segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O Zé Carioca, o Bofe Escândalo, o Rabino e o Carona.



Era um vez a Margarida, que depois de grandes titubeações resolveu aparecer. Ela morava numa casa na floresta, veio para a cidade, aproveitou a moda (que voltou) de saia e shorts curtos, cortou também o cabelo (foi a tesoura do desejo, desejo mesmo de mudar- Alceu Valença), trocou o carro pela bicicleta e levantou os olhos para ver quem passava.

E encontrou primeiro com o Zé Carioca. O Zé ia ao Maracanã ver os jogos do Flamengo e até cantou pra ela “uma vez Flamengo, sempre Flamengo”, tocava pandeiro num grupo de samba, dirigia um fusca azul calcinha. Sotaque carregado, folgado, “tirava onda” (para usar do carioquês) dos “erres” da Margarida, levou-a num samba na lage de algum lugar com vista pra baía de Guanabara e pra tomar um banho de cachoeira na floresta da Tijuca.
Tudo que o Rio tem de melhor, mas o Zé não parava de repetir, a cada lugar lindo, a cada vista, a cada música: “Olha o que eu te proporciono”. Mesmo sendo a Margarida grande amante da cultura brasileira e sentindo-se até honrada de topar com tal folclórica figura, ela cansou de agradecer por tudo o que lhe estava sendo proporcionado, e então, na porta da nova casa na cidade, conheceu o Bofe Escândalo.

O Bofe Escândalo bronzeava-se ao sol do meio dia, Ipod e celular a postos, 6:30h da manhã era o encontro quase diário com seu personal, que fazia um bom trabalho visto o braço do Bofe ser maior que a perna da Margarida. Certa noite, ao redor de despretensiosa mesa o Bofe diz que não come a noite, lhe explica que sua dieta orientada para a hipertrofia muscular não permite nem refrigerantes que não sejam “zero”, nem nada que seja diferente de batatas e albumina. Margarida sente-se constrangida por ser ela mesma assim tão desatenta às questões nutricionais, ao mesmo tempo em que faz questão de não pedir mais nada light, já que alguém tinha que ser homem suficiente para pedir: Coca normal por favor!
Diferente do Zé o Bofe Escândalo aprendera lições de gentileza com a Rainha Elizabeth e comportava-se com esmero, mas não podia passar perto de um espelho que perdia-se da conversa ao arrumar o cabelo. De nada adiantava Margarida tentar salvar o Bofe do afogamento, já acontecido com Narciso, no espelho. Sua imagem bronzeada, forte, de cabelos levemente grisalhos já o tinham levado para longe dela.

E então Margarida continuou andando, mais ressabiada que no início, já não tão mais aparecida assim deu de encontro com o Rabino. Ele tinha uma foto de bela sinagoga israelense no celular e falava com aquele sotaque próprio de quem fala hebraico (Margarida imagina que seja uma espécie de moda local de Higienópolis). Morara em Nova York e em Israel e animou-se exageradamente ao saber das raízes judaicas de Margarida. Da noite em que se conheceram até ela acordar na manhã seguinte o Rabino telefonara 17 vezes e deixara 5 mensagens. Margarida fugiu assustada, apesar das várias curiosas perguntas que ela ainda tinha para lhe fazer a respeito da vida em Nova York e se ele conhecera Bernie Madoff (aquele que foi preso, criador da Nasdak).

Margarida fechou um pouco o vidro do carro, mais ressabiada com as ilustres esquisitas figuras com quem ela foi topando no caminho. E do mundo virtual e do túnel do tempo surgiu o Carona.
Há 9 anos atrás Margarida tinha dado carona para o Carona numa ilha do outro lado do planeta, pelas ferramentas mágicas da internet o Carona encontrara-a e declarava seu amor por Margarida, não correspondido na última década. No momento da troca de correios eletrônicos o Carona, solitário, afogava suas mágoas no mar da Indonésia, Margarida não teve dó dele.

A Margarida agora está menos aparecida, mais pensativa, continua na cidade, ela considera a fauna masculina algo de exótico, mas ás vezes se assusta e foge de volta pra floresta para descansar das outras espécies entre as suas amigas e família de margaridas.

por Mirabelle.
Mais fotos sensacionais no www.thesartorialist.com

3 comentários:

  1. Poisé, Margarida é planta, os seres masculinos são fauna. Reinos diferentes, é uma questão biológica, tratada cientificamente por alguns exobiologistas que diretamente determinaram que homens e mulheres pertencem a planetas diferentes.
    O que irá acontecer quando um ser herbívoro encontrar a pobre Margarida? Hein? Hein?
    E paira o suspense do mistério...

    Beijos com gliter,
    Darling Darling

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  2. Uma posiciona o pensamento pertinho do varal e a outra coloca os prendedores...é mesmo um blog feito a quatro mãos!

    Eu adoro!

    Beijocas,
    Malu

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  3. excelente! lindo texto e ilustra do cabeçalho do blog! vou olhar mais...
    rafael

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