quinta-feira, 29 de julho de 2010

Lady Gaga (parte 2) ou o "Oba-Oba pós moderno"

(continuação dos 2 posts anteriores)
A Madonna cantou “Like a virgin” vestida em uma espécie de vestido de noiva erótico com toques punks e esse visual era algo de controverso e chocante para a época (1984), mas perto do clipe de “Alejandro” (Lady Gaga) a Madonna realmente parece uma virgem.

Em “Bad Romance” Gaga aparece como uma mulher-lagarto (visual composto com peças de Alexander MacQueen) criada/fabricada num casulo, ela é então oferecida a uma homem, como uma espécie de encomenda. No fim ela mata o sujeito que a “escolheu/encomendou”.
Cena final: ela e um corpo carbonizado na cama.

Em “Telephone”, clipe que parece filme (tem 10 minutos) do Tarantino com cores fortes e cenas que nos lembram desenhos animados, ela e Beyoncé matam envenenado o namorado da Beyoncé e também todo o resto das pessoas da lanchonete.

O mais curioso, para mim, é “Alejandro”. Mistura uma estética militar de soldados e armas, com Lady Gaga vestida de freira, terço na mão e cruzes pelo cenário. Os soldados aparecem vestidos de meia calça arrastão e salto meia-pata enquanto ela, magrinha, branca, performa o lugar masculino em uma relação de domínio e força nas cenas filmadas em camas.

Uma foco constante dos clipes é a relação homem-mulher.
O domínio histórico masculino é invertido por uma mulher que não deixa de ser feminina, mas que passa a ter controle sobre homens, por vezes feminilizados. Aparece nos clipes e na voz um tom de raiva e de vingança contra os homens. Uma espécie de revanche (?).

Taí um prato cheio para discussões a respeito dos papéis masculinos e femininos e sobre todas as questões de gênero na atualidade.

Gaga aparece cada vez com um cabelo, com uma maquiagem.
Não sei se alguém a reconheceria caso encontrasse com ela na padaria, de moletom.

Não é a Stefani Joanne Angelina Germanotta (nascida em 1985, sim ela tem 25 anos!) que canta e dança, é um simulacro (agradeço aos universitários).
Criação estética que transcende a pessoa da artista, é mais que ela ao mesmo tempo que se desmancha em vazio se retirado o figurino, penteado e maquiagem.

Alguns filósofos e sociólogos (entre eles Baudrillard, Baumann) que discutem a nossa época definem-na como a era da incerteza, do vazio, na qual a imagem ganhou o lugar de onde antes havia sentido, consistência.

A pós-modernidade seria a era liquefeita, na qual a mercadoria propagandeada e consumida não tem valor de uso ou de troca, mas antes, de signo. Vende-se e consome-se imagens de poder, status e beleza que pretendem solucionar o vazio, mas só servem para aprofundá-lo.

Lady Gaga me ajuda a pensar em uma frase dita por um professor querido (e nunca antes entendida por mim), disse ele:

“Hoje nos resta a certeza da frustração ou oba-oba pós-moderno.”

Fico com o oba- oba da Gaga! Que explora, usa e abusa daquilo que também denuncia.
Por Mirabelle

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Lady Gaga (parte 1)

Então, continuando com o tema: Divas Pop.

Estava eu divagando anteriormente acerca do meu mais novo e surpreendente (para mim mesma) gosto pela Lady Gaga.

Como nos esclareceu os universitários (comentário do post anterior: “Das Divas”), a Lady Gaga faz uma coisa que chama: simulacro.
Google, Wikpédia por favor... aaaaah, an?

Olha só, a-do-ro coisas que a Wikipédia e a lista de resultados da busca do Google não conseguem nos explicar, SIMULACRO é uma delas.

Bem por cima, parece ter sido um termo cunhado pelo sociólogo e filósofo francês Jean Baudrillard (Reims,1929 — Paris 2007) sobre o qual não tenho nenhuma intenção de falar aqui, porque provavelmente a compreensão do que é simulacro envolveria uma dissertação de doutorado que cobrisse razoavelmente a literatura existente acerca da pós-modernidade e suas expressões culturais e identitárias...então, vamos parando por aqui.

