sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O ponto em que estou



Estive em São Paulo. Revisitei horas de trânsito a fio fundida ao assento suado do ônibus. Tracei destinos mais além do ponto inicial e final de uma linha, procurando meus próprios inícios e fins, minhas próprias fronteiras. Eu já fui daqui, mas e hoje, de onde sou? Agora tenho mais medo da chuva.

Tudo é mais ou menos igual, mas sutilmente diferente. Como a linha verde de metrô que você sabe até onde te leva, mas cresceu um pouco, encurta tempos e distâncias. Ou o taxista afável que me conta de seus filhos, da esposa – pai orgulhoso – e, ao me perguntar os itinerários, não percebe minha hesitação. A Rebouças ainda é a Rebouças, mas agora tem corredores de ônibus nos quais me confundo sem saber se devo descer pela direita ou esquerda do veículo, tudo depende do ponto em que você está. Copio os demais passageiros, acho que ainda sei quando devo me levantar para saltar na boca do metrô Consolação.

Fui à USP. Utilizei um professor querido como pretexto, mas me dei conta de que a visita, na verdade, era a mim mesma. O professor me contou anedotas: quando era pequeno, foi pescador de urubus. Um dia eu direi que vinha aqui todos os dias. Que meu radar ainda funciona para identificar a centenas de metros os espécimes locais: os que vão ao campus para correr; os funcionários; os militantes do SINTUSP; os estudantes descolados; a beleza interessante das alunas de Letras; os engenheiros; os mestrandos; os próprios professores. Que tenho esse vínculo afetivo com esse pedaço horizontal da cidade repleto de bibliotecas, digressões e árvores porque aqui me tornei quem sou.

Aqui reencontro aquela parte de mim de que gosto e percebo que ela, também, continua mais ou menos igual, mas sutilmente diferente. Em algum lugar há uma livraria mais bonita, com mais luz e mais histórias, ou um elevador novo, melhor preparado para subir até onde você tem que chegar. Como os do professor que pescava urubus. Ele me sorri, me despede, há dois continentes e algumas feiras onde podemos nos encontrar casualmente uma próxima vez. Dessa vez foi de propósito: ele é uma das colunas que vim visitar.

Darling Darling

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