sábado, 1 de maio de 2010

Reencontros

Foi um daqueles finais de semana recheados de lembranças, risadas, corações aquecidos e estranhamentos do que um dia foi familiar.
Casamento de uma amiga da faculdade, amigos que vieram para o evento.

-Você cortou o cabelo!
-E o trabalho novo, está gostando?
-E o seu irmão, voltou?
- Agora você tá melhor com relação ao ex?

Entre perguntas verdadeiramente interessadas um pelo outro esses reencontros parecem alternar o jogo: eu-estou-muito-bem-em-tudo-e-minha-vida-é-ótima e o seu contrário, o jogo para dois ou mais participantes: minha-vida-é uma-merda-maior-que-a-sua!!
Amigos de dez anos, rostos, vozes, jeitos de falar, risadas que soam familiares como se estivessem sempre estado ali.
E ao mesmo tempo novos sotaques, novas solidões, empregos diferentes, outros apartamentos.

Na festa, todos nos seus melhores looks, contentes e saltitantes de estarem agora numa fase mais glamurosa da vida na qual uma festa inclui comida.

Diferente da faculdade quando a ordem da balada era ditada pelo bar onde a skol fosse mais barata e no máximo incluía duas iguarias culinárias que se alternavam entre o croissant quatro queijos as 4 da manhã, rigorosamente acompanhado por travestis e o X-tudo do Marcão por R$ 3,99 (esse normalmente encarado apenas pelos homens com H).

A banda começa a tocar e uma excitação animada toma conta de todos.

- Lembra dessa? Nossa, deve ser de 89.

Quando toca Michael Jackson os homens competem pela melhor performance. Sua morte parece ter libertado a classe masculina para as mais incríveis tentativas de moon dance, dançar “Billie Jean” é quase uma homenagem ao rei.
Eis que, ao olhar as caras de interrogação dos adolescentes primos presentes, um insigth acontece:

- Nós somos o público do flash back, esse flash back é pra gente!

Nós que nascemos da década de 80 seremos os próximos privilegiados nos pout-pourris de casamentos, os DJs terão que atualizar a série: “biquíni de bolinha amarelina- tomo um banho de chuva” pela música que tocava no Footloose seguida por “Like a Virgin”.
Muito espumante, tombos, conversas ininteligíveis e danças com garçons depois, um dia de ressaca fenomenal.

Domingo a noite uma sensação quentinha permanece, a despeito da solidão.
E penso nos relatos de separações doloridas, tardes de domingo solitárias, baixos salários, pais doentes e chefes malucos.

Sou arremessada à uma compreensão nova, surpreendente:
Meus amigos agora têm dores de gente grande.
E não sem certa tristeza resignada percebo o óbvio inesperado: somos adultos.
Por Mirabelle
(foto do filme: Albergue espanhol)

6 comentários:

  1. Oi Má... realmente o tempo passa rápido e a sua observação a respeito do setlist dos DJs é um tanto quanto desoladora. Mas com certeza existem coisas atemporais.

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  2. Oi Má...você tem a dose certa de humor e sensibilidade em todos os seus textos...adorei...
    bjo

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  3. Mari...adorei! Como sempre texto ótimo. Melhor é fazer parte disso. Ri demais, sem deixar de lado a pitada de tristeza. Bom ter vcs na minha história...melhor ainda é ter alguém que a retrate...bjos

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  4. É...chefes malucos...
    Beijão, Mari!

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  5. Bom, os emails trocados após o supracitado finde atestam a lindeza da profundidade emocional alçançada por todos que dele participaram. Tão linda quanto é a sua resenha de momento tão marcante. CAAAARA, somos adultos. Muitas contas no débito automático, imposto de renda, carreiras... e encontros, confissões, bebidas, amigos. Sempre amigos. beijo grande!

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  6. Pois é, Brasil... Muito velho pra ser novo, muito novo pra ser velho. Ainda tentando entender qual é o meu papel nesse mundinho (afora o part-time de coreógrafo amador e animador de eventos)
    Excelente texto! Que tenhamos mais e mais oportunidades de estranhamentos do outrora familiar e relembrarmos o quanto somos bons nesta tal de "farra"!
    E até o próximo casório!!! (ou bastismo??? :D )

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