Sabe aquele mau humor que escurece o dia as 4 da tarde e que você considera a hipótese de uma nova carreira à la Amy Winehouse no quesito abuso de entorpecentes já que essa seria a única solução para que você descansasse de si mesma pelo menos por algumas horas?
Mau humor não é um sentimento que mereça ser levado a sério, por isso nunca achei muito digno de nota as famosas TPMs femininas, os bicos, os descontroles. Cresci com minha mãe dizendo aquelas frases de culpa que te tiram a licença poética do xilique. Quando não se queria comer alguma coisa, ouvia-se que tem criança que passa fome, quando a gente fazia cara feia ouvia um discurso meio católico misturado com algo de luta de classes que pretendia criar um sentimento de gratidão com pitadas de culpa por pertencer a uma classe exploradora e beneficiada. Enfim, aprendi que mau-humor era coisa de criança mimada e TPM coisa de moça mau-criada.
Mas eis que o mau-humor, esse mesmo, safado, que não se pretende valoroso e importante te pega pela orelha, pelo ombro, faz o sapato ficar saindo do pé o dia inteiro, e dá vontade de xingar a mãe da moça da Claro que te liga pelo quinto dia seguido, aliás quando toca seu celular dá vontade de jogar na privada e esse mau-humor cretino, raivoso, espumante te dá um brevê de raiva, como se você ganhasse o direito divino de ser intragável... o problema é que você se torna intragável também para si mesmo e a solução legal acessível mais próxima (se a idéia de seguir os passos da Amy forem te dar muito trabalho) é uma lojinha de posto com barras de chocolate.
Mas tem dia que o chocolate (não importa a quantidade) V.O. (Via Oral) não é suficiente, sua taxa de MH (Mau-Humor) está subindo rápido demais, você pode entrar em choque, arremessar o celular pela janela, atropelar o flanelinha no semáforo, cortar a garganta do porteito com o alicate que tem na sua bolsa, falar para aquela amiga querida que adora se gabar que ela estava gorda no vestido de noiva. Rápido, essa é a hora da Calda-de-Chocolate-Intravenosa. Pronto. A administração IV é rápida, eficaz e segura, te manterá capaz de continuar respondendo ao eletricista como um ser humano civilizado:
“Não, eu não sei se o conduite passa por aí, eu nem sei o que é conduite.”
“Não, eu não quero retomar o meu plano com a Claro, não, nem pela metade nem pelo um décimo do preço, obrigada.”
“Não precisa lavar o vidro do carro não, não, não, não! Obrigada, não.”
Ah o mal-estar da civilização... já dizia o senhor Freud, o que seria da civilização sem drinks e chocolate?
Por Mirabelle
Foto de Maria Elena em Vicky Cristina Barcelona (Woody Allen), personagem de Penelope Cruz, uma mulher enlouquecida como todas nós ficamos de vez em quando.
Foto de Maria Elena em Vicky Cristina Barcelona (Woody Allen), personagem de Penelope Cruz, uma mulher enlouquecida como todas nós ficamos de vez em quando.