Camille Claudel deu o nome de Sakountala ou L´Abandon à primeira escultura dramática de sua autoria. Diz-se que fez essa escultura após flagrar seu amante, Rodin, com uma de suas modelos.
Sakountala, segundo uma lenda indiana, era a filha de um sábio. Um rei poderoso, numa de suas andanças fora de seu domínio, vê Sakountala e se apaixona. Ela também se apaixona e eles têm um filho juntos. O rei volta ao seu reino para preparar o casamento. Nesse momento Sakountala é amaldiçoada por um feiticeiro. A maldição: o rei não lembraria nunca mais dela, assim como um homem bêbado que não se lembra do que fez ou do que falou no dia anterior. Sakountala vai ao encontro do rei e conta a historia de amor deles, mas ele não a reconhece. Ela fica desolada com a humilhação e se recolhe. Alguns anos mais tarde, o rei a reencontra, a reconhece e pede perdão pelo esquecimento. Ela aceita o perdão, inclina-se para o homem ajoelhado diante de si que a aperta em um abraço tenso. Ele amassa seu rosto na parte que ela lhe oferece para beijar. Ela, sem forças, deixa cair o braço esquerdo enquanto com a mão direita segura o coração no abraço do homem amado. Feliz em se saber reconhecida pelo seu amor, ela morre.
Camille teria se sentido amaldiçoada pelo esquecimento de seu Rodin, ao vê-lo com outra?
Tão antiga essa coisa da mulher viniciana (de Moraes) feita apenas para amar, sofrer pelo seu amor e ser só perdão.
Tão antiga essa coisa da mulher viniciana (de Moraes) feita apenas para amar, sofrer pelo seu amor e ser só perdão.
Que jogue o batom preferido aquela que não teve um amor assim, de broke the heart, aquele amor que deixou uma saudade amarga do gosto do que não foi.
Todo amor irrealizado ganha tons de pérola e cristal, não gasto pela realização da rotina o amor que não foi, fica sendo aquele que poderia ter sido.
Esse amor que é só e é puramente feminino.
Porque homem não sabe o que é chorar antes de dormir pela ligação não recebida.
Não sabe como uma mentira faz arder o ar que entra em uma inspiração.
Homem não sabe o sentimento de culpa misturado com raiva que dá, ao sentirmos que não somos suficientes pra ele.
Não sabe o que é ouvir a mesma música semanas seguidas porque ela fala o que a gente está sentindo, como se na voz e na melodia aquela dor fosse tomar forma e então poder ser jogada fora.
Homem não sabe o quanto dói querer que ali onde ele me deseja, eu queria que me amasse.
Um amor irrealizado é como passar o dia inteiro cozinhando e não vir ninguém para jantar. Trágico se oferecer para o vazio, para a falta, uma falta escolhida pelo outro, ativa, proposital, e jogar a comida toda fora, no lixo.
Sakountala não poderia ter sido esculpida por um homem. Esse desejo que contém tamanha potência que, se realizado, se pode morrer. Desejo de ser reconhecida em seu amor, vista e legitimada pelo seu amado.
E entre a Amélia, as esposas de Vinicius e Sakountala vamos tentando encontrar algo mais parecido com nós mesmas, sabendo que como para Beatriz , nossa natureza última de mulher
“Para sempre é sempre por um triz”
Por Mirabelle
Beatriz, música de Chico Buarque e Edu Lobo
Roteiro perfeito para uma ópera :-)
ResponderExcluirBjo da Thá
Mááá... demais. Lindo!!
ResponderExcluirÉ bem assim mesmo... que atire o blush preferido, aquela que não passou por isso!!
Te amo, minha escritora preferida!!
Bjos Ina (Inikas)
lindo, a boa noticia e que ha sim homens que amam e que sofrem e que tambem idealizam, somos iguais
ResponderExcluirLindo texto...linda imagem!!! Obrigada por compartilhar...beijos
ResponderExcluirAi...esse texto dói...
ResponderExcluirA verdade...nua e crua.
Sentimento de culpa misturado com raiva, nada a ver, não sei de onde vc tirou isso... rs
Beijos, Mirabelle...
Queridíssima: lindas palavras e lindas imagens. Acho que os homens tem um jeito diferente de amar, de se envolver, e fica tão difícil juntar estes universos tão distintos (o deles e os nossos)... Acho que amar e sofrer de amor são coisas inseparáveis. Amar dói o peito e ao mesmo tempo nos mantém vivas - e a eles também. A história da Sakountala traz este ponto exato: o desencontro. Amor é encontro e desencontro ao mesmo tempo. Ai quanta coisa difícil - e ao mesmo tempo vital - pra gente administrar... Haja coração!
ResponderExcluirLindo texto. Mas também concordo com alguns comentarios quanto ao sofrimento do homem que, mesmos se diferente, nao deixa de ser vivido. Mesmo se de aparência menos romântica, nao apaga um certo idealismo, as vezes nao assumido. O amor é algo sempre misterioso. Um amigo do doutorado esta escrevendo sua tese sobre o amor. Ele critica o amor moderno, contratualista atual dentro do qual discutimos que bens irao a quem antes do casamento. Ao mesmo tempo ele evita cair na armadilha da nostalgia romanticista do amor onde dois sujeitos se fundem em uma uniao onde suas vidas individuais deixam de existir. Querendo também escapar das tragédias gregas ou de um certo amor catolico puramente abstrato, que depassa o sujeito em nome de uma autoridade externa. Mas e entao, que tipo de amor seria aquele que procuramos para nos hoje em dia? Meu amigo parte de Simone Weil, Hannah Arendt et Denis de Guivremont. Quem sabe mais tarde, depois de alguns anos de conversa, interminaveis paginas de leitura, escritura e um pouco mais de vivido, eu te reescrevo com outra ideia do amor...
ResponderExcluirDesejo de ser reconhecida em seu amor, vista e legitimada pelo seu amado...
ResponderExcluirMa, que linda sensibilidade!!! Tocou fundo.
Me vejo depois de 25 anos de relaçao ainda querendo ser vista e legitimada pelo meu amado !!!
Adorei o texto, a foto e a sua escrita.
Dá até para sentir a dor no peito, que ela e muitos de nós sentimos.
Já vi alguns homens sofrerem assim, e ate de forma mais dramática.
Acho que sofrer por nao ser correspondido é mais que das mulheres e dos homens, é humano ! Ainda bem!
Parabens pela caminhada de escritora, te amo muito
"Um amor irrealizado é como passar o dia inteiro cozinhando e não vir ninguém para jantar"
ResponderExcluirPilou.
Fico na torcida para todas as mulheres encontrem menos Rodins e mais coisas "parecidas com vós mesmas"
Beijos de um Homem que já fez sofrer, mas que também já chorou na cama antes de dormir...