(Lendo “O retrato de Dorian Gray”) Meu livro ficou bobo agora, Dorian Gray não cresce, passam-se os anos e ele tenta colocar tudo o que é tipo de porcaria disfarçada num buraco sem fundo que não é preenchido.
Nesse sentido o livro pode ser interessante. Um rosto que não se marca pela vida carrega um homem que atravessa os anos da própria história isento, desobrigado, inocente. Dispensado de pagar, em rugas, o que vive, joga o jogo como se fosse café com leite. A beleza eterna não tem nenhuma graça.
Seria isso a beleza? O que é efêmero? O que passa? Vi uma vez um programa na TV com uma mulher que treinava dançarinas de boites, aquelas que descem girando naqueles paus, essa senhora- ela já era uma senhora- disse que era importante não parar de se mexer, porque nenhuma mulher fica bonita pelada parada por mais de 5 segundos. Achei esse comentário brilhante. Essa senhora do entretenimento adulto sabe o que é beleza. Sabe que não tem nada a ver com pernas e bunda.
Uma mulher nua, imagem da beleza em muitos sentidos, da beleza clássica, erótica. Um novo amigo (que espero que um dia se torne velho amigo) me disse, com seriedade e quase com sofrimento: “Você não sabe o que é, para um homem, uma mulher bonita”. Era grave seu semblante e não foi feito para impressionar, essas palavras soaram como descobertas para ele mesmo e eu senti que cheguei o mais perto que já estive de tocar essa beleza que é quase dor masculina. Mas mesmo assim, uma mulher pelada parada por muito tempo pode parecer um corpo. Intriga-me que uma pessoa passe a ser um corpo depois que morre: “16 corpos foram achados na região onde caiu o avião”. 16 corpos... de pessoas.
Quando a notícia sai assim penso que de fato, deixando toda a discussão religiosa de lado, não somos só corpo, se quando morre-se viramos corpo é porque alguma coisa mudou, saiu, deixou.
Então, tudo o que existe, entre um corpo vivo, que é metáfora de beleza e a imagem azulada e macilenta da morte, é o movimento.
- “O retrato de Dorian Gray”- Oscar Wilde, escrito em 1891 (como versão para o livro). No momento em que escrevi isso estava em uma parte em que o livro, tenho certeza que como previsto pelo autor, dá uma estacionada, mas depois retoma o fio da trama de forma envolvente e brilhante. Adorei.
- Macilenta- sempre penso em macilenta quando penso em morte, e devo isso à incrível “Noite na taverna” de Álvares de Azevedo (1855), que li sentada no chão da classe, como propôs a professora de literatura no segundo colegial.
POSTADO POR MIRABELLE
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