Uma breve tentativa:
“Os simulacros são experiências, formas, códigos, digitalidades e objetos sem referência que se apresentam mais reais do que a própria realidade, ou seja, são “hiper-reais”. Como ele escreveu: “A simulação já não é a simulação de um território, de um ser referencial, de uma substância. É a geração pelos modelos de um real sem origem nem realidade: hiper-real”. Assim, Baudrillard entendia nossa condição como a de uma ordem social na qual os simulacros e os sinais estão, de forma crescente, constituindo o mundo contemporâneo, de tal forma que qualquer distinção entre “real” e “irreal” torna-se impossível.” 1

Mas enfim, o nosso querido Baudrillard fala sobre uma coisa que eu vi (sozinha) nos clipes da Lady Gaga. Não é interessante quando a gente acha que descobre uma coisa e depois vai ver que há 30 anos alguém já escreveu muito sobre isso? De duas uma, ou você fica desapontada com a descoberta que sua descoberta é só uma questão de falta de leitura, ou fica contente com aquela sensação nerd de aluno aplicado de: “Viu! Eu também pensei nisso!!!”

Se você não acha nada de mais a música da Lady Gaga- uma mistura de dance anos 90 com a Madonna, resultando em um som que parece uma mistura de tudo o que toca no rádio- os clipes te deixarão, pelo menos, curioso.
Vai lá ver:
1- “JEAN BAUDRILLARD: importância e contribuições pós-modernas”
Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira
Publicado no Caderno MIX - Idéias - Jornal "Diário de Santa Maria - Edição de 31/03 - 01/04/2007

To be continued...
Por Mirabelle

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Das Divas



Descobri que acho a Beyoncé incrível, especialmente no clipe “All the single ladies”, aquela dancinha do começo, com uma mão na cintura e a outra balançando onde deveria haver um anel, poderia se tornar um gesto folclórico, tipo essas coisas que passam a fazer parte da cultura popular e ninguém sabe de onde veio.
A dancinha poderia ser inserida em qualquer contexto no qual o tópico fosse: “você dançou, teve sua chance, fez merda, me frustrei e agora estou em outra!” A moça do contexto faz a dancinha, uma vez pra cada lado, ou mais, vira-se e vai embora.

Ah Beyoncé, obrigada pela dancinha, nos pouparia muitas palavras, diria por si mesma: “If you like it than you should have put a ring on it!”

A Shakira se garantiu aprendendo a dança do ventre e fazendo essa mistura entre algo de fantasia erótica latinha misturada a roupas e violões ciganos com algo de 1001a noites, não sendo mulata ou negra ela rebolando não fica tão atrás do gingado natural e inimitável da Beyoncé.
A Rihanna faz mais uma espécie de bad girl que cá para mim, dá um pouco de medo, imagem que não cai bem com as notícias reais em que ela aparece com o olho roxo por apanhar do namorado.

Essas divas Pops chegam para mim como ilustrações de modelos de mulher. Não que eu acredite que elas sejam realmente como nos clipes, com o cabelo esvoaçante, a pele dourada perfeita, maquiadas, a cintura de 60 cm (e aquele bum bum da Beyoncé, alguém já decidiu se é de verdade ou não?). Ninguém é assim, mas de certa forma essas divas se colocam como modelos do que é ser mulher hoje: independente, rica, talentosa, linda de frente, de baixo, de ponta-cabeça.

É começando por aí que acho a Lady Gaga incrível. Não que ser uma diva não seja razão suficiente para uma existência, mas diferente das outras, ela não se empenha em parecer linda-maravilhosa em cada aparição.

Ela explora radicalmente essa idéia de uma imagem criada, completamente falsa, não no sentido de mentira, mas de algo fake, montado. A começar pelo nome, que nos remete a uma personagem.

Na música paparazzi ela diz que: we´re plastic but we still have fun.
To be continued (Lady Gaga)...
Por Mirabelle

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Se não fosse o Bruno...

Gente, vamos combinar, que mesmo que já esteja cansando todos os updates do caso do Bruno, a gente gostcha mesmo dessa coisa, não pão-e-circo, mas morte-e-circo.

Se é claro que qualquer ser humano que ainda não alcançou a iluminação divina adoora saber de casos horríveis como o da Isabela jogada da janela, da Elisa supostamente morta e comida por cães, acho que esse caso chama uma atenção especial não apenas pelo crime e todo o clima de CSI tupiniquim (como um exame de sangue demora 20 dias para ser feito?), mas por significar uma chave para o mundo encantado dos jogadores de futebol.

Se o Brasil tem heróis eles usam chuteira, e no caso presente, luvas. São os meninos pobres que dão certo, que têm contas milionárias e o mundo aos seus pés.

