segunda-feira, 30 de agosto de 2010

De querer ser mais


Sempre que viajo me ressinto. É o primeiro e mais palpável sentimento que me acomete. Ressinto-me como uma velha que se ofende pelo tempo passar, por ser inútil, tal ressentimento é também idiota.

Sinto um ressentimento quase como uma ofensa a qualquer coisa que, de início, me escapa. Depois de muito ressentir-me fui descortinando a razão de tal disparate.

Sou pretensiosa, não me contento com o status de turista, gringo que faz aquele papel de tonto, de “haule” (na linguagem do surf, aquele que vem surfar em praia estranha, a qual não pertence)com a constante expressão de: não-entendi.

Nutro certa admiração por aqueles que, por ingenuidade ou falta de senso-de-ridículo chegam de excursão com suas barrigas brancas e bolsas coloridas, máquinas penduradas, tênis novos e se põe a tirar fotos fazendo poses e esbanjando sorrisos de satisfação. Levam pra casa canecas e camisetas (com os dizeres: PRAIA DA JOAQUINA, HARD ROCK CAFE MIAMI, NATAL) tendo certeza de terem “conhecido” um novo lugar.

Quando viajo sempre me sinto com a roupa errada, e cada lugar tem o talento de despertar diferentes tipos de sentimento de inadequação: em Floripa sente-se imediatamente a falta de musculação, a falta de pratarias penduricadas e a falta de um surfista a tira-colo. No Rio sente-se vestida demais, séria demais, até chata. Em São Paulo sente-se desarrumada, pouco descolada, caipira. Na Europa sente-se mais pra Hobbit do que pra Elfo, comparada as loiras altas e magérrimas no caminho...

Mas o sentimento de inadequaçåo pode ser suprimido por compras ou bom senso.

O ressentimento que se muda pra dentro de mim ao viajar é de ordem mais existencial e por isso, menos transformável por lojas e lógica.
Ao ver senhoras tomando água de côco no fim da tarde em Ipanema, ao avistar um cabeludo fumando um cigarro em certa varanda de Barcelona, um fazendeiro num trator quarta a tarde em uma plantação de girassóis no interior da Áustria, minha existência concebe a dimensão exata da sua limitação, meus contornos ganham espessura e percebo com força a exclusividade da minha existência.

Vivo só e apenas a minha vida, presencio exclusivamente as minhas experiências e isso me parece pouco, pouco demais.

Quando criança minha mãe me falou que eu não poderia ser rainha da bateria (essa resposta dá a notícia desconcertante de que um dia esse desejo existiu) porque para isso eu precisava ou ser famosa (antes eu tinha dito que não queria ser famosa) ou ter nascido na comunidade daquela escola de samba. Essa resposta materna foi retumbante, foi a primeira vez que me deparei com uma verdade absoluta, imutável e ainda assim trágica: eu não seria muitas coisas pelo simples fato de eu ter nascida eu-mesma e não uma outra (em outro lugar, de outra cor, sexo, em outro tempo).

Quando viajo, me ofendo com a pluralidade das possibilidades (como se pudesse ser diferente).

Talvez seja essa a razão das pessoas não viajarem (sabiamente, talvez). Elas preferem permanecer na confortável idéia de que suas vidas bastam, de que são grandes o bastante, interessantes o suficiente.

Em momentos mais chorosos essa realização chega a me parecer triste.
Sinto saudades do tempo que “Ipanema era só felicidade” apenas pela voz do Vinicius, eu não estava lá.

Tenho essa vontade de conhecer de dentro, não de foto. De ter papel principal e não ser figurante em cenários que me encantam.

Sei que isso vem de certa fome grande demais, fome de morder o mundo que nem uma tortinha.

Uma vez, na Bahia, ao ver um pescador puxando a rede no final da tarde essa mesma melancolia se apossou de mim. Minha vida era pequena para caber também essa existência de pescador, que me pareceu bonita na espessura das mãos, nos cheiros de sal, na cor que o sol deixa na pele.

Mas vendo a rede, o barco, o pescador, lembrei com força do “Velho e o Mar”, do Hemingway e me acalmei por lembrar que eu também sei (bem pouco, mas faço uma idéia) como é pescar, de como se passam os dias no mar (passei algumas semanas com Hemingway no mar).

E pensei que gosto de ler por essa razão, por curiosidade, por petulância de achar ridículo fazer pose pra foto com mochila, tênis e chapéu em pontos turísticos lotados de gente.

