Uma amiga recentemente me disse: não existe pessoa feia, e sim gente pobre!
Tenho menos de 30 anos, não me considero parte de nenhum grupo no qual a questão estética é um valor em especial no sentido profissional (como modelos, atrizes, e sei lá mais o quê) e acho que em torno de 75% das minhas amigas próximas (também antes dos 30) já fizeram algum “procedimento”: lipo coxa, barriga, costas, joelho, prótese nos seios. Imagino quando chegar aos 50...
Sem falar no Michael Jackson e sem tomar uma postura crítica natureba- hippie- religiosa partidária do corpo-como-Deus-o-fez ou o raio que o parta de ideologias des-pensantes diante da questão, acho bizarro no que vem se transformando a idéia da beleza física atualmente. Devem ter mais clínicas de estética na cidade do que padaria.
Uma consulta a dermatologista. Sugestão da profissional (sem que eu perguntasse): Você poderia fazer um sei-lá-o-quê no quadril para eliminar essa gordura localizada. Saí abalada. Nunca pensei nesses termos no meu quadril, até então eu achava que ser assim, como sou, era uma característica familiar herdada, as mulheres da minha família são assim, coisa que até então eu tomava como característica de equipadas mulheres e boas mães.
A médica transformou toda a questão de pertencimento à uma história (negros, italianos, alemães) inscrita no corpo em defeito. E se fosse um cirurgião que me tivesse marcado com aquelas canetas então, já estaria perguntando em quantas vezes ele divide no cartão e já que o anestesista tá lá mesmo (ouvi isso várias vezes de diferentes amigas), porque não fazer também queixo, umbigo e maxilar?
E não falo em uma indústria de luxo que se abastece de madames endinheiradas e entediadas, falo de qualquer uma que junta seus vários milhares de reais a duras penas para fazer uma lipo que não dá em nada porque a criatura não emagreceu, nem faz exercício e blá blá blá. Depois de grandes as pessoas voltaram a acreditar em qualquer coisa que prometa soluções mágicas e instantâneas, o cirurgião plástico virou a fada-madrinha das aspirantes a princesas pós-modernas.
Mesmo que ninguém saiba como envelhecer, porque na história humana é a primeira vez que se vive tanto, e as mulheres- em especial- não parecem se reconhecer com seus rostos e corpos de 35, 50, 68 e 75 anos e quando a gente (meninas) põe lingerie dá aquele estranhamento porque a gente compra achando (mesmo que bem no fundo) que nos tornaremos uma das Angels da Victoria Secret, e isso não acontece...
Mesmo que tudo isso justifique cada “ml” de prótese/botox que entra e de gordura que vai, tenho uma sensação não só de ressabiamento, crítica ou desconfiança, mas quando olho para a Elza Soares, para a Donatella Versace, para a Ana Maria Braga arrepia-me uma estranha impressão de estarmos abandonando algo de mais fundamental que rugas, marcas e gordura localizada, algo de essencialmente humano.
Porque vamos combinar que elas não parecem mais novas, elas só conseguem se parecer de outro planeta no qual a idade deve ser medida em anos astrais diferentes.
Por Cocobelle