Finda a Copa descobri um segredo masculino intrigante, e cá entre as mulheres, bem engraçadinho: quase todos os homens gostariam de estar na seleção. Eles xingam, criticam, disfarçados de “entendedores de futebol”, mas a verdade motivadora de toda mesa redonda é a velha inveja, na melhor das hipóteses, admiração pelos homens-heróis que ao invés de capas, usam chuteiras mágicas, com o poder de 100 mega-senas, o poder de trazer todas as mulheres do mundo, todas as ferraris e todos os outros homens falando deles.

Pensando assim a gente até que é bem humilde, as nossas varinhas mágicas de princesas traziam carruagens, vestidos e sapatos. Ah sapatos! A Cinderela e a fada-madrinha gorducha foram as antecessoras dos Louboutins, dos Manolo Blahnik, e até hoje a gente acredita que o sapato vem com príncipe, que bobinhas, são os príncipes que vêm com sapatos!

Mas de volta ao Bruno, que mundo encantado esse o dos jogadores. Mundo de festas e de tantas Elisas morenas, loiras, mas sempre de calça jeans no modelo meia-calça (tão grudada que é) e poses de costas, já repararam que essas “namoradas” do Bruno estão de costas (olhando pra frente) em todas as fotos? Isso é que é patriotismo, bunda e futebol.

O mundo do macho alfa. O Bruno poderia aproveitar o tempo livre que ele vai ter agora para dar consultorias de logística, como um ser humano é casado e tem todas essas “namoradas”? Ele tinha uma secretária que organizava isso?

Sem o objetivo de interpretar psicologicamente essa história toda, que nem sabemos bem como aconteceu, desconfio que ganhar uma fortuna, ser bonitão, seu amigo fazer uma tatuagem de amizade eterna, traçar todas as mulheres-melancias do caminho, dê à esses jogadores a falsa sensação de serem um “Godfather” sem o glamour do Marlon Brandon. Será que o Bruno estendeu a mão para o Macarrão beijar um anel no seu mindinho ao pedir para ele “resolver o problema da Elisa”? Provavelmente não foi assim tão chique quanto eu gostaria de imaginar.

Seja pela inveja masculina de uma vida de gorila como essa, seja pela curiosidade indisfarçada que todo mundo tem por uma vida assim, sem limites, sem restrições, o caso Bruno evidencia uma mídia perversa e uma certa fome do público por sangue e detalhes mais sórdidos. Enfim, as qualidades usuais das pessoas.
Mas se não fosse o Bruno, do que a gente estaria falando na manicure, no almoço, no bar, e no jornal nacional?
Por Mirabelle

terça-feira, 13 de julho de 2010

Chuva com chocolate

Quando amanhece chovendo e faz aqueles dias cinzas e frios meu coração se aconchega dentro de mim fazendo voltinhas como uma cachorinha pequena faz ao se aninhar em um cobertor.
Gosto de sol, de dias azuis brilhantes, mas esses dias ensolarados não só convidam, mas também exigem muito. Que se levante cedo, que se faça exercício ou tome sol, enfim, qualquer coisa que nos faça fazer parte do azul, do calor.

Dias de chuva são humildes, desambiciosos. Não se precisa fazer nada, nem as coisas realmente necessárias, dias cinzas me lembram da liberdade da qual fala Fernando Pessoa,
“Ai que prazer
não cumprir um dever.
Ter um livro para ler
e não o fazer!”

Nesses dias em que ouço as pessoas reclamarem da chuva, do frio, do escuro, só sinto o cheiro de pipoca de chocolate da infância. Quando chovia a tarde era a tarde da pipoca ou de mingau de chocolate.

É bom como chuva tem gosto de chocolate.

È verdade que os pingos acinzentados de um dia assim trazem uma saudade que pode ficar doída. Saudade de irmão no sofá junto, saudade de mãe em casa, saudade de um tempo em que o frio esquentava.

E essa preguiça que é pura liberdade, de deixar o trabalho inacabado, emails a serem enviados, a ginástica para amanhã e assistir algum filme de novo, porque é tão bom ver filmes já vistos por eles não requererem atenção, a gente já sabe o que acontece.

Mas com saudade e sapato molhado, ainda assim não deixo de sentir cheiro de chocolate quando chove o dia inteiro.

A Pipoca de chocolate

Faça a pipoca normalmente, sem sal, na panela.
Claro que não vale a de microondas, que além de ter sal é a moradia da gordura trans.

Numa panelinha coloque chocolate em pó, do padre (Nestlé)- não achocolatados que vem com muito açúcar e não tem gosto de chocolate de verdade- açúcar, um pouco de manteiga (sem sal) e um pouco de leite, mexa tudo até o açúcar derreter e ficar uma calda mais grossa escura.
É o jeito de fazer aquelas caldas de chocolate que ficam durinhas, normalmente tem em bolos de cenoura.