Ler é um jeito oficial de entrar no olhar do outro pelo lado de dentro, pela coxia (backstage) da vida e assim viver outras histórias, vestida de pele de pescador e garota de Ipanema pra quem sabe assim, driblar a pequenez de ser uma só.

Por Mirabelle

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

No México, DF - Parcele sua cesárea em 6x sem juros no cartão!


Eu não sou ecochata, nem filiada ou militante de nenhum partido político, nem religiosa. A princípio, não tenho nada contra quem seja, desde que respeite minha liberdade de opinião. Com isso, quero dizer que há poucas bandeirinhas que eu levanto. Uma delas é a do parto humanizado.

Caminhava eu pelas ruas do DF quando vi o anúncio acima. Tive que fotografar pra lembrar e continuar a me indignar: “Somos médicos, somos heróis. Pacote cesárea 21.000 pesos (= R$ 2.800)”. Onde já se viu anunciar cesáreas como se fossem roupa, sabão em pó, carro? Como se só dependesse da sua vontade entrar no hospital e pedir uma, e, pior, de modo que você possa comparar preços pra ver qual a mais adequada às suas necessidades e ao seu orçamento?

Me choca e indigna a maneira como, não só no México, mas também no Brasil, as mulheres se vêem obrigadas a passar pela experiência do parto. Tudo muito clínico, muito medicalizado, esterilizado, cheio de profissionais médicos ao seu redor – o que anula a intimidade da mãe, desrespeita o seu corpo e o funcionamento natural do mesmo e afasta para anos-luz o que realmente está acontecendo: você, mulher, está dando vida àquele minúsculo ser que irá amar mais que tudo no mundo. Isso é único, é irrepetível. A mãe deveria ser protagonista, antes de ser paciente. Gravidez não é doença que precisa de cirurgia pra ser eliminada. O nascimento deveria ser um momento belo, antes de um ato cirúrgico onde o herói é um outro cara aí. Acho que é isso o que quero dizer quando defendo um parto humanizado.

Um dos grandes motivos da minha indignação é a altíssima taxa de cesáreas realizadas no Brasil. A Organização Mundial de Saúde recomenda que uma taxa de cesáreas adequada é de 15%. Aqui, em 2008, a taxa nacional foi de 31%, e a dos hospitais particulares, de 84%. OITENTA E QUATRO POR CENTO. Desculpem, mas isso não é normal, e me custa acreditar que justamente a parcela mais esclarecida e abastada da população (precisamente a que pode “comprar” uma cesárea) esteja realmente escolhendo esse tipo de parto. Será que as mães realmente são bem orientadas pelos médicos?

Primeiro, é válido se perguntar quem são esses médicos e de onde vem a epidemia de cesáreas. Não quero generalizar, mas uma vez um conhecido que estudava medicina e era residente em pediatria na Unicamp (e não na Universidade de Pororó do Norte), me contou de um colega que, ao longo de sua residência em obstetrícia, havia realizado um total de 2 (DOIS) partos vaginais. Todos os demais haviam sido cesáreas. Eu me pergunto: que formação esse médico recebeu pra realizar partos normais? Obviamente, nesse caso, doutor, por favor, faça mesmo uma cesárea, pois que conhecimentos o senhor vai ter sobre o mundo de possibilidades de um parto não-cesareano?

Outra coisa importante: quanto ganham os médicos por realizar um parto? Ganham mal. E ganham pior se o parto é natural, pela cesárea eles recebem um pouco mais. Ou a mesma coisa. Com a diferença que o parto normal em geral demora muito mais, pois temos que esperar a mulher ter contrações, dilatar, expulsar e isso leva umas dez ou doze horas ou mais (ai, que tédio, e elas ainda vão reclamar das contrações até alguém colocar a epidural nelas). E a cesárea pode ser feita em 45 minutinhos. Como tempo é dinheiro, aqui há também uma motivação econômica – talvez a que realmente tenha impulsionado a epidemia de cesáreas.

