segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Presentear (continuação texto anterior)




3-Fuja do óbvio




Se você fugir do presente óbvio já vai dar o recado que pensou mais que as outras pessoas para presentear.
Os presentes óbvios são, para mulheres: blusinhas, perfumes, cremes, sabonetes, bijouterias. Para homens: camisetas, gravatas, CDs, vinhos.
Mas nada disso é óbvio se para aquela pessoa em especial O vinho, ou A camiseta do time que ele gosta tiver um sentido pessoal e único. Todo presente ganha ares especiais dependendo da maneira que é escolhido e dado. Você pode dar um vinho e não dizer nada, ou você pode escolher um vinho e se lembrar de uma viagem recente que seu amigo fez à Itália e dizer isso, que é um vinho italiano para que ele se lembre da viagem que fez, você fez um presente banal virar um presente único, mostrando ao seu amigo que se lembra da viagem que ele fez e escolheu um presente pensando na pessoa única que ele é.
Uma maneira muito legal de fugir do presente óbvio e comprar presentes enquanto está viajando!
No mundo globalizado de hoje a gente está encontrando quase tudo em todo lugar igual, o que, na minha opinião, é uma facilidade, mas deixa o mundo um pouco mais chato (e made in China). As coisas que você acha em shoppings por todo o Brasil são praticamente as mesmas e as grandes marcas são as mesmas no mundo inteiro. Mas se você está viajando e vê alguma coisa que acha que uma amiga, sua sogra, primo, marido vai gostar e é algo único daquele lugar, compre! Mesmo que não esteja perto da data do aniversário ou natal, guarde e dê depois! (só não esqueça e compra mais um monte de coisas até lá). Toalhas de feirinhas de Fortaleza, porta-passaporte com imagens do Rio que você só encontra em lojinhas do Rio, objetos decorativos em barraquinhas em Cuzco no Peru, enfim, itens mais artesanais e únicos são especiais e faz a pessoa presenteada saber que você lá longe lembrou dela.

4-Escolha algo que tenha relação com algum interesse único da pessoa. Algum interesse que seja da vida inteira, ou algum recente;

Ao invés de dar um sabonete para uma amiga ou uma camiseta para seu primo, pense no que ele ou ela vem se interessando recentemente. Ela começou um curso de fotografia? Ele está de namorada nova e está animado na cozinha? Não é muito mais delicado e interessante uma panela nova ou uma coleção recém editada de um fotógrafo sobre o qual você leu em alguma revista?

5- Imagine o que poderia ser muito útil e a pessoa nunca compraria;
Esse é o presente “Steve Jobs”: a pessoa não sabe o que precisa até você mostrar pra ela!
A pessoa ganha, na hora ela agradece, mas não dá muita bola, porque ela não sabe, mas você sabe, que vai ser muito, muito útil. E quando ela for usar uma duas, três mil vezes, ela vai ficar te agradecendo.
Esse presente requer extrema sensibilidade para conhecer quem se vai presentear. Exemplo: um namorado vivia perdendo todas as suas coisas mais importantes, carteira, celular, óculos, porque ele tinha três aparelhos celulares, duas caixinhas de óculos, uma carteira e sempre mais alguma coisa na mão que ele ficava carregando de lá pra cá às vezes numa bela sacolinha plástica de supermercado. A namorada observadora, deu de natal uma espécie de bolsa de couro, demorou para ela encontrar algo que ela achasse que ele pudesse usar sem parecer uma bolsa de mulher.




Os melhores presentes que eu já vi (dei ou recebi)

Em tempos de vacas magras + história + muito carinho. Família.
Em um natal uma tia minha fez um livrinho simples, xerocado e encadernado em gráfica comum (nada mandado fazer pela internet com fotos, editado como livro, nada disso), com receitas da Tia Sofia, uma tia velinha que cozinhava muito bem. Nesse livrinho tinham receitas de muitas pessoas da família, bolos, cocadinhas, massas de pão, ao lado de algumas receitas está escrito a ocasião ou da onde ela é conhecida na família: Bolo do casamento da Tia Mô, “Bolo de nada” etc...
Dá trabalho. $

