de criança grande de água gelada com sol quente deixa a gente alegrinha com esse brinquedo que Deus inventou e deixou ali, vazio, sem ninguém, só pra você e pra ele. E sem perceber você se sente grata.

Só porque é sábado depois da pizza tem lua cheia e você sobe em um morrinho e acaba pensando que a lua nunca esteve tão perto e sem nenhuma religiosidade especial dá vontade de rezar e de chorar, e dá pra entender o que antes parecia uma brincadeira, dá vontade de ter uma filha e chamá-la de Lua Lilás (ou Morena). E esses pensamentos não parecem seus, parecem só se manifestarem em você porque você está ali, entre a lua e o chão.
A Chapada não te faz sair se preparando para o que o calendário Maia diz sobre o fim do mundo em 2012, te faz pensar na poderosa mudança.

Contra todas as suas crenças, quando você se vê de ponta cabeça, trocando aquele filme que todo mundo fala que “tem que ver” por uma cerveja, quando troca dormir bem por dormir mal, quando fala o que antes não ousava dizer, quando acha um porre aquele filme alemão em preto e branco e se percebe achando as pessoas criaturas interessantíssimas e pára para conversar, por causa da lua e da água não dá pra negar uma Poderosa Presença.


Quando você entende o que desgostava e vai se tornando um pouco do que criticava, pensa na

Poderosa Chapada.

E só para não sair do clima... eu prefiro seer essa metamorfose ambulante...

Por Mirabelle