Resultado disso tudo, minha gente, é que hoje em dia a gente não sabe mais o que é parir. Ou você recorre às avós, que vão contar histórias provavelmente um pouco escabrosas sobre o parto (de uma época em que não havia anestesia, que você não tinha a opção de escapar daquelas dores que, sim, são horríveis, e na qual a mortalidade neonatal e materna eram muito maiores), ou você só conhece gente que teve bebês por cesárea. Aqui menciono também minha experiência: morando na Espanha, recebi o telefonema da esposa de meu tio, uma mulher de 35 anos, que mora em São Paulo, grávida do primeiro bebê. Ela queria saber como era ter um parto vaginal, pois todas as suas amigas haviam tido seus bebês por cesárea. Alô, alô, mulherada, vocês acham isso normal?

to be continued...

By Womber Woman

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Da arte de viajar...


“Sempre me pareceu que estaria bem onde não estou, 
e essa questão da mudança é um tema que estou
 sempre cogitando na minha alma.“ 
(Baudelaire)


Em “A arte de viajar”, Alain de Botton reflete deliciosamente sobre essa atividade tão antiga quanto a humanidade, de fazer as malas e ir para outro lugar.

O título, a princípio, se faz de despretensioso, mas guarda significado tão óbvio quanto infinito.
Pra viajar não basta a CVC oferecer pacotes em 10 vezes sem juros.

Viajar é talento, viajante tem que ser muito artista nessa arte de ir e se deixar, se levando junto, pra se trazer transformado, e ainda assim, continuar sendo si mesmo.

Para viajar é necessário muita coisa, de dinheiro a coragem de ficar consigo em quarto diferente, sob outra luz, sem as amarras confortáveis da rotina.

É necessário férias, planejamento, necessaire, passaporte e certa disposição rara de deixar pra trás o que se é e se experimentar com novos temperos, outros acompanhamentos.

Mas tem muita gente que engana que viaja, só se move de lugar, mas permanece o mesmo, olho no Iphone, emails, testa enrugada, olho no sapato.

Viajar é olhar pra frente e ver as pessoas passarem e ir reparando em cabelos, roupas, sotaques. Viajar mesmo acontece quando a gente passa aquela euforia do Free Shop e ouve o que a cidade conta, se é silenciosa ou se grita, se acorda tarde ou adormece cedo.

Tem lugar que é velho, outros que são jovens. As praias do Brasil são adolescentes, ruidosas, coloridas, gritantes. O mar mediterrâneo chega com calidez, mansa e silensiosamente, convida a ler na areia que nem esquenta tanto. O verão europeu é ansioso, conta com seu fim antecipado pelo frio e por isso o sol quer ficar até o fim, nunca ir embora.    

Alain de Botton começa contando de um desejo intenso de ir a uma praia de areia branca e palmeiras que o acometeu em certo inverno londrino (imagino que uma praia ensolarada fique intensamente atrativa no cinza de Londres).

O escritor nos leva junto fazendo-nos lembrar que viajar é bem mais que aquela foto de mar azul e areia branca do folheto da agência de viagens. É também as duas horas de antecedência no aeroporto, fila, vontade de ir ao banheiro, mala pesada, passagem perdida no bolso, mais fila, tirar a bota pra passar no detector de metais, poltrona apertada, comida ruim, tontura, calor, mala perdida, suor, trem errado, taxi caro, pousada longe, apartamento alugado mofado…

Ele (Botton) diz que um detalhe lhe escapou ao planejar e desejar a viagem, o detalhe que ele se levaria consigo, e assim todas as suas dores (da de barriga ä mais existencial) iriam também, junto.

Porque por vezes a vontade de viajar vem do desejo de deixar a si mesmo e partir rumo a uma paisagem de cartão postal. Rumo a qualquer outro lugar, outra coisa. Mas como uma companhia indesejável, a gente chega e viu que se trouxe junto.

Um engano freqüente é achar que se viaja para conhecer novos lugares, qual não é a surpresa ao descobrirmos que viajamos para aprender a estar em um lugar, o único possível, o mais exótico e desconhecido. Presente dentro de si mesmo.  

Por Mirabelle

"A arte de viajar", Alain de Botton 1969 (ed Rocco)

domingo, 22 de agosto de 2010

No México – o cineasta, o cowboy e outras coisas no pé do nosso país tropical

Numa ruazinha assim ficava o antro

Lá nos Altos de Jalisco, rodeada por extensas plantações de agave (a planta da qual se prepara a tequila), se erige, em meio a uma paisagem de colinas verdejantes pontilhadas por nopales (cactos do qual se comem as folhas e frutos), a histórica cidade de Lagos de Moreno. Histórica porque é muito antiga (imagine um centro com ruas estreitas e casarões coloniais em estado de conservação variável), e a origem remonta a 1583. Atualmente vivem por aqui cerca de 140 mil pessoas.