Melhor amiga
No meu aniversário de 18 anos minha amiga mais próxima desde que tínhamos 9 anos fez um livro, pintado à mão por ela, com fotos nossas desde excursões da escola, passando por bilhetes que trocávamos na aula, cartões postais de viagens, letras de músicas, até fotos da formatura do terceiro colegial.
Esse dá um trabalhão, são anos de vida e não existe jóia mais preciosa que essa.
Dá muito trabalho. $

Para toda pessoa
Livro. Dar um livro que a pessoa goste de ler é SEMPRE um presente especial. Se a pessoa gosta de ler e você tem a sensibilidade de apresentar à ela um ator que ela não conhece, é um acontecimento! Esse não é apenas um presente, é como se você apresentasse pessoas que podem se tornar grandes amigos. Eu sou uma leitora voraz, mas acredito que isso valha da mesma maneira para a música.
Não dá trabalho. $$

Presente extreme makeover
Fazer uma “reforminha”. Eu e meu irmão em um natal passado demos a sala de TV de presente para a nossa mãe. Não! Nós não refizemos paredes, nem compramos TV. Compramos uma colcha e almofadas. A sala de TV era uma bagunça estética, colcha dos colchões que faziam as vezes de sofá de uma cor, almofadas de outra, parede de outra. Escolhemos uma colha que combinava com a parede e almofadas em tons semelhantes, trocamos o tapete com outra sala e o quadro de outro ambiente. A sala, um dos ambientes favoritos da casa, ficou mais aconchegante, em tons de azul acinzentado, calmo e fresco. O + legal é arrumar o ambiente e não dar apenas a colcha e as almofadas!!
Dá trabalho. $$$$

Clássico de amor
Uma jóia em um jantar de reconciliação de amor.
Não dá trabalho pra escolher. Mas esse momento pode ter dado todo o trabalho de um coração. $$$$

Ps. Todo presente ganha um upgrade para a primeira classe quando acompanhado de um cartão! Receita rápida para o cartão: relacione a data em questão, sua relação com a pessoa e o presente.
Ex: aniversário. Amiga. Livro.
“É um alegria para mim estar em mais um aniver seu! Que as palavras da Clarice te acompanhem nesse ano e que seja um ano de muito amor!!”
Tudo tem que ser de verdade, do coração, e de novo, fuja do óbvio! Nada de "sucesso, tudo de bom, felicidades", se não, você vai parecer uma tia distante qualquer.


É dessa maneira que dar presentes se torna algo divertido e acaba aproximando as pessoas. O natal na minha família é sempre esse momento em que, mesmo que durante o ano os primos não se falem muito, é o momento da troca através dos presentes. Como está o curso? Você leu o livro? Gostou? Me empresta? Mas atenção! Presente não é obrigação. No momento em que você deu, a pessoa é livre para fazer dele o que bem entender, não a obrigue a usar, nem a cobre por isso, isso é extremamente indelicado. Quando encontrar da próxima vez o amigo a quem presenteou com um livro, não pergunte se ele já leu, aguarde que ele venha comentar com você, caso contrário, vai parecer que você está cobrando o “feedback” do presente.

Dica de quem ganha o presente: SEMPRE abra-o na hora e comente o que achou. Nada mais indelicado do que deixar o pacote embrulhado e a pessoa que teve todo esse trabalho aqui (acima descrito) sem saber se te agradou.

Presentear é elegante, demonstra cuidado, gentileza e preocupação da sua parte para com quem está sendo presenteado.
Acho que sempre devemos levar algo na casa de quem estamos indo conhecer pela primeira vez, algo para a decoração ou uma flor, mas nada ostensivo.
Deve-se sempre dar presentes em aniversários, mesmo quando a ocasião for informal e quando se vai conhecer o bebê de uma amiga ou amigo.



Mas assim como é deselegante a falta, o excesso também o é, por isso é importante saber medir o valor do presente, para que não se pareça esnobe.
E ATENÇÃO, CUIDADO!! Mesmo que você tenha aprendido a ser uma pessoa educada e elegante, observe as suas relações e lembre-se da máxima popular: não dê pérolas aos porcos, existem pessoas no nosso convívio, amigos ou familiares que não merecem presentes especiais, bem pensados como esse manual indica, caso a etiqueta sugira que você tenha que presentear mesmo assim essa pessoa, reserve uma lembrancinha, que presentear com carinho e cuidado não é fazer caridade por quem não se tem apreço, se você fizer isso por obrigação, vai se sentir mal.


