domingo, 6 de dezembro de 2009

Exaltação do outono: estrelando... O CARACOL (parte 1)



Enquanto alguns travam debates acirrados para definir se a cor de esmalte do verão é rosa chiclete ou a do sapato da Barbie, ou qual o modelito mais in do biquíni Bond Girl para exibir a silhueta na praia, em outras latitudes, como na minha, tem início todo um processo de exaltação do outono. As folhas ficam laranjas, os “boletaires” vão aos bosques coletar cogumelos (que são iguarias gastronômicas locais essenciais em qualquer quitanda e não uma espécie alucinógena exótica) e, no meio de todo esse panorama, uma estrela brilha em destaque na Catalunha: O CARACOL.

Sim, sim, pensem no bichinho deliciosamente ensopado como na vizinha França, essa coisa de le escargot que muita gente pensa ser chique não é apenas um mito (comer caracol é, na verdade, uma coisa de camponês). Mas é preciso explicar como – como? – a devoção por esse personagem tem início, algo que é transmitido às criancinhas ainda em idade muy tenra. Eu, como mãe estrangeira e observadora, me empenho em aprender as tradições locais, mas a coisa custa um pouco.

Depois de ouvir o Júnior cantar infinitas vezes, em catalão, o refrão de domínio público “Cargol treu banya, puja la muntanya...” (Caracol, mostra as anteninhas, sobe a montanha etc. e tal), eis que numa bela sexta-feira chega uma nota da escola: “Queridos pais, vamos começar a estudar os caracóis e montar um viveiro. Se vocês puderem ir ao parque com seus filhos neste fim de semana e trazer algum caracol vivo, agradecemos”.

VIVO? Hmmm. Ainda bem que o Júnior tem pai, um homem valente e viril que não tem nojo de bichinhos invertebrados e asquerosos. Domingão de sol, lá vão o Júnior, o pai e a Zilminha ao parque, cansar os moleques para a gente ter um pouco de paz à tarde e também caçar os tais caracóis. Depois de muito investigar o terreno (literalmente), voltam os três com uma das forminhas de areia repleta de caracóis (que são enormes para os padrões tupiniquins). Mas só um deles, o menorzinho, tinha lesma. O Júnior estava exaltante, já o Asdrúbal abriu uma cerveja. Me limitei a estacionar o copinho ao lado da janela da cozinha, sem encostar nas conchas (eca), e vou tocar a vida.

À noite, as crianças já dormindo, chega aquele momento de magia e exaustão de preparar a mochila para a escola no dia seguinte. Tenho que preparar também o caracol, encontrar um potinho onde o bicho possa dormir vivo e ser levado para que os pequenos cientistas montem seu experimento. Reviro os tupperwares da vida e concluo que o melhor seria um copinho de vidro de iogurte, pois temos vários e um a menos não vai fazer falat. Lá vou eu procurar o caracol na forminha de areia que deixei do lado da janela e... cadê o desgraçado? Já estava escalando a parede, em plena fuga. Quase perco o futuro científico do Júnior. Pior: tive que encostar na concha e observar como a lesma se despregava da parede com um "ploc" para encestá-la no copinho – aaaaargh, que nooooooooojo!!!

Cubro o copinho com Magipack, furo o plástico com um palito de dentes, preocupada com a respirabilidade da microcâmara até o dia seguinte e voilà, buenas noches, cargolet, até amanhã.

continua...

by Womber Woman

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