Neste cenário pitoresco, acabamos, Asdrúbal e eu, por motivos que não valem a pena ser esmiuçados, numa autêntica balada laguense. À sombra das torres da Paróquia (que eu sempre insisto em chamar de catedral pelo tamanho impressionante, mas não é, pergunte ao seu padre, bispo ou cardeal de devoção pelos detalhes da hierarquia eclesiástica), num calçadão de pedestres composto por fachadas coloniais, nos encontrávamos no antro (assim eles chamam os bares) da moda. Não reparei no nome, só sei que vendem cervejas importadas (tomamos uma checa e outra de Guadalajara mesmo) e que éramos provavelmente o grupo mais ancião do lugar. “Qué rucos”, sussurrariam entre si os adolescentes locais. O que nos importava un rábano.

Eu, por ser a única mulher da nossa rodinha de seis ou sete integrantes, meio que assumi minha postura de observadora e passei a tomar notas antropológicas mentais de toda a situação. Porque há lugares em que a coisa é assim: homem é homem, mulher é mulher e ponto, se acabou. Nada de firulas ou complicações. E Lagos é um desses lugares onde você, mulher do século XXI ou XVII, pode se preocupar apenas em arrumar um marido e criar os filhos – simplicidade que eu invejo, mas que jamais me faria feliz.

Antes disso, porém, tive a possibilidade de travar um par de diálogos com dois de meus anfitriões laguenses nessa noite: o vaqueiro e o cineasta.

Apesar de eu até ser capaz de dissimular, não passa desapercebido o fato de que sou brasileira – ainda mais em cidade pequena, onde as novidades voam de boca em boca. E, como estava com gente conhecida, os cavalheiros (ou cavaleiros?) tiveram a gentileza de puxar aquele dedinho de prosa, com essa naturalidade interiorana que faz você se sentir tão à vontade.

O cineasta é um tipo meio excêntrico, meio alcoólatra e meio cego (sim, ele só enxerga com um olho). Trabalha essencialmente no DF com o que pintar, desde que envolva uma câmera na mão: roda documentário, faz assistência de direção, de produção e até estaciona o carro de apresentadoras de TV desavisadas que pensam que ele é office boy (oh my god). O cineasta me disse que o Brasil é uma referência para o cinema latino-americano e que nossa produção cinematográfica é excelente. Uau. Não sabia que estávamos com essa bola toda – e, claro a gente fica toda orgulhosa de que os outros achem que o país vai pra frente.

Expliquei a ele como funcionava a Lei do Audiovisual e a Lei Rouanet, que empresas tão potentes como Petrobrás apoiavam muitos projetos, e digressionamos um pouco sobre por que leis parecidas não vingaram no México – por corrupção, por desvio de verbas, porque as empresas e empresários aderiam à lei como forma de embolsar parte da grana destinada aos projetos e fazer uma produção bem merreca só pra dizer que fez, o que resultou em um monte de filmes de péssima qualidade que levaram à conclusão de que a tal lei não funcionava. Contei da relação irmãos Meirelles-Unibanco-Centro Cultural Unibanco, com o que quis dizer que havia gente muito influente interessada em que nossas leis de incentivo à cultura funcionassem.

Trocamos sorrisos, o Asdrúbal chegou com outra cerveja (sempre long neck, latas jamais), brindamos e a conversa seguiu rumos diferentes. Outro interlocutor, o vaqueiro, já conhecido de outros encontros anteriores, se aproximou.

O vaqueiro é filho de um fazendeiro exitoso, com muitas vaquinhas leiteiras que são ordenhadas por máquinas ágeis não sei quantas vezes ao dia. A fazenda do pai do vaqueiro tem um casarão secular que saiu até num calendário. E assim ele se criou: entre vacas e alta tecnologia. Rixas familiares a parte, ele acabou se afastando dos negócios da família e agora trabalha com outros agroempresários locais em alguma coisa que tem a ver com touros, vacas e reprodução dos mesmos para aumento da produtividade (atenção, meninas: não é o primeiro distribuidor de sêmen bovino que eu conheço). Basicamente, digamos que habitamos planetas bastante distantes.