Bom Natal!!



Por Cocobelle

domingo, 18 de dezembro de 2011

Presentear

Então é Nataaaallllll

Você com certeza já ouviu, se já passou pela adolescência ou tem algum amigo que ficou preso no discurso João Gordo/ curso de humanas, IFICH (filosofia Unicamp) ou fefeleche (humanas USP) que o Natal é uma invenção capitalista, que o papai Noel é uma figura criada com as cores da Coca Cola e blá blá blá... essas pessoas ou estão treinando os discursos panfletários recém aprendidos ou elas os utilizam porque não conhecem o gosto de PRESENTEAR.

Presentear alguém não é mera invenção capitalista (me desculpem Marxistas de plantão), dar um presente exige muito mais que dinheiro e shopping. Muito, Muito mais.

Dar um presente exige tempo, espaço mental para o outro dentro de si, da cabeça, do coração muito mais do que no bolso.

Dar um presente começa antes de ir às compras, se esse for o caso. Começa-se pensando, começa aí também a razão para tanta gente odiar dar presente!
Quando os enfeites de natal aparecem, acendem dentro de mim luzinhas de idéias de presentes.

Parece coisa antiga e démodé, mas a verdade é que estão ressurgindo por aí muitos manuais, nos tempos da pós-modernidade, em que se diz que o que há de UAU é não haverem regras pra nada, a verdade é que estão voltando os manuais de etiqueta, de moda, de comportamento, e eu estou achando divertido!
Vamos então ao Manual dos Presentes, porque não???

Dar presente dá um qüiproquó danado, um mal-estar que dura muitos natais, dar um presente caro e ganhar uma lembrancinha... dar uma bolsa luxuosa pra sua mãe e ver sua empregada no ano seguinte com a dita-cuja...

Existem várias formas de presentear:

-Com orçamento ilimitado- Fácil de agradar, não exige imaginação. Raro de acontecer. (Quem não amaria uma jóia da Tiffany ou um carro? Vai falar que não??)

- Com orçamento limitado- Mais interessante. Exige imaginação.

1- Pensar no que a pessoa gostaria de receber- Presente ideal. Exige se colocar no lugar do outro, pensar em que momento da vida a pessoa está- Requer maturidade emocional, empatia, gentileza, tempo, tranqüilidade. Ou anos luz de psicoterapia.

2- Pensar o que EU quero dar- costuma acontecer quando o presenteador quer “arrumar” o presenteado. Relação mãe-filho, namorada -namorado, esposa-marido (às vezes se faz necessário). Ou na pior das hipóteses, quando o presenteador só gosta de dar o que gosta sem pensar no outro (Famoso: “Narciso acha feio o que não é espelho”).

3- Presente feito pelo presenteador- muito especial- requer talentos pessoais. (Ganhar um bolo, um livro de fotos, um quadro pode valer mais que uma jóia)

Vamos às receitas:


1- Imaginar ou investigar o que a pessoa quer e gosta; (NUNCA o que ela PRECISA)

Para isso é importante conhecer bem quem se presenteia ou perguntar à alguém próximo da família, um amigo a quem se tenha acesso à mãe ou marido por exemplo.
NUNCA dê de presente o que a pessoa PRECISA, isso é CHATO de ganhar.
O que a gente PRECISA, a gente COMPRA!
Imagina ganhar a persiana que impeça o sol de bater no seu computador... nada mais importante... e mais chato! Ganhei uma velinha perfumada de uma marca francesa que adoro, ficou linda no lavabo, nada mais desimportante... eu nunca compraria. Amei!

