segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O último gostosinho


O último gostosinho tinha quase trinta, barriga de tanquinho e os músculos torneados na medida exata, perfeita. Disfarçava a testa em expansão com cabelo muito rente e olhos azuis que sabiam sustentar a mirada, uma conversa, o interesse da interlocutora por toda aquela testosterona.

Tinha timbre de voz grossa, mãos grandes e um afrodisíaco: era um homem disponível. Mas não alardeava, nem comia quieto, nem contava pontinhos com cada conquista. Sentava em mesa de bar, fumava, bebia, conversava. Falava de futebol com os garotos, de qualquer outra coisa menos moda e dieta com as garotas. Achava um saco isso de baladas, flertes, conquistas vãs.

Durão, um gentleman machão e de coração partido – ai, essa namoradinha cruel da adolescência com quem ele viveu um romance de dez tomos e quis mais do que ele pôde dar! Página virada, onde estava aquele seu novo grande amor?

Um dia ele tirou a camisa na minha frente e eu quase desmaiei. Então eu soube de tudo isso. O que ele mais queria era alguém com quem ver TV debaixo do cobertor, passar o domingo de pijama e criar barriga enquanto assistisse o futebol em paz, sem encheção de saco e com o cinzeiro ao alcance da mão. E deixar de ser o último gostosinho.

by Darling Darling - texto dedicado a um amigo real que serviu de inspiração. A gente não pode dar o nome, mas pode tentar passar seu telefone pra ele. Não que ele tenha nos pedido...

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