“O Brasil agora está liderando a genética das vacas”, ele soltou. “Estamos importando sêmen do Brasil.” Órale, respondi (isso denota surpresa). “A dose custa 30 dólares. O Brasil já está passando na frente até dos Estados Unidos”. Oh, pensei, regozijando-me novamente pelos avances de nosso país verde-e-amarelo. Os responsáveis? Segundo o vaqueiro, Lula, que protegeu o setor, e os criadores da raça zebu (de origem indiana, aprendi também), que receberam subsídios que resultaram em uma raça híbrida (desculpem, mas não fui capaz de aprender o nome) que é mais resistente e produz mais leite.

Eu estava surpresa. O mais perto que eu havia chegado a todo esse universo econômico até então foi calcular o quanto poderia investir no fundo para comprar sapatos Manolo Blahnik, por supuesto que de couro legítimo, proposto pela Mirabelle aqui no blogue. De repente, todo um novo mundo de possibilidades se abria a minha frente. Depois dessa fiquei até pensando em comprar umas ações. Ou umas vacas, talvez mais simpáticas que algumas das minhas vizinhas. Ou umas doses de sêmen, posso colocar no congelador lá de casa do lado da garrafa de tequila que o Asdrúbal comprou e esperar elas valorizarem. Até eu poder trocá-las por um par de sapatos do Manolo Blahnik.

Enquanto isso não acontece na nossa sala de justiça, a gente continua torcendo pelo hexacampeonato, pela erradicação da pobreza, pela diminuição das desigualdades sociais y otras cositas más. Pode ser que o país não tenha saneamento básico e níveis educativos decentes para uma parte considerável da população. Mas tem cinema com belos roteiros e fotografia - eita, paisão. E touros sementais tipo exportação. O que me leva a concluir que talvez eu acabe trocando o meu Manolo pela Melissa da Vivienne Westwood.

by Womber Woman

sábado, 21 de agosto de 2010

Deus e o que importa nessa vida


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Mais uma de Deus. Ah, o Carlos, esse Carlos. Se toca, mané! Não dá vontade de dar um chacoalhão nesse homem? Gente, eu frequentemente penso: se até Deus tem um homem assim, do que é que eu, mulher mortal, posso reclamar? Hein? Hein?

Nos meus momentos de fúria com a raça masculina lembro disso. Obrigada, Rafa, pelas pílulas de inspiração. E de paciência.

Lembrando: a exposição do Rafa (alias Rafael Campos Rocha), pai e criador de Deus, mas não tão onipotente quanto ela (pois continua sendo um espécime da mencionada raça masculina, ao menos até me mandar uma foto montado de drag assinada por duas testemunhas com RG e firma reconhecida em cartório, coisa que não vai acontecer), continua em cartaz no Paço das Artes, na USP da Capital (tel: 11 3814 4832). Vai até dia 29. Corre lá!

Darling Darling

No México – comer, comer…



Morrendo de fome e na correria, comprei um sanduíche bem normalzinho numa loja de conveniência. Peito de peru, queijo, salada no pão de forma. E um mini saquinho de amendoim japonês. Qual não foi minha surpresa ao constatar que o sanduíche vem com seu sachê de salsita de jalapeños. Mas não parou aí: os amendoins japoneses também vêm com seu sachê de molhinho picante, desta vez de chipotles. Comentei com um amigo no Skype enquanto comia e ele disse que provavelmente a minha lata de suco del Valle também tinha picante, só que eu havia esquecido de agitá-la e estava tudo concentrado no fundo esperando para aplicar-me um golpe final...

Aqui tudo se come com pimenta, do café da manhã às laricas da madrugada, passando pelas frutas (sim, frutas, deliciosas frutas!). Diferente do que muita gente pensa, nem todas são super picantes. Conhecer as variedades é toda uma imersão na cultura mexicana. Deixe-se levar e prepare-se para a vingança de Moctezuma (= a caganeira que acomete os estrangeiros não acostumados à dieta local).

Outra das iguarias que eu muito aprecio destas terras são os nopales, as folhas de um tipo de cacto, que se podem preparar como outra verdura do cardápio e, na variação local do churrasco (carne a la brasa), grelhado na churrasqueira.

Órale e viva o bicentenario, guey.

Darling Darling

domingo, 8 de agosto de 2010

Misteriosos são os desígnios de Deus

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Continuando a jogar confete no trabalho do Rafa (aquele que agora publica tirinhas no Ilustríssima, da Folha, e ainda fala com os amigos da era pré-fama), compartilhamos com noss@s leitor@s a segunda entrega da série Deus, essa gosotosa.