2- Observe as lojas que a pessoa frequenta, ou melhor, as que ela adora e nas quais não costuma comprar;


Ganhar presente serve para a gente ganhar aquilo que, no geral, não compraria.
Se a pessoa a quem você vai presentear é caprichosa e tem marcas favoritas ou algumas lojas pelas quais tem preferência, mas não costuma comprar, vai ser MUITO fácil agradar.
Não precisa comprar um item que custe caro, por exemplo, se é uma loja de sapatos, e você não pretende dispender esse valor, escolha um item mais em conta, um cinto por exemplo. As pessoas que tem preferência pela marca não se importam com o item, mas com a qualidade, com a cores, pelo que a idéia daquela loja representa. A pessoa que segue tendências de moda e acompanha as coleções, se sentirá agraciada e conquistada pela sua delicadeza em compreender isso, não importa quão simples seja o item que você escolheu, essa escolha vale muito mais do que dar, por exemplo, um vestido de qualidade duvidosa que a pessoa pode não usar.
Isso vale também para os homens, muitos homens tem suas lojas preferidas, o que não significa que você precisa presentear com um blaser ou uma camisa, peça que extrapola o orçamento que você reservou para o presente, mas pode escolher uma carteira da loja que sabe que a pessoa gosta. Novamente esse presente é melhor do que dar uma peça de roupa de preço igual e qualidade inferior.


(continua...)


Por Cocobelle

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A gata e o homem-barco



A gata era gata não por atributo de beleza, mas porque se enroscava, e miava. Tinha uma casa colorida, com bolinhos que cresciam no forno de boneca deixando tudo com cheiro de açúcar.
O homem-barco tinha um sofá coberto com uma manta, coisas que sempre estavam no mesmo lugar em cima da mesa e um quadro, não pendurado na parede, com uma camisa de time de futebol dentro.

A gata era mulher-lugar, o homem navegava e se encostou ao lado dela.

Ela não sabe se era porque ele a chamava de gatinha que se enroscava daquele jeito no pescoço dele. E enroscava que nem gato se enrosca, passando por baixo da perna e esticando pra encostar, fazendo carinho em si mesma. De noite era bom de acordar só pra tocar qualquer parte nele, o lado do pé, o ombro.

E ele era grande como um barco, homem-lugar onde ela queria ficar, suspirava pra si mesma, para sempre. Achava que nunca ia cansar (ele tinha medo que ela enjoasse) daquela conversa silenciosa entre as peles deles.

E que nem gata que acorda e se aconchega girando no mesmo lugar, ela fazia no peito dele, como se coubesse inteira, encolhida ali. Ali onde dava vontade de sorrir, e ele vivia perguntando o porquê ela ria, pensando que ela escondia algum segredo, mas nada era secreto no sorriso, era um sorriso de contente de quem acha um lugar que tem um cheiro tão bom que dá vontade de rir.

“Coisa de bicho mesmo isso parece”, pensava ela, quando fazia os bolinhos matutando que ele nem devia achá-la bonita assim, perto das outras mulheres, que ela bem sabia, ele também chamava de gatinhas.

A gata tinha montado sua casinha com fotos e tapetes, almofadas de borboleta e lixeiras de rosa, abtjours e velas. Era um lugar pronto para se chegar, visitar, e quem sabe ficar. O homem-barco atracou ali na casa-da-manta-no-sofá por acaso, veio navegando sem saber a direção, ele diz que perdeu sua bússola numas tempestades por onde passou. Nessas tempestades ele deixou outras coisas também, que ele não sabe direito, mas lhe fazem grande falta.

A gata mudou e trouxe sua casa dentro dela, ela chegou e a casa foi saindo e se ajeitando pelas paredes e pela varanda do lugar novo. Ela sabe que casa não é lugar fora, parede de tijolo, madeira e tinta, mas lugar dentro que se leva aonde se vai.

O homem-barco não trouxe a casa dele dentro, deixou n´outro lugar, ele ainda não sabe (ou tem medo de) ir buscar. A casa dele é que faz falta, porque sem casa-dentro não se tem lugar onde acomodar as visitas quando elas chegam. Mas a gata encontra uma almofada no peito dele, e fica ali, quentinha.

A gata queria falar pra ele que o que ela gostaria, o que ela deseja mesmo é que ele possa ir buscar o coração e trazer pra perto, e assim quem sabe encontrar o caminho pra casa no sorriso dela.



Por Mirabelle


(Post re-postado, original de 10/fev/2010)