Olho para os primeiros lugares dos mais vendidos com aquela desconfiança que acompanha a todos os que aprenderam (ensinaram isso pra gente na escola?) que o que mais vende deve ser ruim. O romance mais vendido deve ser ruim (taí o compatriota campeão de vendas Paulo Coelho para não nos deixar mentir), o CD mais vendido deve ser uma droga (taí também o belo casal Calypso para comprovar nossa teoria) e da música à literatura, estendemos nosso preconceito do que é POP por tudo o que repousa sobre a Terra.
Mas os fenômenos de venda também me causam certa curiosidade, especialmente quando se trata de criaturas fascinantes com dentes afiados. O que mais vende “a nível de” vampirismo? A seqüência Crepúsculo- Lua Nova- Eclipse- Amanhecer. Sim, assisti aos dois primeiros e li Lua Nova, não sem certo constrangimento, é verdade, de trair esse antigo ensinamento de que o que é muito POP deve ser de péssima qualidade.
Além de me deliciar sozinha no cinema numa quarta-feira com pipoca com a fascinante arte pós-moderna da musculação + anabolizantes que fez com que Jacob Black ganhasse cadeira cativa no imaginário das mulheres com mais de 11 anos (minha mãe viu, a mãe de uma amiga viu e a reação é sempre a mesma, independente da idade: Nossa, que coisa + linda. Meu Deus!!!), vejo no romance dos vampiros atuais belas metáforas da paixão.
Envolta num cenário adolescente de dramas shakespereanos (não é a toa que Romeu e Julieta são referências constantes na relação do casal da história), com um certo ar “emo” e aquela capacidade de sofrer que só uma adolescente tem, Julieta tinha 14 anos quando conheceu Romeu.
Não estrago as surpresas (para quem quiser ver ou ler) ao contar que Edward- o vampiro por quem Bella, que é humana, se apaixona- tem o poder de ler a mente das pessoas.
Mas Bella para ele é opaca, somente a ela ele não tem acesso, ela a quem ele ama. Além de não conseguir ver os pensamentos da amada, Edward precisa controlar-se para que sua fome por Bella não o faça mordê-la, o que a mataria.
Bella, do seu lado, anseia para que Edward a morda e ela se torne vampira através dele, assim os dois teriam sempre a mesma idade e, literalmente, poderiam viver para sempre juntos.
Parece ter sido essa mesma escolha a de Romeu e Julieta, morrer juntos em seu amor.
A paixão tem algo de violento, de assassino do outro. Uma fome grande demais, vontade de morder, de colocar pra dentro, de transformar o outro na mesma coisa, tornar igual, abolir diferenças.
Penso o fato de Edward não poder ler os pensamentos de Bella como uma bonita metáfora do apaixonamento. Por mais aguçados que possamos ser para captar o outro, seus sentimentos, motivações, ao apaixonar-se o alvo da paixão se torna obscurecido pelo calor de tamanha fome.
Não é a toa que vampiros sempre foram, para mim, essa imagem misturada de sedução e morte, de fome e querer-bem, e querendo tanto, tomar o outro dentro de si.
Na história de Edward e Bella e Jacob cenas de sexo não entram, cenas com as quais os nosso olhos estão acostumados e cansados. Me parece que a autora nos trouxe algo tão antigo quanto esquecido, o calor desse desejo de se entregar, um querer que dói, abre buraco no peito, escurece a visão.
Se os vampiros ficam escondidos em Forks (cidade onde se passa a história) nós, mortais, temos nossas maneiras de se entregar, de morder e de querer muito alguém...
Por Mirabelle
Rá! Realmente, nós adultos condenamos a paixão (que é doença, nós sabemos, sem atletismo etimológico por aqui, certo?) e trocamos isso por algo tão apolíneo quanto chato. Paixão vampiresca, você definiu bem, querer ser um só com o outro, devorá-lo.
ResponderExcluirMuito inspirador esse final, nós temos nossas maneiras de morder, ranger, lacerar...muito grato pelo final do texto! Quantas páginas sublimes não foram escritas por essa vontade.
Nós humanos...
Eu preciso achar uma fonte confiável que confirme esse (por enquanto) boato de que a autora é mórmom! Será que ela é mesmo? Isso explicaria porque eles nunca chegam nos finalmentes...
ResponderExcluirbeijos da
Darling Darling (fashion e aquecida)
Assim como Freddy encontrou o Jason e o Predador encontrou o alien, estou aguardando o Blade encontrar a família Cullen...
ResponderExcluirMa, você é foda. conseguiu fazer um post ótemo sobre a saga dos vampiros emos anabolizados. adorei. e realmente, a autora é mórmon, eu lembro de ter lido na Veja. ;-)
ResponderExcluir