Quem estiver de bobeira pela USP na capital pode ir até o Paço das Artes ver outras estripulias do rapaz expostas, inclusive os originais de Deus (não os do Gênesis, só os do Rafa mesmo). Ou então comprem o jornal de hoje!

Eu sou totalmente a favor dessa visão da deidade maior. Quero ser que nem ela quando eu crescer.

Bom fim de semana,

Darling Darling

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A elegância em tempos de Pânico



Sei que você querida, como todas nós (que Glorinha Kalil nos perdoe e Costanza Pascolato sinta piedade de nós), tem, por vezes, esse deslize de querer ser como aquela por quem seu digníssimo marido/namorado/caso- homens em geral- baba na tv (internet, email, revista).

Desejo indefensável de ser aquela celebridade da novela, aquela paniquete, aquela da propaganda da cerveja, de “meia-calça” jeans e blusinha amarela comprada na 25 (de março).

É verdade que os homens olham mais para as loiras de cabelão, silicone e calça/shorts de dançarina de funk. É verdade e ponto, fazer o quê?

Mas queridas, por mais que vocês mereçam...quando o desejo de ser a-nova-rainha-do-tchan te assaltar. Respire, contenha-se antes de ir ao cabeleireiro fazer mais luzes. Pense na menina que há em você, pense se a sua criança interior ficaria satisfeita em ver seus sonhos de princesa se reduzindo ao fundo de um programa de auditório.

Você, que com 6 anos sonhou com vestidos cor-de-rosa e príncipes em cavalos brancos, quer mesmo ser merecedora do título: “Rainha da Gaviões da Fiel” e ter a coxa igual a do Roberto Carlos? (aviso às meninas: Roberto Carlos o jogador do Corinthians, não o rei!)

Quando esses momentos de conflito existencial-estético acontecerem, reflita:

Você quer ser uma moça L´Occitane, do tipo: provence, côte d´azur, óleos essenciais de lavanda ou uma moça de aroma-idêntico-ao-natural-de-morango?

O marido de uma prima diz que quando sua amada besunta-se de cremes Victoria Secret ele sonha com chambinho.

Se bem que nada mais boring (para abusar do jargão fashion) que ser sempre elegante, sóbria e irrepreensível no figurino. Ou você gostaria de ser a Rainha-mãe, always de tailleur, pérolas e chapéu?

A Gisele Bundchen aparece, fora da passarela, sempre de calça jeans e camiseta branca. Quer coisa mais fina, mais blasé, mais elegante do que essa coisa: uso-Hering-e-fico-maravilhosa?

Ah Gisele, você não nos engana, a gente sabe que você não usa as roupas da C&A (loja para a qual foi garota-propaganda), e se usar, só em você que fica bom! (A gente também sabe que a Xuxa não usa Monange).

E vamos combinar que é fácil ostentar tamanha elegância depois dos bailes do Met (metropolitan museum of NY) e dos desfiles da Victoria Secret.

Nós também seríamos elegantérrimas no dia-dia se pudéssemos, de vez em quando, andar por aí com uma roupa de rainha da bateria com asas e auréolas. (Vide desfiles anuais da Victória Secret- será que o desfile também tem cheiro de chambinho?)

Acho o máximo essa coisa minimalista, essa coisa clássica, essa coisa Louis Vuitton, Maria Bonita, Celine. Todo esse lance nasci-rica-e-não-preciso-mostrar-nada-pra-ninguém.

Mas umas gostam de cheirar que nem chiclete, outras sonham em ser rainhas da bateria ou dançarina de programa de auditório só pra usar biquíni com salto... fazer o quê se aqui nos trópicos nossa musa é a Luma de Oliveira e não a Lady Dy?

Por Cocobelle

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Não devia...


Sou do tipo de pessoa que sempre morou em casa.
Antes eu desconfiava, agora tenho certeza.
Existem as pessoas-casa e as pessoas-apartamento.
Talvez elas sejam feitas de material diferente.

Existem as pessoas biflex (no sentido imobiliário).
Eu pensei que poderia ser uma delas.

Mudei-me para um prédio a despeito de todas as minhas intuições a respeito do que significa, para mim, um LAR.