Jogue por cima da pipoca e pronto!

É bom comer de colher, porque dá pra alcançar a calda que fica embaixo, a pipoca que fica mais molhada de calda fica úmida, meio molinha, uma delícia.

Junte um irmão (se você não tiver um acho que serve uma irmã), um sofá e pronto!
Por Mirabelle

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Montículos



Antitérmico em gotas sabor cereja. Comprimidos de paracetamol e ibuprofeno. Pacote de bolacha aberto. Tampa de garrafa de suco. Babador. Hominho do Kinder Ovo. Ovo de páscoa pequeno (estamos em julho). Pano de prato. Pulseira de metal. Uma colher. Moedas. Ímã de geladeira sem o imã (caiu). Potinho de comida para bebês (sabor frutas com cereais). Tubo de pasta de malta para gatos. O gato. Colar de sementes nas patas do gato. Uma maçã. Prato infantil com sobras de comida. Telescópio (ou: rolo de papel de cozinha que acabou). Guardanapo usado. Mãozinhas meladas.
DanUps. Danones. Danoninhos. Polenguinho. Papinha de bebê. Água que nunca fica gelada. Em cima da pizza, touca de natação.

Tico-tico. Boneca. Piano musical barulhento. Pecinha de quebra-cabeça. Peçona de quebra-cabeça. Band-aids para quando o Júnior quebrar a cabeça. Figurinha de futebol. Papel do pacotinho da figurinha de futebol. Bola de futebol. Cinto mexicano de tecido. Meia encardida n. 28 desparceirada. Pregador de roupa. Pilha (perigo). Forminha em forma de estrela, círculo, coração. Meio giz de cera mordido (roxo). Canudinho do suco. Caixinha de suco. O suco. Chaveiro. Celular. Celular cheio de baba. Celular cheio de baba ligando para o último número marcado. Sapato de bebê. Pedaço de pão. Pedaço do coração do pai. Lista velha de supermercado semi-mastigada. Nova lista de Infinitas maneiras de amar.

Banheira de plástico. Esponja natural ultra-suave. Esponja natural ultra-suave mordida. Pedaço da esponja natural ultra-suave tapando o ralo. Raio McQueen. Doc, Mate, Sally (amigos do Raio). Sabonete hipoalergênico. Xampú hipoalergênico. Xampú hipoalergênico nos olhos. Choro. Areia da praia. Terra do parque. Pé de moleque, pé de boneca. Raio McQueen na mão da boneca. Choro. Arminha de água. Água da arminha na cara. Pecinha de lego na mão do moleque. Choro. Pedaço de maçã. Talco, fralda, colônia, xixi escapando. Pijama. Toalha no chão. Gato. Pasta de dentes com estrelinhas. Desodorante, hidratante facial, batom, perfume, pente, escova, espuma de barbear no chão. Os 3,67 m de papel higiênico restantes fora do rolo. Dentes limpos. Vitória.

Berço. Coelho de pelúcia. Boneca de pano. Boneca de verdade. Elefante de pelúcia. Urso musical de pelúcia. Sapo de pelúcia. Burrico de pelúcia. Dragão de pelúcia. Meinha perdida. Sono, sonho. Olhinhos fechados, borboletas pousadas em nuvens de amor.
Cama. Cachorro de pelúcia. Gato de verdade. Travesseiro. Raio McQueen embaixo do travesseiro. Menino maluquinho em cima. Vaca luminosa na tomada. História maravilhosa com gols e aviões. Beijo melado. Boa-noite.

Livro do Alan Pauls. Livro do Viktor Frankl. Livro da Lygia Fagundes Telles. Alicate de brinquedo. Pedra do parque. Parafuso de brinquedo. Concha da praia. Areia da praia. Parafuso da cabeça da mãe. Tampa de mamadeira. Despertador. Controle remoto da TV. Controle remoto da TV a cabo. Par de brincos. Par de brincos de prata. Par de brincos da Grécia. Par de brincos de Ubatuba. Outro par de brincos. Porta-joias (enfeite?). Sandália de bebê. Pulseira. Chaves. Carteira. Raio McQueen. Esquilo do Ice Age. Contas a pagar. Contas pagas. Conta dos cocôs que a bebê fez no dia. Recibo do banco. Revista “Ser Padres”. Maiô da Lilica Ripilika. Pecinha de lego. Meia maçã. Abajur que se apaga. Abraços e sorrisos de felicidade.

by Womber Woman