segunda-feira, 13 de junho de 2011

Calda-de-Chocolate-IV (Intravenosa)



Sabe aquele mau humor que escurece o dia as 4 da tarde e que você considera a hipótese de uma nova carreira à la Amy Winehouse no quesito abuso de entorpecentes já que essa seria a única solução para que você descansasse de si mesma pelo menos por algumas horas?



Mau humor não é um sentimento que mereça ser levado a sério, por isso nunca achei muito digno de nota as famosas TPMs femininas, os bicos, os descontroles. Cresci com minha mãe dizendo aquelas frases de culpa que te tiram a licença poética do xilique. Quando não se queria comer alguma coisa, ouvia-se que tem criança que passa fome, quando a gente fazia cara feia ouvia um discurso meio católico misturado com algo de luta de classes que pretendia criar um sentimento de gratidão com pitadas de culpa por pertencer a uma classe exploradora e beneficiada. Enfim, aprendi que mau-humor era coisa de criança mimada e TPM coisa de moça mau-criada.



Mas eis que o mau-humor, esse mesmo, safado, que não se pretende valoroso e importante te pega pela orelha, pelo ombro, faz o sapato ficar saindo do pé o dia inteiro, e dá vontade de xingar a mãe da moça da Claro que te liga pelo quinto dia seguido, aliás quando toca seu celular dá vontade de jogar na privada e esse mau-humor cretino, raivoso, espumante te dá um brevê de raiva, como se você ganhasse o direito divino de ser intragável... o problema é que você se torna intragável também para si mesmo e a solução legal acessível mais próxima (se a idéia de seguir os passos da Amy forem te dar muito trabalho) é uma lojinha de posto com barras de chocolate.



Mas tem dia que o chocolate (não importa a quantidade) V.O. (Via Oral) não é suficiente, sua taxa de MH (Mau-Humor) está subindo rápido demais, você pode entrar em choque, arremessar o celular pela janela, atropelar o flanelinha no semáforo, cortar a garganta do porteito com o alicate que tem na sua bolsa, falar para aquela amiga querida que adora se gabar que ela estava gorda no vestido de noiva. Rápido, essa é a hora da Calda-de-Chocolate-Intravenosa. Pronto. A administração IV é rápida, eficaz e segura, te manterá capaz de continuar respondendo ao eletricista como um ser humano civilizado:



“Não, eu não sei se o conduite passa por aí, eu nem sei o que é conduite.”
“Não, eu não quero retomar o meu plano com a Claro, não, nem pela metade nem pelo um décimo do preço, obrigada.”
“Não precisa lavar o vidro do carro não, não, não, não! Obrigada, não.”



Ah o mal-estar da civilização... já dizia o senhor Freud, o que seria da civilização sem drinks e chocolate?


Por Mirabelle
Foto de Maria Elena em Vicky Cristina Barcelona (Woody Allen), personagem de Penelope Cruz, uma mulher enlouquecida como todas nós ficamos de vez em quando.