Eu achava que isso estavam relacionado à silêncio, tranqüilidade, quietude e um sentido único de privacidade e unicidade que uma casa proporciona.
Uma casa com terra onde se põe o pé, nem que seja só no fim de semana, uma varanda para onde se sai quando dentro aperta e sufoca.
Lugar onde se fica dentro, mas também se sai para ver o céu, olhando de baixo pra cima, tombando a cabeça até abrir a boca (de um apartamento não dá para olhar para o céu assim, pra cima, só na diagonal).

Eu achava tudo isso, mas desconfiava que essas coisas pudessem ser daquelas tantas que a gente pega de pai e mãe e depois descobre que não nos pertence. Ao longo do tempo vamos devolvendo na lojinha parental capas e casacos pesados com os quais fomos vestidos.

Na minha casa (de criança) só tinha chocolate, tudo de chocolate. Doce com fruta era quase uma heresia na casa de chocolate, mas descobri que na minha casa cabe chocolate e cocada, sorvete de limão e torta de morango. Descobri também que gosto de cortina, de parede colorida, mas continuo gostando de sentar no chão (e não no sofá) na frente da TV e de pão com mel (tem coisa que fica sendo nossa mesmo!).

Bom, foi com esse espírito des-prendedor que encaixei sofá, tapete, panela e vontade de céu no conceito moderno e urbano de lar.

Eu já ouvi falar que dormir com a TV ligada pode causar convulsão (em pessoas propensas a isso, ou epilépticas mesmo) pelas ondas que entram no cérebro adormecido.

No momento me pergunto se é possível um ser humano convulsionar pelo repetido e ininterrupto APITAR do APITO que APITA cada vez que um portão (do meu prédio) abre e fecha (isso quando o controle funciona e o digníssimo condômino lembra de apertá-lo para fechar).

Meu prédio tem 2 portões, eles têm luzinhas com apitos que apitam muito alto. Na rua devem ter mais uns 5 ou 7 prédios em cada lado, cada qual com seus portões que também apitam, buzinam e esforçam-se por causar danos cerebrais nos ouvintes.

Fora todo aquele sentido de lar que os porteiros lutam em te proporcionar ao dizer que seu cachorro não pode encostar as patinhas no chão, que seu carro está estacionado fora da linha, que a grama, o jardim não são para serem pisados ou usados de maneira nenhuma, que um pano de chão da lavanderia está para fora da janela...enfim, todo esse clima de privacidade, de um-lugar-para-você-chamar-de-seu que só um prédio com regras condominiais, síndico e tal para te oferecer.

Sei que as pessoas se acostumam com apitos, com não ver o céu, com dormir com barulho de TV e nunca ficar com seu silêncio. Sei que as pessoas se acostumam a não ouvir a chuva descendo pela calha e chegando na terra.

Aliás o ser humano se acostuma a quase tudo.

Sei que a gente se acostuma... mas não devia.
Por Mirabelle

Imagem do filme Wall-e. Animação da Disney e Pixar que imagina uma espécie de futuro "Admirável mundo novo" (Huxley) em que as pessoas não andam, "comem" shakes e conversam apenas via tecnologia. De arrepiar!

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Deus, essa gostosa

(Clique sobre a imagem e ela aparecerá sozinha, clique de novo e ela será ampliada)

Queridas e queridos:

É com muito gliter que penduramos no Varal a colaboração de Floquê de Baunilhê Sucrê, codinome Rafel Campos Rocha, um artista-cartunista em ascensão mas que continua (por enquanto) falando com a plebe desconhecida e as criadas da casa que estendem a roupa no quintal. Vocês podem encontrá-lo ministrando cursos sobre Arte Contemporânea no chiquérrimo e descolado Instituto Tomie Otake e também nos cadernos variedade da Folha de S. Paulo aos fins de semana.

Entre coelhos, dragões de komodo e ele mesmo, acabei escolhendo (óbvio) a série Deus, essa gostosa, para dividir com vocês.

No portifólio do moço: desenho de coelhos, esculturas de coelhos, instalações de coelhos, exposições em lugares descolados, cargo de síndico-mucamo do apê-república dele em Barcelona que ele transformou numa galeria de arte junto com outros artistas quando as ditas cujas os menosprezaram, tirinhas várias que burlam de si próprio (ah, nada mais "in" que essa coisa autobiográfica da arte contemporânea!) e um filho (work in progress).

Reclamações e maiores informações no blogue dele: http://rafaelcamposrocha.blogspot.com/

Aquele beijo,

Darling Darling