domingo, 27 de dezembro de 2009

Entre o natal e o ano-novo


Sempre tive a nítida sensação de que entre os dias 26 de dezembro e 31 de dezembro todas as pessoas estavam na praia.

Isso foi antes dos muitos anos de análise (e dos 2 últimos anos da minha vida) me levarem a considerar outras possibilidades diferentes das minhas próprias.
Parece fácil, mas se pesquisarem bem ao seu redor observarão que o julgamento absolutamente auto-referente da realidade é o padrão. Explico-me: a grande parte das pessoas (e esse dado estatisticamente válido está embasado nas mais recentes pesquisas presentes nas revistas científicas de indexagem internacional) não é capaz de enxergar, perceber ou julgar o mundo, a realidade, os outros a não ser pelas suas estreitas lentes, que contém as próprias experiências de vida, as coisas que aprendeu e em conseqüência as limitações e preconceitos pessoais.
Não é por pura maldade, é apenas difícil, para a grande maioria das pessoas (vejam a validade estatística dessa generalização) olhar o diferente e considerá-lo apenas diferente sem colocar a questão nas gavetas mentais de certo/errado, feio/bonito, melhor/pior.

Um exemplo: ontem, eu comendo uma especiaria delivery da cozinha japonesa (ou a variação deliciosa que fizeram disso aqui no Brasil) e uma querida pessoa ao meu lado confabulando sobre o alimento em questão: Eu não acredito que você come isso aí, é branco, é cebola? Eca, você vai dar o que sobrou para o porteiro? Dá uma coca junto pra disfarçar, apesar de que esse cheiro já está em todo o quarteirão.

Essa era a exata sensação que eu tinha sobre passar esses dias intermediários no próprio lar. E eu achava que a cidade ficava vazia, até ir ao shopping nessa tarde de chuva. OK, nem todo mundo vai a praia e faz alguma coisa desses dias esquisitos entre uma festa e outra. Muitas pessoas vão trocar os presentes que não gostaram.

Então, como nem o porteiro está lá na portaria (mesmo com os anos de análise e com a observação da quantidade exorbitante de pessoas no shopping continuo achando que não tem ninguém na cidade e que eu deveria estar em outro lugar) e não pára de chover, compartilho o meu mais novo vício, capaz de preencher com risadas solitárias esses strange days (citando Jim Morrison para esse post ficar mais cool).

Uma cilada da vida de solteira é a pessoa viciar em alguém, e por alguém I mean uma idéia ilusória de qualquer ser do outro sexo que se mova no espaço (ou do mesmo sexo, sem preconceitos nesse blog).
E quero salientar que ter um espaço para algo além de si mesma é um ponto importante na escala de saúde mental, mas as mulheres em especial são fãs convictas desse tipo de vício, imagino que cada um de vocês já tenha participado da alucinação causada pela abstinência da substância viciante em questão em conversas cheias de angústia como: Ele não ligou, eu mandei a mensagem há 7 horas, porque em 7 horas ele não responde????? Eu deixei um recado com o porteiro, eu vi o porteiro interfonar, porque ele age como se não tivesse recebido nada ou ainda: porque ele só me liga quando volta da balada sozinho as 3:30h?


Na tentativa de não cair nesse “mundo das drogas” (adoro quando ouço pessoas dizerem “mundo das drogas”, ficaria perto do “mundo de Marlboro”?), do vício e da abstinência comecei a assistir séries em dayli bases (daqui a pouco vocês vão entender a razão das mais que excessivas expressões in english). Sem pretensão, só porque não tenho cable TV e tinha uns DVDs por aí.
Eis que a verdade é... passei do vício em Sex and the City para o vício em The Big Bang Theory. Não me critiquem, sei que outras pessoas passaram por problemas semelhantes com “24 horas”, “Lost” e “Grey´s Anatomy”.

Quem já passou por isso entende agora as muitas expressões em inglês né? Assim como com o vício em uma substância masculina em que a usuária passa a achar lindo tudo o que o cara em questão gosta, e assim como em Sex and The City em que você passa a narrar o seu próprio dia com a voz da Carrie começando com: “In New York city...” mas esse efeito colateral só aparece em altas dosagens de exposição à episódios ininterruptos (se você tem as temporadas completas em DVD sabe do que estou falando).

Com Big Bang Theory você passa a incluir expressões em inglês que acha interessantes nos seus diálogos (ou nos seus pensamentos, o que já aponta para um grau mais grave de adicção) e também a considerar o que o Sheldon diria em determinada situação. Eu ainda não comecei a incluir o Sheldon como uma referência nas conversas como: O Sheldon diria... porque aí as pessoas começariam a estranhar.
Outras diferença é que na fase Sex and the City você tem vontade de tomar Cosmoplitan (apesar desse drink não constar nos cardápios de quase nenhum lugar, meninas: peçam ao barman, eles fazem mesmo assim!) e na Big Bang Theory você passa a pedir comida tailandesa em casa, ou ter inexplicáveis desejos por hamburguers.

Se você tem um nerd dentro de você, se você estudou em uma universidade na qual a metodologia científica era mais importante do que o que você tinha pra dizer, se você era proibido de dizer qualquer coisa sem referenciar-se em autores consagrados, ou se você é uma pessoa divertida, assista para a gente poder conversar “in Sheldon bases”.

E acreditem, parece mentira, mas eu conheço pessoas que não conseguem falar com mulheres/pessoas sem citar referências bibliográficas (ou que não conseguem falar com mulheres at all).

Depois me digam se vocês também não torcem pela Penny e pelo Leonard, e quanto à minha culpa... what the hell, as pessoas falam de personagens da novela como se fosse a prima de todo mundo, você chega num lugar e a pessoa vai logo te insultando: Esse esmalte/ corte de cabelo/ vestido é igual ao da fulaninha da novela!!!

Pelo menos no Big Bang Theory a gente ainda aprende um pouco de física... só pra não perder a nerd que tenho dentro de mim.
Feliz ano novo para todos (e se for passar o reveillon em casa, dica: têm as duas primeiras temporadas em dvd)!!!

Por Mirabelle